Maquinista é mão de obra rara

Além dos gargalos de infraestrutura, a mão de obra também tem aparecido como um entrave para suportar o crescimento previsto para o Brasil, que é de 7%. E uma profissão que tem feito falta no mercado de trabalho é a de maquinista de trem, pois não existe um curso especializado para a formação desse profissional. Há composições paradas nos pátios das ferroviários por falta de quem as operem. Com isso, o escoamento de várias produções tem atraso. Nos últimos dez anos, a demanda pelo transporte ferroviário cresceu 54%.


A saída encontrada por algumas empresas é formar sua própria mão de obra. É o caso da MRS Logística e da Ferrovia Centro Atlântica (FCA), da Vale, que montam cursos para formar o seus maquinistas. Para este ano, a MRS Logística, que já contratou 150 pessoas para o cargo de maquinista, vai contratar outros 300 no segundo semestre. “A empresa está investindo cerca de R$ 6 milhões para capacitar esses profissionais”, explica a gerente corporativa de desenvolvimento de recursos humanos, Laura Maria Pontual.


Segundo ela, as vagas serão abertas para Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, sendo que a maioria delas para Minas. “O aumento da produção em vários setores após a crise aumentou a demanda pelo transporte ferroviário”, observa. Para concorrer ao cargo é preciso ter mais 18 anos, 2° grau completo e passar por prova de matemática, português e avaliação psicológica.


Laura acredita que nos próximos cinco anos, a MRS Logística deverá dobrar o seu transporte de cargas.


De acordo com o diretor de operações da FCA, Rodrigo Ruggiero, na falta de centros de formação específicos, o maquinista não fica disponível no mercado. “Como eles se formam em cursos realizados pelas empresas que os contratam, acabam trabalhando nelas mesmas”, observa Ruggiero.


A FCA oferece curso para maquinistas há cinco anos. “Fazemos de maneira estruturada com trabalhos práticos e teóricos. O curso demora cerca de um ano”, explica Ruggiero. Conforme afirma, a FCA possui mil maquinistas contratados e outros 186 que estão em fase de treinamento para adquirirem a certificação.


Um outro fator apontado por Ruggiero é que devido a velocidade em que a tecnologia está mudando, também tem sido necessários cursos para a reciclagem dos maquinistas.


Situação tende a piorar no país


Se já está difícil encontrar maquinistas hoje, a situação tende a piorar com o aumento do uso das ferrovias para escoar cargas. De acordo com a operadora ferroviária MRS Logística, que atua em Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, nos últimos dez anos, a carga movimentada pelas empresas na malha ferroviária brasileira aumentou 54%.


O próprio país tem como meta investir ainda mais nesse meio de transporte. Tanto que o Programa de Aceleração de Crescimento (PAC) projeta investimentos até 2020 para aumentar a malha ferroviária brasileira dos atuais 28 mil quilômetros para 40 mil quilômetros. Fato esse que aumenta ainda mais a demanda por maquinistas.


Em Minas Gerais, onde o modal ferroviário é usado com intensidade pelo setor minero-siderúrgico, recentemente ele ganhou espaço para o transporte de grãos sobre trilhos, o que pede mais investimentos na área. “Hoje, além da soja, temos também uma enorme demanda para o transporte de açúcar”, observa o diretor de operações da Ferrovia Centro Atlântica, Rodrigo Ruggiero.


E para atender esse crescimento, a FCA possui um programa que pretende buscar o desenvolvimento agrícola sustentável da região Noroeste de Minas Gerais. Denominado de Pró-Noroeste, tem como finalidade melhorar as condições de competitividade além da produção como também de logística. Para isso, foram recuperados 150 km de ferrovia entre Corinto e Pirapora.


“A região possui um grande potencial para o plantio de grãos e é necessário uma logística para o seu escoamento”, reforça o diretor da FCA, que acredita que atualmente não tem como se pensar em desenvolvimento de um país sem que ele tenha uma malha ferroviária funcional.


Empresas comprarão os próprios trens


A demanda pelo modal ferroviário está crescendo tanto que já tem siderúrgicas pensando em comprar os próprios trens para escoar a produção. A Arcelor Mittal pretende investir – junto com as empresas pequenas como Minerita e JMN – cerca de US$ 50 milhões na compra de trens e na instalação de terminais na região de Serra Azul, região Norte de Minas Gerais.


O plano é comprar quatro trens com 132 vagões, além de investir na construção de dois terminais ferroviários, em Brumadinho e Sarzedo, região metropolitana de Belo Horizonte.


O objetivo é operar suas próprias composições e pagar à MRS, que detém a concessão da ferrovia que liga Minas ao Porto de Itaguaí, no Rio de Janeiro, apenas o valor referente ao direito de passagem nos trilhos, uma espécie de pedágio. Hoje, as empresas têm de pagar o frete integral e se queixam de que o valor pago à MRS é o dobro do que a concessionária cobra de seus sócios, entre eles Usiminas, Vale e CSN.


Segundo o ex-presidente da Arcelor Mittal Serra Azul e consultor para assuntos logísticos da empresa, José Francisco Viveiros, as composições poderão ser encomendadas tanto no Brasil como no exterior, já em 2011. Para colocar o projeto em prática, as empresas terão que esperar o decreto do novo marco regulatório do setor ferroviário.

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