O delegado Fábio Pacífico, responsável pela investigação sobre o acidente entre dois trens na Baixada Fluminense, que deixou oito pessoas mortas e 101 feridas na quinta-feira, afirmou ontem que, segundo a perícia feita no local, não houve falha mecânica. Segundo Pacífico, o maquinista Norival Ribeiro do Nascimento, que deve prestar depoimento hoje, não respeitou a regra básica de parar a composição, respeitando o sinal vermelho: — O sinal funcionou. Os peritos constataram, naquela mesma noite, que ele estava vermelho, indicando que o maquinista não poderia seguir.
Pastilhas do sistema de freagem estavam travadas
Segundo o delegado, outros passageiros ratificaram as informações do marceneiro Pedro Paulo da Fonseca, que disse não ter ouvido os freios do trem antes do choque. Pacífico, porém, informou que a perícia preliminar constatou que as pastilhas do sistema de frenagem, acoplado à roda, estavam travadas: — O maquinista pode ter freado já no momento da colisão.Mas só o laudo poderá confirmar isso.
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O delegado disse ainda que, segundo os procedimentos adotados pela SuperVia, o controlador de tráfego que observava o trem também pode ter falhado: — Era dele a responsabilidade de avisar ao maquinista que o trem não poderia continuar em movimento. Ele controla o tráfego e deveria ter alertado que houve avanço de sinal, mas não há registro desse diálogo no centro de operações.
Ontem, na 58aDP (Posse), eram esperados para prestar depoimento o maquinista do trem de teste, Wellington Barros, e o funcionário da SuperVia Walter da Rocha, além de dois supervisores.
— Havia um acordo para que eles prestassem depoimento, mas por algum motivo não vieram.
Agora, vamos intimar os quatro — afirmou o delegado.
Com uma cruz nas costas, na qual lia-se a frase “Com saudades de Jerônimo dos Santos”, o balconista José Joel de Lima, amigo de uma das vítimas, chamou a atenção de quem passava ontem pela estação de Austin, num protesto solitário.
— Temos que nos indignar com o serviço prestado pela SuperVia.
As pessoas saem para trabalhar e não voltam para casa — disse ele, que pôs a cruz no muro ao lado de uma faixa.
Para o balconista, a precariedade do serviço, associada à uma possível falha humana seriam as causas do acidente.
— Tem muro quebrado, trilho enferrujado e uma precariedade de sinalização. O serviço é muito ruim. São vidas sendo transportadas. O ramal dos trens de cargas são mais conservados que os da Central — criticou ele.
Tereza Silva, de 71 anos, prima de um dos mortos no acidente, se emocionou ao ver o protesto. Ela passava pela estação e não conteve as lágrimas.
— Nós, passageiros, somos tratados como lixo. As pessoas morrem e fica tudo por isso mesmo. Há alguns anos, tive que pular de um trem que estava pegando fogo e quebrei a perna. Ninguém me socorreu — reclamou ela.
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