Com o aprofundamento da crise na Europa e a recuperação oscilante dos Estados Unidos, os países emergentes se tornaram rapidamente o grande mercado da multinacional francesa Alstom, respondendo já por 67% das encomendas recebidas pelo grupo. Em dois anos, os emergentes avançaram sobre uma participação que historicamente pertencia a mercados do Oeste Europeu e da América do Norte.
Diante de uma nova realidade, a empresa promoveu a reestruturação das operações na Europa e na América do Norte, o que significou o corte de quase cinco mil vagas de trabalho. Para voltar a crescer, agarrou-se a projetos de infraestrutura conduzidos, principalmente, nos países que formam o bloco conhecido como Bric (Brasil, Rússia, Índia e China). Isso permitiu ao grupo ampliar em 45%, para € 10,18 bilhões, as encomendas registradas no primeiro semestre do ano fiscal de 2011/12, encerrado no dia 30 de setembro.
A situação da Alstom no mundo é reflexo de uma nova relação de forças na economia global, na qual as nações emergentes crescem mais rápido e puxam a recuperação do mundo após a crise financeira de 2008. Ao mesmo tempo que as nações mais ricas perdem força em termos de novas encomendas. Mas Patrick Kron, presidente mundial do grupo desde 2003, lembra que o bom momento de sua empresa também se deve à estratégia acertada de apostar, nas economias que se tornaram emergentes, antes de muitos concorrentes.
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“Estamos nesses países por um longo período. Não ficamos sabendo pelos jornais que a economia estava crescendo mais nos Bric”, diz Kron, que esteve no Brasil na semana passada. “Temos um forte crescimento em mercados emergentes e isso nos estimula a investir agressivamente nesses países”, acrescenta.
Para dar uma dimensão da importância do país na estratégia da empresa, Kron diz com orgulho que em apenas cinco anos a Alstom saiu de três para oito fábricas no Brasil.
A última delas – inaugurada na quarta-feira passada – vai produzir aerogeradores no complexo industrial de Camaçari, na Bahia. De olho nos esforços do governo para diversificar a matriz energética brasileira, os investimentos na unidade foram da ordem de R$ 50 milhões.
“As hidrelétricas continuam sendo a maior parte de nossa demanda no Brasil, mas também existe a necessidade, como em qualquer outro país, de estimular outras fontes de geração energética”, comenta Kron, acrescentando que a nova fábrica também poderá ser uma plataforma de exportação de turbinas para outros mercados da América Latina, caso haja excedente de produção.
A unidade de Camaçari já começa as operações com duas grandes encomendas. Em julho de 2010, fechou um contrato de € 100 milhões para a construção de um complexo eólico da Desenvix, na Bahia. O segundo contrato, de € 200 milhões, foi firmado neste ano com a Brasventos, envolvendo a construção e manutenção de três usinas eólicas no Rio Grande do Norte.
Em uma agitada passagem de quatro dias no Brasil, Kron visitou a fábrica que a Alstom tem em Porto Velho (RO) – uma joint-venture com a Bardella -, inaugurou a nova unidade de Camaçari e apresentou a presidente Dilma Rousseff o investimento de € 6 milhões em um centro global de tecnologia em Taubaté, cidade do interior paulista que abriga a maior fábrica de equipamentos para hidrelétricas do grupo no mundo. Lá, a Alstom irá desenvolver novas turbinas de geração de energia.
O executivo ainda teve tempo de visitar as obras da usina de Santo Antônio, no rio Madeira, em Porto Velho. A multinacional francesa é um dos maiores fornecedores de equipamentos ao empreendimento.
Em virtude das necessidades de novos projetos em energia e mobilidade urbana, a empresa vê a possibilidade de crescer ainda mais no país. “O Brasil aproveita um forte crescimento econômico, que precisa estar associado a um desenvolvimento de infraestrutura”, avalia.
Por outro lado, o executivo francês vê uma crescente competição, motivada pelas oportunidades oferecidas pelo mercado brasileiro, o que coloca pressão sobre os preços de equipamentos.
“Mas depende de nós nos adaptarmos a essa realidade e produzir os equipamentos certos a um preço adequado. Estamos preparados para lidar com isso”, garante o presidente da multinacional.
Para Kron, a realização de grandes eventos esportivos – a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016 – pode acelerar os investimentos em transporte sobre trilho, estimulando as vendas de trens, outro negócio importante do grupo.
Contudo, observa o executivo, esses projetos serão necessários mesmo sem considerar o fluxo de usuários durante os dois eventos, tendo em vista o trânsito caótico das grandes cidades. “A necessidade de investir em transporte urbano sustentável e na mobilidade nas cidades existe com ou sem a Copa.”
Kron confirma que a multinacional está de olho no mercado de veículos leves sobre trilhos, mais conhecidos como VLTs. Segundo conta o presidente mundial, a filial brasileira está preparada para produzir, sem investimentos significativos, tanto VLTs quanto trens de metrô.
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