A velha estação abandonada, no centro de Aquidauana, é página virada. A crítica do mestre Frazão no enredo carvalesco “Maria Louca”, revelando o precário estado da ferrovia, entra para o acervo da história, como referência de um período de 14 anos, quando apenas o transporte de carga foi mantido. O novo Trem do Pantanal, numa versão que pouco lembra as primeiras locomotivas que apareceram no Brasil, no século XIX, deixa de ser uma mera especulação.
O governador André Puccinelli, que apostou no projeto e garantiu que “se Deus quisesse” o trem voltaria, viabiliza, um sonho acalentado por todos os sul-mato-grossenses. “Deus quis”, lembra um estudioso do assunto, porque André buscou parcerias significativas: o Governo Municipal de Aquidauana, a América Latina Logística (ALL) e a Serra Verde, empresa gestora do empreendimento.
Quando entrar no Trem, nesta sexta feira, depois de descerrar a fita que inaugura oficialmente o mais novo equipamento ferroviário e turístico do país, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva – convidado ilustre da festa que será um “revival” de uma cena histórica de 1912, quando a primeira locomotiva apontou nos trilhos da NOB, sendo aclamada de forma emocionante – pode estar confirmando o início de um novo tempo para a Princesa do Sul, cidade que é a porta de entrada para o celebrado santuário do Pantanal. O primeiro trem, conforme registram os anais, “impulsionou o município”. Este, pode contribuir para uma nova etapa de desenvolvimento.
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É verdade que a versão Express pouco lembra a velha Maria Fumaça, nome dado em função do vapor e fuligem que a locomotiva pioneira expelia pela chaminé. Os vagões são vistosos, com uma decoração que chama a atenção de qualquer um. Tem um Bar “Chic” – como definiu um curioso – , vagão executivo e camarote. Talvez o apito lembre, vagamente, o som estridente que conferiu àquele veículo ferroviário de tempos idos outro apelido: “Maria Louca”. Mesmo assim, será difícil para os antigos moradores da cidade, não voltar no tempo. Aliás, a Serra Verde Express incorpora essa possibilidade como uma de suas premissas comerciais. O Site da empresa observa que seus projetos visam fazer com que os clientes tenham contato com a natureza, se divirtam e tenham despertado o saudosismo, em passeios inesquecíveis.
Em síntese, o ontem e o hoje se unem num momento histórico para Mato Grosso do Sul. Além desta “imersão saudosista” a volta do Trem, como alguns gostam de dizer ou simplesmente o início de Operação do Trem do Pantanal, como observam outros, tem desencadeado um novo ritmo na cidade de Aquidauana. Se a Festa da Farinha, do lado de lá, contagiou o lado de cá, certamente a emoção ganhará sentido oposto, na próxima sexta-feira. Será difícil conter a emoção, que já foi desencadeada no coração de escritores, poetas e cantores, de tempos para cá. Um deles, o prefeito da cidade irmã, Cláudio Valério:
“Sobre os gastos trilhos
Firmados no chão batido
Lá vem ele a deslizar.
Seu ritmo binário
Anima um cenário
De belezas sem par.
Diversidade de cores,
De tuiuiús e beija-flores,
Colore-se o ar.
Na terra, os bichos!
Do capão ao corixo,
Vê-se a vida a brotar.
Desejo de união…
Ocidente-Japão.
É preciso sonhar!
Água e céu!
O pantanal do mundéu!
Corumbá-Montevidéu,
Buenos Aires-Assunçao..
Fim de estação!
É preciso parar.
Ipês multicores,
Falcões, desamores…
Lembranças recônditas,
Daquela criança,
Que não quer acordar.
Locomotiva fumando,
Apitos alertando,
Que o trem vai passar!
E entre espanto e saudade,
Vai transportando uma idade,
Que sempre insiste em ficar.”
O espanto e a saudade, certamente estarão entre as emoções desta sexta-feira. O espanto talvez dos que não acreditaram que o Trem do Pantanal seria uma realidade. A saudade daqueles que viveram, por muitos anos, a emoção de viajar de trem ou de simplesmente ver a locomotiva passar, com os apitos alertando, que o trem iria passar.
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