A SuperVia decidiu demitir por justa causa o maquinista Norival Ribeiro do Nascimento e o operador Édson Assunção Filho, apontados pela empresa como responsáveis pelo acidente que matou oito pessoas e deixou 101 feridas, dia 30, em Austin, Nova Iguaçu. A decisão foi tomada ontem, durante reunião da diretoria da concessionária. Com isso, os dois funcionários não terão direitos a benefícios como aviso prévio, FGTS e multa de 40%.
Ontem, Norival foi avisado da decisão na sede da SuperVia, mas se recusou a assinar a carta de demissão. Ele se mostrou furioso e deixou a empresa sem falar com ninguém. Pouco antes, o maquinista havia realizado exames médicos demissionais. Ele disse que acreditava estar fazendo apenas uma consulta de rotina.
À tarde, funcionários da empresa estiveram na casa de Édson, na Zona Norte, mas não conseguiram fazer o comunicado oficial da demissão. O operador não estava em casa. Desde o dia do acidente os dois estão afastados do trabalho.
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DANOS MORAIS
Para o advogado do maquinista, Leonardo Machado, a SuperVia tentou coagir Norival a assumir a culpa ao tentar fazê-lo assinar a demissão. O advogado ainda considerou arbitrária a decisão da empresa e disse que vai processá-la por danos morais, caso seu cliente seja inocentado na Justiça.
A polícia ainda não concluiu o inquérito que investiga o acidente. “A SuperVia deveria aguardar o fim dessa investigação oficial e a decisão da Justiça para tomar decisões como essa”, argumentou Leonardo Machado.
De acordo com investigação da comissão formada por técnicos da SuperVia, a tragédia de Austin foi provocada por uma seqüência de cinco erros, entre eles a velocidade acima da máxima permitida e o avanço de sinal vermelho, ambos admitidos por Norival em depoimento na 58ª DP (Posse).
Delegado aguarda laudo oficial
O delegado da 58ª DP (Posse), Fábio Pacífico, disse que vai aguardar o laudo do Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE) para indiciar o maquinista, Norival Ribeiro Nascimento, e o operador do Centro de Controle, Edson Assunção Filho, por homicídio culposo e lesão corporal culposa, pelo acidente de trem. “Os depoimentos colhidos até hoje já são suficientes para indiciá-los, mas vou aguardar o laudo técnico”, informou o delegado.
Segundo Pacífico, o laudo apresentado pela SuperVia coincide com os depoimentos. Ele, porém, pretende ouvir ainda um especialista autônomo sobre o ocorrido. “Quero ouvir uma pessoa isenta, que conheça todo o funcionamento, para colocar no inquérito. Acredito que ele poderá ajudar no processo”, afirmou o delegado. O depoimento do supervisor do Centro de Controle, que estava marcado para ontem, foi transferido para a próxima semana, a pedido da SuperVia.
Ontem, o funcionário Walter dos Santos, que estava no último vagão do trem em teste, foi o único a prestar depoimento. “Ele disse que estava de costas e que desmaiou na hora do impacto. Este depoimento não altera a investigação”, explicou Fábio Pacífico.
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