O Brasil carece de novas fontes de recursos para financiar o ritmo acelerado de investimentos na sua infraestrutura básica, como rodovias, portos, aeroportos, habitação e obras de mobilidade urbana. E os fundos de investimentos podem ter um papel importante no sentido de alongamento dos prazos, avaliam empresários do setor financeiro e dirigentes de instituições do mercado de capitais.
Entretanto, antes de tudo, é preciso remover entraves macroeconômicos, como juros altos e pesada carga tributária, além de conceder mais incentivos fiscais, especialmente para atrair o investidor estrangeiro. “A ideia é focar na criação de novos incentivos para desenvolver uma indústria de fundos de renda fixa que financie a transformação da infraestrutura brasileira”, defende Joaquim Vieira Levy, diretor da Bradesco Asset Management, uma das maiores administradoras de recursos de terceiros do país. “É importante que os fundos deixem de ser discriminados tributariamente. Medidas isonômicas ajudarão o mercado de longo prazo decolar”, resume ele.
O desafio para o desenvolvimento econômico e social do país é monumental, na visão dos executivos reunidos no painel “Desenvolvimento do mercado de longo prazo – visão da indústria de fundos de investimento”, durante o 6º Congresso Anbima de Fundos de Investimento.
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Segundo Levy, a agenda de investimento do governo federal, por exemplo, prevê a aplicação de R$ 1 trilhão nos vários canteiros de obras que estão sendo erguidos no território nacional, além de todo o investimento privado autônomo. Entre os projetos de investimentos selecionados pelo governo, de acordo com levantamento apresentado pelo diretor da Bradesco, estão o pré-sal (US$ 240 bilhões só da Petrobras), Hidrelétrica de Belo Monte (R$ 20 bilhões), usinas nucleares (R$ 20 bilhões), estradas (R$ 50 bilhões já em pré-licitação), ferrovias, incluindo o trem-bala (R$ 50 bilhões), aeroportos (R$ 30 bilhões) e portos (R$ 20 bilhões, para construção e dragagem).
“Como certamente a poupança doméstica será insuficiente para atender toda essa demanda, os títulos de crédito privado terão papel insubstituível no financiamento do investimento nos próximos anos”, afirma Levy. “Mas é essencial a concessão de novas vantagens fiscais e tributárias para que esse novo mercado de longo prazo se expanda rapidamente”, diz ele.
Para Luis Stuhlberger, diretor da Credit Suisse Hedging-Grifo Asset Management, as altas taxas de juros e a elevada carga tributária são barreiras que devem ser rapidamente superadas para a indústria de fundos de investimento crescer e aumentar a parcela do capital investido em renda variável. “A carga tributária do Brasil é 10% maior do que a média dos países emergentes. E o mais grave: os impostos são consumidos, não investidos. O investimento público soma apenas 2,4% do PIB. Ou seja, de cada R$ 100 arrecadados, apenas R$ 7 são investidos”, destaca.
No entanto, segundo Stuhlberger, o ambiente hoje é favorável ao crescimento. Há uma melhora expressiva de preços de commodities. O déficit em conta corrente é hoje bem menor que no passado. E, de acordo com classificação dos fundos feita pela Anbima, os fundos de renda fixa já representam 75% do patrimônio líquido total dos fundos de investimento no Brasil. Já os fundos de participação em ações respondem por 14%, mesmo apresentando rendimento de 4 a 5% pontos percentuais, acima do Índice Bovespa. “Um dos maiores entraves à expansão é a cultura de indexação dos títulos ao CDI, que continua sendo atrativa para os investidores por conta da segurança, rentabilidade e liquidez que oferece”, explica.
Mesmo assim, as perspectivas são propícias ao crescimento. Na avaliação de Pedro Bastos, diretor da Anbima e do HSBC Asset Management, o Brasil precisa aproveitar as oportunidades de investimento que estão se apresentando. “É preciso trabalhar com um senso de urgência na regulamentação de alguns setores da infraestrutura, como a concessão de operar os aeroportos nacionais”, sustenta.
A decisão do BNDES de participar com medidas de estímulo ao desenvolvimento dos fundos de renda fixa de longo prazo está alinhada com um certo otimismo do mercado, segundo agentes do setor. “Estamos prontos para contribuir com o debate e a estruturação desse novo mercado”, disse Thiago Pereira, chefe do departamento de operações de renda fixa do banco.
Segundo ele, já há esforços para a construção de uma agenda positiva em torno do projeto. Para o executivo do BNDES, o novo mercado de renda fixa, cujo projeto foi apresentado durante o congresso pelo presidente da entidade, Marcelo Giufrida, tem ideias convergentes com a filosofia do banco, como ofertas com prazos superiores a seis anos e adesão a indexadores, como o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
“Vislumbramos um esforço conjunto para aprimorar o movimento visando complementar as ações estratégicas do banco com vistas a diversificar a sua base de investimentos”, afirma Pereira.
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