Depois de anunciar uma redução do preço do minério de ferro com as siderúrgicas japonesas e coreanas, preservando o sistema benchmark, de preço de referência para o produto, a Vale prepara-se para enfrentar o desafio de fechar um acordo com as usinas chinesas até o fim do mês. A China tem alto poder de barganha frente as grandes mineradoras pois está praticamente sozinha no mercado, o que aumenta a possibilidade de optar por um sistema de preço livre, rechaçando um acordo de benchmark com suas fornecedoras, avaliam fontes do setor de mineração.
Rodrigo Ferraz, analista da Brascan Corretora, discorda deste raciocínio e prevê que o reajuste obtido pela Vale, depois do acordo fechado pela australiana Rio Tinto, coloca mais pressão sobre as negociações com os chineses, que a seu ver perdem força no seu pleito de reduções entre 40% e 50%.
Os reajustes negociados pela Vale com a Nippon Steel, Sumitomo, Kobe Steel, Nisshin Steel e Posco foram de reduções da ordem de 28,2% para o minério do tipo fino, 44,47% para o granulado e 48,3% para pelotas de alto forno ante 2008. O percentual de queda do minério fino, o mais negociado pela brasileira, ficou abaixo dos 33% da australiana Rio Tinto. A Vale fez um belo acordo, considerando os sinais do mercado e ainda preservou o benchmark, avaliou um executivo do setor siderúrgico que não quis ser citado. Um executivo de uma mineradora disse que já era esperado que o desconto do fino fosse menor que o das australianas. A Vale ficou em desvantagem na negociação de 2008, quando numa segunda rodada BHP Bilton e Rio Tinto tiveram um aumento maior para seu minério.
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Os novos valores são retroativos a 1º de abril. O preço da tonelada FOB do tipo fino ficará na faixa de US$ 56 a US$ 58 para o sistema Sudeste e Carajás, respectivamente, ante US$ 87,30 e US$ 91,30 em 2008. Ainda em relação ao ano passado, a tonelada do granulado (da MBR) caiu para algo em torno de US$ 70 ante US$ 128,25, enquanto o preço da tonelada da pelota de alto forno cai para US$ 74 ante US$ 143. Os novos preços retornaram praticamente aos patamares de 2007.
Ferraz, da Brascan, alerta para as compensações que a Vale terá de fazer à seus clientes, já que durante o primeiro trimestre vendeu 28,8 milhões de toneladas de minério a um preço provisório correspondente a 80% do benchmark de 2008. Como o reajuste reduziu o preço efetivo em relação ao pago provisoriamente pelos clientes, a diferença terá de ser compensada nos próximos trimestres.
Além da queda de braço com chineses, a Vale tem de fazer acordo com os europeus. A chance dessas usinas (europeias) fecharem algum acordo com a Vale, diferente dos asiáticos, é zero, afirmaram interlocutores próximos de siderúrgicas europeias ouvidos pelo Valor. O mercado siderúrgico da Europa, grande cliente da Vale, está praticamente paralisado pela crise. Só a ArcelorMittal tem 19 alto fornos fechados na região e cortou a produção de 103 milhões de toneladas em 2008 para 60 milhões este ano.
Apesar da redução do preço do minério da Vale impactar negativamente a balança comercial brasileira (até abril ela exportou 60 milhões de toneladas), a redução de 28,2% terá influência favorável na inflação. Segundo a consultoria Rosenberg, a queda representará menos 0,58 pontos percentuais no índice de preços no atacado (IPA) da FGV, resultando numa variação de menos 0,35 pp no IGP.
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