As obras de construção da ferrovia Transnordestina foram paralisadas ontem em conseqüência das chuvas e de uma greve dos prestadores de serviços que culminou com um protesto. Os caçambeiros, (proprietários de caminhões-caçamba) interditaram ontem, às 9 horas, a BR-116, por 50 minutos, em frente ao escritório da Empresa Indústria Técnica S/A (EIT), a quatro quilômetros de Brejo Santo. Os caçambeiros reclamam do atraso no pagamento de seus salários por parte da EIT , empresa responsável pela execução da obra, entre Brejo Santo a Salgueiro. Mais de 80 caçambas suspenderam o carregamento de material.
Os motoristas interditaram a rodovia, colocando caçambas no meio do asfalto. Em menos de meia hora, foi formada uma fila de carros de cerca de cinco quilômetros. A manifestação foi suspensa com a intervenção da Policia Rodoviária Federal (PRF), que intermediou a negociação entre os motoristas e a construtora.
O gestor da obra, Sérgio Rocha, prometeu o pagamento dos meses de fevereiro e março e garantiu que, até o próximo dia 12, quitará o mês de abril. No final da tarde, os motoristas aceitaram a proposta e garantiram voltar ao trabalho hoje.
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O caçambeiro Marcílio Nunes Martins, um dos líderes do movimento, confirmou o acordo e advertiu que “se não foi efetuado o pagamento no dia 12, no dia 13 os trabalhos serão paralisados novamente”.
No escritório regional da EIT não são fornecidas maiores informações. Do lado de fora, o clima é de revolta entre os motoristas. O caçambeiro Carlos Alberto Ramos, conhecido por “Mineirinho”, que participou das negociações com os representantes da EIT, informou que a construtora “não cumpre os compromissos”, afirma.
As criticas são reafirmadas pelo caçambeiro Inácio Cordeiro Neto que defende uma negociação com quatro reivindicações: reajuste do preço, sistema de produção, melhoria do acesso e pagamento em dia. “Na época de chuva, ninguém consegue transitar, o que diminui a produção”, reclamou.
A assessoria de imprensa da EIT preferiu não fazer comentários sobre a insatisfação dos motoristas. A assessora Salete Aguiar forneceu o telefone de Diego Costa que também não quis falar. Ele sugeriu que lhe fosse enviado um e-mail, solicitando oficialmente o posicionamento da construtora.
No final da tarde, depois de manter contato com o gestor Sérgio Rocha em Brejo Santo, Costa confirmou que foi fechado o acordo entre os motoristas e a EIT. Mas não quis se manifestar sobre as acusações feitas contra a construtora.
Os fiscais da Transnordestina Logística, empresa responsável pelo repasse dos recursos para a EIT, que mantém um escritório no mesmo prédio onde funciona o escritório da construtora, em Brejo Santo, também se mantiveram em silêncio sobre o assunto.
Ritmo acelerado
Os operários que trabalham na Transnordestina asseguram que o trecho de 96 quilômetros entre Missão Velha (região do Cariri) e Salgueiro (PE) está praticamente concluído. Já estão prontos 80% da imprimação, que consiste na aplicação de película de material asfáltico sobre a superfície concluída de uma camada de base ou sub-base. Seis frentes de serviços estão trabalhando ao longo da ferrovia.
Depois da imprimação, que deve terminar ainda este semestre, serão colocados a camada de concreto e os trilhos. Antes será construído um túnel, que passará por baixo da estrada Missão Velha – BR-116, na altura da localidade denominada de Café da Linha, município de Abaiara.
Salgueiro-Trindade: obras de trecho estão atrasadas
O trecho entre Salgueiro e Trindade, cuja ordem de serviço foi assinada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em fevereiro, “está mais devagar do que o trem das 11”, diz o motorista Juvenal Carvalho Filho, acrescentando que os caçambeiros também paralisaram. O motivo é o mesmo. Atraso no pagamento, afirmou.
Dos quase dois mil quilômetros previstos no projeto da Ferrovia Transnordestina, que deverá ligar o interior do Nordeste aos portos de Pecém (CE) e Suape (PE), apenas os trechos, Missão Velha-Salgueiro-Trindade, cerca de 250 quilômetros, estão em obras.
A linha, que liga Salgueiro ao Porto de Suape, em Pernambuco, já existe, mas será reconstruída. Isso porque a linha atual é em bitola métrica, ou seja, os trilhos têm um metro de distância um do outro, e as ferrovias modernas são feitas em bitola larga, com 1,6 metros de distância. Esse trecho deve começar a ser construído em outubro próximo, e também ficará pronto só em 2010.
A empresa responsável pela construção da ferrovia é a Transnordestina Logística, que até maio chamava-se Companhia Ferroviária do Nordeste (CFN). A Companhia Siderúrgica Nacional, acionista majoritária da Transnordestina Logística, informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que não vai comentar o andamento das obras na Transnordestina.
De acordo com o projeto, a ferrovia unirá as três pontas mortas do sistema ferroviário do Nordeste – Missão Velha/CE, Salgueiro/PE e Petrolina/PE, alavancando, assim, o desenvolvimento econômico de diversos setores em sua área de abrangência, especialmente o pólo gesseiro do Araripe e o pólo agroindustrial de Petrolina e Juazeiro.
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