A T’Trans, fabricante de trens e sistemas para a indústria ferroviária, vive um momento de virada. Há quatro anos sob o controle de um único dono, Massimo Giavina, a empresa finalizou ou está em fase final de fechamento de quatro contratos de parceria com companhias estrangeiras. Elas serão peça chave na estratégia do empresário para elevar a receita da T’Trans de R$ 70 milhões, em 2010, para R$ 400 milhões, em 2012.
Hoje, a T’Trans fabrica e vende equipamentos para a eletrificação de linhas ferroviárias, como subestações primárias e redes de média e baixa tensão; sistemas de bilhetagem eletrônica e telecomunicações para estações, lista que inclui catracas e circuitos fechados de TV; e sistemas de sinalização e controle, que vão de centros de controle operacional à sinalização de vias. Também fabrica, reforma e moderniza trens e VLTs.
Com as novas parcerias, porém, terá tecnologia para competir por projetos de VLT de grande porte, ao lado de Bombardier, Siemens e Alstom; de portas de vidro automáticas para estações de metrô e trens; ampliará o portfólio na área de sinalização e garantirá demanda na área de serviços e produção de trens urbanos, diz Giavina.
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O nome de pelo menos uma das companhias que estão se associando à T’Trans é conhecido. Trata-se da estatal chinesa CNR, que em2009 vendeu 34 trens de quatro carros ao governo do Rio de Janeiro, para uso pela Supervia, e é cotada entre as favoritas para levar uma encomenda de mais 90 trens, que a mesma companhia planeja comprar com financiamento do Banco Mundial e da Odebrecht Transportes, sua controladora. A CNR também tem como cliente o Metrô do Rio, que adquiriu no mesmo ano 19 trens de seis carros. Os dois contratos renderam cerca de US$ 270 milhões.
Segundo Giavina, a parceria com os chineses é específica para a licitação dos 90 novos trens que deverão ser comprados pela Supervia. Caso os chineses vençam a disputa, a T’Trans ficará
encarregada de prestar assistência técnica aos trens e produzir pelo menos 30% dos carros, afirma o empresário.
O percentual representa cerca de cem carros, de um contrato de 360. Tomando por base o
valor médio pago para cada carro nas licitações anteriores, de pouco mais de US$ 1milhão, este contrato sozinho tem potencial para garantir à T’Trans receita de US$ 100 milhões.
Giavina não fala o nome das outras empresas com as quais acaba de fechar ou está por fechar
parcerias. Limita-se a dizer que a fabricante de VLTs é alemã, que a de portas de vidro tem origem na suíça e que a de sinalização “é a maior do mundo” na área. Mas, pelas descrições, fontes do mercado estimam quais podem ser essas empresas.
Em VLTs, uma das possibilidades é a Vossloh, fabricante alemã de locomotivas, trens regionais e híbridos que funcionam como VLTs, que já tem escritório no Brasil, mas ainda não entrou efetivamente no mercado. Procurada, a Vossloh não retornou às ligações da reportagem para confirmar a informação. No segmento de portas de vidro para estações, uma das apostas do mercado é a Stadler. E, no de sinalização, a Ansaldo STS.
Mesmo que nenhuma das parcerias dê o resultado esperado, ainda assim Giavina diz que a T’Trans tem boas perspectivas pela frente. Os contratos que estão na casa, segundo ele, são suficientes para elevar o faturamento no ano que vem em pelo menos 20%. E garantem casa
cheia pelos próximos quatro anos. A lista inclui a fabricação e montagem do Aeromóvel de
Porto Alegre (RS) e a colocação ar condicionado em 30 composições da Supervia.
Empresas
Nesta semana, a T’Trans iniciou a construção de um novo prédio em sua unidade na cidade de Três Rios, no Rio de Janeiro. É nos três andares do edifício, com área construída de 3 mil metros quadrados, que a T’Trans vai abrigar as equipes técnicas das empresas com as quais está fechando parceria – a previsão é de que esteja pronto em cerca de quatro meses.
Orçada em cerca de R$ 4 milhões, a obra faz parte de um pacote maior, de R$ 10 milhões, programado para este ano. Ele inclui ainda a construção de um galpão com 5 mil metros quadrados de área construída; uma fábrica de compostos de fibra de vidro, onde serão produzidas carenagens e interiores de trens; uma cabine de jateamento e pintura; uma cabine para testes de vedação dos trens; uma pista de testes com 1,6 mil metros de trilhos eletrificados; e o projeto de um VLT elétrico de pequeno porte, que será oferecido a cidades brasileiras de pequeno porte, com populações de aproximadamente 100 mil habitantes.
O projeto do VLT elétrico de pequeno porte, em particular, é visto como promissor. Segundo
Massimo Giavina, presidente da T’Trans, hoje não há concorrentes neste segmento de mercado. Alstom, Bombardier e Siemens, os principais fabricantes deste tipo de produto no mundo, tem VLTs, mas com capacidades maiores que a projetada pela T’Trans para o novo modelo, que carregará aproximadamente 80 pessoas por carro.
Ele concorreria diretamente com outra fabricante nacional que vem conseguindo bons negócios no setor,em especial no Nordeste do país – a Bom Sinal. A diferença é que os VLTs da concorrente brasileira são a diesel.
Segundo Giavina, parte do projeto já foi desenvolvido para que a empresa pudesse restaurar 4 bondes da Cia. Estadual de Energia e Transportes e Logística (Central), do Rio de Janeiro, que
rodamemSanta Teresa. Mas ainda deverão ser consumidos entre R$ 1,5 milhão e R$ 2 milhões no desenvolvimento em formas e modelagem. “Já estamos negociando com alguns municípios
pequenos”, diz.
Perfil
Fundada em 1997, a T’Trans passou nos seus primeiros dez anos por momentos de instabilidade causados por mudanças constantes de controle. O atual proprietário, Massimo Giavina-Bianchi, começou o negócio com a Pem Engenharia, e depois teve outros sócios. A partir de meados de 2007, porém, assumiu sozinho o controle da empresa e passou a imprimir seu estilo de gestão.
Veterano do setor, com passagem pela área de transportes da Alstom no Brasil, o empreendedor só investe com capital próprio e começa agora a buscar a diversificação da produção através de parcerias com companhias internacionais interessadas em atuar no Brasil. Hoje, tem fábricas em Três Rios, no Rio de Janeiro, e em São Paulo, onde está a parte de eletrônica e sistemas.
Negócios da companhia
Ao todo, empresa desembolsará R$ 10 milhões e inclui ainda conclusão de projeto de VLT
elétrico para cidades de pequeno porte. Ainda que atinja a meta de receita de R$ 600 milhões, projetada para 2015, diz que não pretende fazer um IPO da T’Trans. Avalia que a preparação para o lançamento de ações em bolsa dispersaria esforços hoje concentrados na expansão da empresa. Mas vê como bem-vinda a aproximação de empresas de private-equity dispostas a adquirir participação minoritária. “Não abro mão do controle”, afirma Giavina.
Números
Licitação – 90 trens é o total que deve ser licitado pela Supervia com financiamento do Banco Mundial e da Odebrecht, controladora da Supervias.
Participação brasileira – 30% dos 360 carros que deverão ser fabricados para a Supervia, devem ficar sob responsabilidade da T’Trans se a chinesa CNR ganhar o contrato.
Negócio fechado – US$ 270 milhões é quanto renderam dois contratos da chinesa CNR para fornecer 53 trens para o Rio de Janeiro.
No caixa – US$ 100 mi é quanto a T’Trans poderá receber pela produção dos trens considerando o preço médio das últimas licitações.