O transporte de cargas e de passageiros sobre trilhos está diante de um novo ciclo de investimentos, que poderá contemplar mais de R$ 110 bilhões em recursos públicos e privados nesta década. De um lado, concessionárias privadas de ferrovias planejam investir para aumentar a eficiência de suas malhas, de olho no aumento da movimentação de minério de ferro, produtos siderúrgicos, grãos e contêineres. De outro lado, governos estaduais e a União começam a financiar projetos de metrôs, monotrilhos, trens de alta velocidade e regionais, que poderão mudar a forma de deslocamento de milhões de pessoas nas grandes cidades brasileiras.
No início da privatização da malha ferroviária, em 1997, o setor respondia por 17% da movimentação de cargas no país. Desde então, depois de mais de R$ 24 bilhões investidos, a participação do modal pulou para 25%. E vai aumentar.
No Nordeste, a Transnordestina, um projeto de R$ 5,4 bilhões, terá 1.728 km de trilhos que interligarão a cidade de Eliseu Martins (PI) aos portos de Suape (PE) e Pecém (PE). Na região Norte, a Vale trabalha para duplicar 605 km de trilhos da estrada de ferro Carajás e ampliar a linha ferroviária em 100 km para criar uma conexão à serra sul da mina de Carajás. No Centro-Oeste, a ALL trabalha para estender em 260 km sua malha, com a construção de um trecho entre Alta Araguaia e Rondonópolis, enquanto a estatal Valec trabalha para concluir a ferrovia Norte-Sul.
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“Até 2015, esses projetos deverão entrar em operação e contribuir para que o modal ferroviário amplie seu espaço, podendo chegar a 28% na movimentação de cargas”, afirma Rodrigo Vilaça, diretor-executivo da Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários (ANTF). Ele estima que os investimentos das concessionárias, com recursos próprios, poderão chegar a R$ 3 bilhões anuais entre 2012 e 2015. O BNDES, um dos principais financiadores do segmento, também enxerga um cenário promissor. Para Dalmo Marchetti, gerente do departamento de transportes e logística, as liberações do BNDES para o segmento podem ficar em R$ 5,7 bilhões nos próximos três anos, cerca de R$ 1,9 bilhão anual. Em 2011, o desembolso deve atingir R$ 1,4 bilhão.
Marchetti vê ainda outro elo que poderá resultar em mais recursos para o setor: os usuários. Em 2010, o banco aprovou financiamento de R$ 980 milhões para a Rumo, braço logístico da Cosan, uma das maiores produtoras de açúcar e etanol do país. Parte do dinheiro vai para a duplicação de um trecho da malha ferroviária que vai do interior paulista até o porto de Santos, e é operada pela ALL. “Esta é uma nova possibilidade regulatória, podemos ver mais operações desse tipo sendo feitas”, diz Marchetti.
Com cerca de 80% de participação na movimentação de cargas, o minério de ferro segue como principal produto escoado pelos trilhos, posição que não deverá mudar nos próximos anos. A indústria de mineração prevê que, até 2015, o setor deva receber US$ 45 bilhões de investimentos. Em paralelo, cargas como grãos, açúcar e combustível devem continuar ganhando espaço com a ampliação da malha no Nordeste e no Centro-Oeste.
Outro segmento que pode ter participação ampliada no escoamento de cargas é o de contêineres. Cálculos do governo estimam que a movimentação de cargas no porto de Santos irá saltar de 103 milhões de toneladas neste ano para 230 milhões de toneladas em 2024, enquanto a movimentação de contêineres deverá passar de 2,8 milhões de TEUs (um contêiner de 20 pés) para 9 milhões de TEUs em 2024. Apenas 1% dos contêineres chega ao porto transportado por trilhos, enquanto a maioria esmagadora vem por caminhões. “Há um desequilíbrio claro da matriz de transportes”, disse José Roberto Serra, presidente da Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), em recente seminário.
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