Os principais doadores de campanha do PR, partido que controla o Ministério dos Transportes, receberam ano passado R$ 986,2 milhões de órgãos vinculados à pasta chefiada pelo ministro Alfredo Nascimento: o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e a Valec, estatal que cuida das ferrovias.
Essa é a maior fatia das verbas que três empreiteiras receberam do governo federal. Juntas, Queiroz Galvão, Sanches Tripoloni e Andrade Gutierrez abasteceram os cofres do PR com quase R$ 6 milhões em 2010. As três empreiteiras figuram em acórdãos do Tribunal de Contas da União (TCU) como beneficiárias em obras gerenciadas pelos dois órgãos, suspeitas de sobrepreço, superfaturamento e outras irregularidades.
Uma das executoras da Ferrovia Norte-Sul, alvo de investigação do TCU e da Polícia Federal, a Queiroz Galvão doou R$ 2 milhões ao PR. Em 2009, recebeu do governo R$ 415,09 milhões, dos quais R$ 348,1 milhões do Dnit e R$ 52,5 milhões da Valec. A dinâmica foi a mesma em 2010 (R$ 258,3 milhões, de um total de R$ 294,9 milhões); este ano, até ontem, obteve R$ 84,4 milhões desses órgãos, de um total de R$ 85,9 milhões recebidos do governo federal.
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A Sanches Tripoloni, que contribuiu com R$ 2 milhões para o PR, recebeu do Dnit tudo o que faturou da União desde 2009: R$ 468,14 milhões. A empresa integra o consórcio que constrói o Contorno Norte de Maringá, na qual o TCU apontou sobrepreço de R$ 9,9 milhões. Em novembro de 2010, o TCU bloqueou, preventivamente, R$ 2,5 milhões do empreendimento.
A Andrade Gutierrez, que repassou mais R$ 1,7 milhão ao PR, recebeu R$ 679,95 milhões do governo desde 2009, 83% do Dnit e da Valec. A empresa também é alvo de auditorias do TCU que apontam sobrepreço em obras, como o Arco Metropolitano do Rio. Num acórdão de maio, o órgão determinou que sejam devolvidos R$ 1,2 milhão, relativo a superfaturamento na construção de um trecho rodoviário entre Mato Grosso e Pará. A Queiroz Galvão terá de pagar R$ 1,3 milhão.
A Queiroz Galvão negou que exista relação entre os contratos firmados com Dnit e Valec e as doações. “Todos os contratos da empresa estão dentro da legalidade e foram firmados a partir de licitações públicas, por atenderem critérios de menor preço, competências técnicas e documentais”, afirmou.
A Andrade Gutierrez não se pronunciou. O GLOBO deixou recado na sede da Sanches Tripoloni e no telefone de um de seus diretores, mas não obteve retorno.
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