Buenos Aires (RF) – Ainda falta muito para sair o TAV argentino – o Cobra -, a começar pelo resultado das eleições presidenciais de 28 de outubro próximo, onde pode ou não ser eleita Cristina Kirchner, mulher do presidente Nestor Kirchner, que lançou a idéia em maio de 2006. De qualquer forma, as escolhas vão aos poucos sendo feitas: a primeira é que o grupo liderado pela Alstom, Concepto Veloxia, vai mesmo ser o executor do projeto. O grupo é formado pela empreiteira argentina Iecsa, a espanhola Isolux Corsan e pela operadora Empepa.
Segundo o diretor de Política Ferroviária da Argentina Juan Alberto Roccatagliata, resta apenas alguns detalhes para que a obra seja adjudicada. Um desses detalhes é o esquema de financiamento que a Alstom está gestionando junto ao banco francês Société Générale, e que deve cobrir o custo da proposta do grupo – US$ 1.360 bilhão. O projeto, no entanto, deverá custar no mínimo US$ 4 bilhões, acrescentou o diretor.
“A conta é simples: são 5,5 milhões de dólares por quilômetro, considerando o custo da via e dos sistemas. Vezes 700 quilômetros, que é a distância entre Buenos Aires e Córdoba, são 3 bilhões e 850 milhões de dólares. Mais oito ou 10 trens duplex de oito carros a 20 milhões de dólares o trem, você chega aos 4 bilhões”, diz Rocatagliata. Segundo o diretor, o projeto será custeado pelo governo.
Pela Belgrano
O traçado seguirá pela ferrovia General Belgrano, a única ferrovia que o governo não conseguiu concessionar. Até Rosário, distante 304 km, existe plataforma para via dupla, mas a escolha será montar via dupla eletrificada para alta velocidade apenas em dois trechos de 50 km, ficando outros 204 km em via singela. “A explicação do baixo custo do projeto é esta: não haverá desapropriação, nem obras de arte, nem túneis para chegar a Buenos Aires. O trem vai sair da estação de Retiro”, explica o diretor.
De Rosário a Córdoba são mais 400 km em via singela. Foi eliminada a hipótese de usar trens diesel entre Rosário e Córdoba para velocidade média. Do início ao final do trajeto de 700 km a idéia é usar o mesmo trem elétrico com velocidade de 300 km/h. O tempo de viagem será de 1 hora 25 minutos Buenos Aires-Rosario e 1 hora 30 minutos Rosário-Cordoba, com três paradas no primeiro trecho e mais três no segundo. A demanda calculada por Roccatagliata é de 3 milhões de passageiros/ano.
Na exposição que acompanhou o Congresso Panamericano de Estradas de Ferro, a Alstom mostrou uma maquete de seis metros com o Cobra duplex pintado nas cores azul e branco da bandeira argentina. Estes trens tem capacidade para 510 passageiros na configuração de oito carros – contra 380 em um TGV equivalente de um só piso – e são usados com grande sucesso pela SNCF francesa desde 1995.
Tem três carros de primeira classe, quatro de segunda classe e um carro bar onde, no primeiro piso, estão concentrados todos os equipamentos elétricos auxiliares do trem. Para mantê-los dentro do peso por eixo de 17 toneladas admitido pelas linhas de alta velocidade francesa, a Alstom redesenhou todo o trem, que foi por sinal utilizado para o recorde de velocidade de 774,8 km/h de abril passado.
Há dois motivos que levam a acreditar nas chances do projeto. A primeira é que todos aqui — inclusive os opositores — acreditam que Cristina Kirchner sai mesmo presidente em 28 de outubro. E a segunda é que a França e a Argentina estão muito avançadas na renegociação da dívida da segunda para com o Clube de Paris, tendo havido declarações de entendimento dos dois governos. Fontes locais acreditam que o futuro contrato com a Alstom faz parte desse entendimento. Os dois concorrentes da Alstom no TAV, a Siemens alemã e a CAF espanhola não chegaram a apresentar suas propostas no ano passado.
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