O presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Luis Alberto Moreno, estabeleceu como prioridade no seu segundo mandato, para o qual acaba de ser eleito, firmar parcerias com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) em duas novas frentes: o financiamento de obras de integracão física da América do Sul e o apoio à construção da infraestrutura da Copa do Mundo e das Olimpíadas.
A nova orientação foi fechada em conversa de Moreno, há algumas semanas, com o presidente Lula, que pediu prioridade do BID para a construção de estradas, ferrovias e hidrovias ligando o Brasil aos seus vizinhos. Nessa semana, o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, estará em Washington para falar com Moreno sobre esses e outros pontos de interesse comum.
Atualmente, a operação conjunta entre o BID e o BNDES, que é o maior cliente individual do organismo multilateral, restringe-se basicamente ao financiamento de micro, pequenas e médias empresas. O BID acaba de receber um reforço de capital de US$ 70 bilhões e tem fôlego para conceder cerca de US$ 12 bilhões anuais de financiamentos, dos quais cerca de 25% devem ser dirigidos ao Brasil.
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Em entrevista ao Valor, Moreno cita um exemplo bem concreto de possível parceria: a finalização de uma rodovia ligando o Estado de Roraima à Guiana, num projeto estimado em US$ 150 milhoes. A Guiana é um dos países mais pobres do continente e, nessa condição, teria acesso a financiamentos com prazo e juros privilegiados dentro do BID.
Um dos problemas, porém, é que a Guiana tem baixa capacidade para contrair endividamento. Assim, o BNDES entraria financiando as construtoras brasileiras que tocariam a obra. “O Brasil tem algumas das construtoras mais eficientes do mundo”, afirma Moreno.
Há muitos obstáculos a serem vencidos para levar o projeto adiante, reconhece o BID. Um deles é assegurar que a estrada seja economicamente viável e capaz de gerar receita que sirva de garantia ao empréstimo. “O desafio ambiental também é bastante importante, e não dá para ignorar que houve conflitos envolvendo garimpeiros na região”, observa Kurt Focke, chefe da divisão de mercados de capitais do BID.
Se bem sucedida, essa parceria entre o BNDES e o BID poderá ser replicada em outros projetos de infraestrutura ligando o Brasil a outros países. Há alguns anos, o BID elegeu uma carteira de 510 projetos prioritários, num investimento estimado em US$ 74,5 bilhões, na chamada Iniciativa para a Integração da Infra-estrutura Regional Sul-Americana (IIRSA). “Estamos avaliando outros projetos que, potencialmente, podem ser tocados por meio de parcerias com o BNDES”, afirma Jose Luis Lupo, diretor do escritório do BID no Brasil.
Hoje, já há alguns projetos bancados pelos dois bancos, porém sem a coordenação entre as duas partes, informa o BNDES. É o caso, por exemplo, do gasoduto de Camisea, no Peru, obra financiada pelo BID e que conta com uma linha de empréstimo do BNDES para a construtora Odebrecht, que toca as obras.
“O BNDES fez um movimento recente de internacionalização, com a abertura de unidades em Londres e no Uruguai”, afirma Jaime Mano, representante do BID baseado em Brasília. “Isso poderá ajudar muito no financiamento de obras de integração regional.”
Na agenda oficial, Coutinho vem a Washington para tratar de uma linha de financiamento de US$ 3 bilhões do BID ao BNDES, com uma tranche inicial de US$ 1 bilhão, destinada ao financiamento de micro, pequenas e médias empresas. Ao longo dos últimos 12 anos, o BID emprestou US$ 6,5 bilhões ao BNDES, o que faz do banco brasileiro o maior cliente do organismo, excluindo governos soberanos. Parte dos empréstimos já foi amortizada e, hoje, a exposição do BID ao BNDES é de cerca de US$ 4 bilhões.
O Ministério do Planejamento indicou ao BID que umas das prioridade do país são as obras de infraestrutura para a Copa de 2014 no Brasil e as Olimpíadas no Rio em 2016.
Ao que tudo indica, o BNDES será o principal financiador desses projetos. O BID espera fechar parcerias com o banco oficial pra financiar obras de transportes, desenvolvimento urbano, saneamento e segurança nas 12 cidades que serão sede na Copa. “Todos queremos estar no Brasil em 2014”, afirma Moreno. “É o retorno da Copa do Mundo à América Latina.”
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