Desde que o prefeito Michael Bloomberg fechou trechos inteiros da Broadway para o tráfego de veículos, entre a Times Square e a Herald Square, o coração de Manhattan começou a bater num compasso diferente.
Em dias de sol, as áreas fechadas ficam apinhadas de cadeiras de praia, gratuitamente distribuídas pela Times Square Alliance (uma ONG de comerciantes locais), com centenas de pessoas bronzeando-se num grande calçadão. Mais do que isto: turistas passeiam entre camelôs e espetáculos de rua, organizados para divertir a garotada enquanto os pais compram uma coisa e outra.
— Isto aqui está uma beleza, para tomar um sol, para ver o movimento e até para paquerar — dizem Charles Horst e David Farrell, dois nova-iorquinos que aproveitam a hora do almoço para relaxar na esquina mais famosa da cidade.
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O sucesso tem sido tão grande que, claro, abriu os olhos da prefeitura. Espaços para comércio de rua estão agora sendo vendidos pela municipalidade.
Isto mesmo: empresas privadas estão pagando taxas — a mais alta de US$ 38.500 por dia — para comercializarem produtos e fazerem propaganda nos espaços abertos na área.
A prefeitura anda faturando também com a promoção de eventos. A Bravo realizou um concurso culinário para promover o programa “Top Chef”. A última edição do Tony Awards teve direito a um red carpet especial, com estrelas da Broadway desfilando na própria avenida. As permissões especiais de eventos vendidas pela prefeitura incluem até aulas de capoeira, em meio a um festival de jogos de rua (os capoeiristas pagam US$ 100 por hora de aula).
— Com uma promoção aqui e outra ali, a Broadway está rendendo um bom dinheiro para os cofres públicos, o que é reconfortante, sobretudo em tempos de queda de arrecadação por causa da crise financeira em Wall Street — confessa Evelyn Erskine, assistente do prefeito Michael Bloomberg.
É claro que agora o prefeito anda com planos de estender a outras partes da cidade seu projeto de fazer “ilhas de pedestres”, com o devido anexo das licenças especiais de comércio. Também o trecho entre as ruas 22 e 25, onde a Broadway encontra a Quinta Avenida, virou “Flatiron Plaza”, em homenagem ao famoso edifício de esquina no local, e tornou-se mais um ponto lucrativo para os cofres municipais. Assim, Bloomberg vai contornando a crise e faturando um extra no verão.
Nos estacionamentos, a feliz hora do fim do dia de trabalho
Como atrair a atenção de espectadores numa cidade que tem dezenas de atrações gratuitas, com espetáculos patrocinados pela prefeitura? Como conseguir um lugar ao sol para sobreviver a uma economia em tempos de recessão? A Nova York de 2009 encontrou uma resposta onde menos esperava: nos estacionamentos. Os raros espaços da cidade que são reservados aos estacionamentos agora abrigam shows de música, com o apoio de comerciantes locais. Foi o que aconteceu com o músico William Elliot Whitmore, que apresentou num estacionamento da Spring Street, no Soho, canções de rock rural, bem ao estilo de seu estado de origem, Iowa, na região central dos EUA. Tudo com o patrocínio da City Winery, uma loja de vinhos.
— Vim aqui apresentar as canções que fiz para gravar meu CD, “Animals in the dark”. Eu venho de Iowa e, quando peguei o taxi para vir até aqui, o motorista me perguntou: “Iowa? Onde fica isto?” — diverte-se Whitmore, tentando conquistar o público para vender o CD que havia gravado sem selo de gravadora, por encomenda própria.
Os “parking shows” acontecem sempre por volta das 19h, e servem como “happy hours” para quem está acabando o expediente.
Mas em vez de atuarem num bar ou numa casa de espetáculos, os artistas improvisam palcos num canto do estacionamento e apresentam-se de graça, em troca da divulgação do trabalho e da venda improvisada de CDs, a um público que vê o show cantando, dançando e circulando entre barraquinhas que vendem bebidas alcoólicas, aperitivos e espigas de milho aquecidas em churrasqueiras armadas ao ar livre. Os parking shows são a mais nova mania do verão de Nova York de 2009.
— Os parking shows servem aos artistas para driblar o aluguel das casas de espetáculos e ampliar a opção do público para além da seleção feita pelos patrocínios da prefeitura. E servem também para o comércio melhorar suas vendas em tempos de crise e de consumidores cada vez mais ariscos — avalia Whitmore.
Jardins suspensos rumo à diversão e ao consumo
O Meatpacking District, região portuária repleta de danceterias e griffes de moda em Manhattan, ganhou um jardim suspenso neste verão. Trata-se do High Line Park, um passeio público em forma de passarela, unindo o topo de vários edifícios no West Side, entre as ruas 11 e 18. A área verde suspensa tem cerca de 2.500 metros de extensão e oferece ao público espreguiçadeiras para tomar sol e relaxar. O projeto arquitetônico, financiado pela prefeitura de Nova York para revitalizar a área, leva a assinatura dos escritórios de arquitetura James Corner Field Operations e Diller Scofidio + Renfro, este último também responsável pela reforma de um dos prédios do Lincoln Center, no aniversário de 50 anos da Julliard School of Music (que faz parte do complexo do Lincoln Center).
O High Line Park original data dos anos 1930 e foi concebido como uma linha suspensa de tráfego ferroviário, específica para trens de carga que ajudavam no desembarque de mercadorias no porto.
Com a desativação das docas, a linha estava abandonada há pelo menos dez anos. Agora, toda a região passou a ser um atrativo para turistas, pela combinação de lazer, vida noturna agitada em bares e danceterias, e de moda, com dezenas de lojas de griffe concentradas em três ou quatro quarteirões.
A decisão da prefeitura de reativar e reformar o High Line Park como um grande calçadão suspenso, com direito à vista do Rio Hudson, faz parte de um projeto maior de recuperar todas as áreas fronteiriças com as margens dos rios East e Hudson, para fazer com que a Ilha de Manhattan aumente suas áreas verdes dedicadas ao lazer. A High Line Park fica aberta diariamente entre 7h e 22h, com forte policiamento. O projeto completo é estender a High Line Park da Rua 11 até a Rua 34 e, por isso, apenas uma parte da obra está completa.
— Este é o Novo Central Park de Nova York, desta vez com vista para o Rio Hudson. Foi uma ótima ideia do prefeito. Por estas e por outras é que todo mundo anda dizendo que Bloomberg está no rumo certo para a reeleição… — avalia Kathy Irens, que foi com sua amiga Debbie Jones ver o pôr do sol na High Line e twittar com vista para o rio.
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