Editorial: Metrô e ônibus

Com muito realismo e em termos claros, o secretário estadual de Transporte Metropolitanos, Jurandir Fernandes, chamou a atenção para um ponto fundamental do problema do transporte coletivo da Grande São Paulo, com destaque para a capital: não se pode apostar apenas no metrô, porque a solução depende também da melhoria do serviço de ônibus, que cabe aos municípios. A ênfase excessiva no metrô – ele poderia ter acrescentado – tem sido na prática uma forma de os prefeitos da região fugirem de, pelo menos, uma parcela da responsabilidade que lhes cabe nesse caso.


É conhecido o esforço das últimas administrações estaduais para ampliar a rede do metrô. Mas esta é uma obra que, além de cara, demanda tempo. Não é de admirar, portanto, que, embora o governo do Estado esteja fazendo o maior investimento na extensão da rede em apenas um ano – R$ 4,9 bilhões -, o secretário reconheça que a conclusão de um importante conjunto de 11 obras, em meados do próximo ano, não trará uma melhora significativa para o transporte coletivo e o trânsito na capital. A superlotação do metrô em várias linhas deve continuar mesmo com essa expansão.


O problema é que os vários meios de transporte coletivo devem funcionar de forma integrada. Por mais importante que seja o transporte por trilhos – do metrô e da CPTM -, apenas a sua expansão, feita pelo governo do Estado, não resolve. Ela deveria ser coordenada com a melhoria do serviço de ônibus, para que ele mantivesse seus usuários. Como isso não ocorreu, eles estão migrando para o metrô. “Estamos tirando passageiros dos ônibus. Por quê? Em nossa opinião, é por tempo e por dinheiro. A viagem de metrô é mais rápida e custa R$ 3,20 por dia a menos”, afirma Fernandes em entrevista ao Estado.


Imaginava-se, acrescenta ele, que o metrô ganharia passageiros que usam carro: “Você tiraria gente dos carros e daria até mais fluidez aos ônibus. Mas o carro continua ali”. Como o serviço de ônibus continuou ruim, isso teve um triplo efeito negativo para o sistema de transporte coletivo: a absorção de parte de seus passageiros superlota as novas linhas do metrô que, assim, não conseguem atrair quem se locomove de carro. E o número cada vez maior de carros nas ruas piora o trânsito e, por isso, também colabora para a lentidão dos ônibus.


A solução, segundo Fernandes, é uma conjugação de esforços do governo estadual e dos municípios da Grande São Paulo. “De que adianta uma bela rede metroferroviária, se você não tem uma capilaridade funcionando bem? Não adianta fazermos só metrô. Ele nunca vai passar na esquina de casa. É preciso uma complementação. Não basta um prefeito pedir metrô para a cidade dele. Não basta dizer que está ajudando o metrô. Precisa fazer a parte dele.”


A parte das prefeituras, a começar pela da capital, é a reforma e melhoria do péssimo serviço de ônibus que oferecem à população, um problema do qual elas vêm fugindo há muito tempo, ao longo de várias administrações. Uma pesquisa realizada pela Rede Nossa São Paulo, em parceria com a Câmara Municipal e apoio da rádio Estadão ESPN, cujos resultados acabam de ser divulgados, mostra que na área de transporte a melhoria dos ônibus foi apontada como prioridade por 77,4% dos paulistanos. A participação da Prefeitura nos investimentos para a ampliação da rede do metrô vem em quinto lugar (47,94%).


O recado dos paulistanos é claro. Eles sabem muito bem que, como a implantação de uma rede de metrô à altura de suas necessidades demanda tempo, a curto prazo dependem em grande parte do serviço de ônibus, cuja má qualidade é notória – lento, sem pontualidade e desconfortável. Disso sabem também, é claro, as autoridades municipais, e há muito tempo. A única explicação razoável para isso nunca ter sido feito é a falta de coragem para contrariar os interesses das empresas que dominam o setor – altamente subsidiado – e não parecem nem um pouco descontentes com a situação.

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