As ferrovias brasileiras testam alternativas aos tradicionais dormentes de madeiras, que em um futuro não muito distante poderão ser de difícil acesso. A MRS Logística e a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), que juntas respondem por quase 50% das cargas transportadas no País, já utilizam em suas malhas equipamentos de aço e fazem testes com dormentes de plástico.
A CVRD, que administra três ferrovias, a Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM), Estrada de Ferro de Carajás (EFC) e a Ferrovia Centro-Atlântica (FCA), tem planos de comprar 300 mil dormentes de aço este ano para a troca nos 9,82 mil quilômetros de malha. O gerente geral de via permanente de logística da CVRD, Plínio Tocthetto, explicou que a opção pelo equipamento de aço, além da durabilidade é em função do ganho ambiental com a utilização do material. Pesquisas da companhia indicam que cerca de 535 mil arvores já foram preservadas com o uso de dormentes de aço nas linhas da EFVM e EFC.
“É economicamente viável já que os custos com manutenção são reduzidos em 20% nos dormentes de aço em comparação aos dormentes de madeira”, disse Tochetto. Segundo ele, um equipamento de aço dura em média 40 anos já o de madeira tem durabilidade de cerca de 20 anos. Por ano, a CVRD troca cerca de 1,6 milhões de dormentes em suas ferrovias, um gasto de R$ 200 milhões anuais. “Isso pode se reduzir mais, quando tiver produção em escala”, disse. Segundo o executivo, os dormentes são fornecidos pela empresa Hidremec, que utiliza placas de aço da Gerdau.
POD NOS TRILHOS
- Investimentos, projetos e desafios da CCR na mobilidade urbana
- O projeto de renovação de 560 km de vias da MRS
- Da expansão da Malha Norte às obras na Malha Paulista: os projetos da Rumo no setor ferroviário
- TIC Trens: o sonho começa a virar realidade
- SP nos Trilhos: os projetos ferroviários na carteira do estado
Já os dormentes de plástico, outra aposta da companhia, estão em fase de testes. Tochetto explicou que já existem seis empresas certificadas para a fabricação do equipamento. “A grande vantagem é que se utiliza material reciclado para produzir o dormente. O custo, ainda, não é atrativo, mas em grande escala, acredito que isso deva se inverter”, ressaltou. Hoje, na Vitória a Minas já utiliza 500 dormentes de plástico e, em Carajás, mais 1,2 mil unidades. “A durabilidade é semelhante ao dormente de madeira, mas o ganho ambiental é imenso”.
Testes na MRS – Na MRS Logística os testes com os dormentes de aço estão também avançados. A empresa anunciou a compra de 57 mil equipamentos este ano e a meta é ter em 1/3 da malha, com extensão de 1,7 mil quilômetros, dormentes de aço nos próximos cinco anos. A companhia tem consumo de 274 mil dormentes.
O diretor de engenharia e manutenção da MRS, Luiz Cláudio Torelli, explicou que a empresa realizou testes com o eucalipto e com o concreto, mas não teve sucesso. “Os dormentes de eucalípto não suportam a carga de nossos trens. As trocas eram feitas de três em três anos. Já os de concreto são muito rígidos e danificam as locomotivas e os vagões”, disse o executivo.
Os custos dos dormentes de aço, segundo ele, ainda não são atrativos. “Mas já estão reduzidos se comparado ao que se pagava há três anos”, ressaltou. Um dormente de aço hoje à companhia R$ 250. O de madeira sai por R$ 150. “Mas quando se olha os gastos no dormente instalado essa diferença cai muito. No dormente de aço pagamos cerca de R$ 300, enquanto no de madeira sai instalado por R$ 250”.
O executivo acrescenta que no próximo ano, a companhia deverá adquirir cerca de 100 mil dormentes de aço. “Serão usados na substituição dos de concreto e nas obras de duplicação, que são linhas novas”, disse. A companhia deverá investir cerca de R$ 70 milhões com a compra dos dormentes.
A MRS, assim como a Vale, também testa equipamentos de plástico. “É realmente a grande aposta das ferrovias. A matéria-prima é abundante e os testes mostram que é um produto com durabilidade necessária para grandes densidades. Há trechos em que trafegam trens com até 40 vagões”.
Seja o primeiro a comentar