Os acionistas controladores da Vale, em reunião do conselho de administração da companhia realizada ontem, decidiram pela recondução, por unanimidade, de Murilo Ferreira, presidente da Vale, para mais um mandato à frente do cargo. A informação foi antecipada pelo Valor PRO, serviços de informações em tempo real do jornal Valor.
O mandato de Ferreira e de sua diretoria executiva expira em maio. A decisão do grupo de controle da mineradora derruba os rumores de que os acionistas estavam insatisfeitos com a atuação de Ferreira. E que, portanto, ele poderia ter seu nome substituído na assembleia geral de acionistas marcada para abril.
A decisão dos controladores da Vale – Previ, BNDES, Bradespar e Mitsui, que estão reunidos na holding Valepar – ajudou a eliminar incertezas em relação ao futuro da companhia. Antecipada em quase um mês, ela mostra para o mercado que não haverá mudanças no próximos dois anos na linha de frente da diretoria-executiva da mineradora.
POD NOS TRILHOS
- Investimentos, projetos e desafios da CCR na mobilidade urbana
- O projeto de renovação de 560 km de vias da MRS
- Da expansão da Malha Norte às obras na Malha Paulista: os projetos da Rumo no setor ferroviário
- TIC Trens: o sonho começa a virar realidade
- SP nos Trilhos: os projetos ferroviários na carteira do estado
Para Marco Geovanne, diretor de participações da Previ (fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil), Murilo conta com a plena confiança dos acionistas. A seu ver, o executivo é o gestor que o atual ambiente de negócios no mundo requer, pois está comprometido em melhorar o desempenho operacional da companhia, focado em disciplina na alocação de capital e na agregação de valor para os acionistas.
Ele conhece o negócio, é competente e tem maturidade e apoio da equipe para enfrentar os desafios que a situação atual impõe e tem conseguido manter a companhia neste ambiente atual, mais inóspito para as commodities. A Previ é a maior acionista no bloco de controle da Vale.
A Vale, na gestão do Roger Agnelli, teve um crescimento indisciplinado, estimulado pelo fato de o preço do minério ter ido a US$ 180 – hoje, está em US$ 135, observa o representante de um dos acionistas da empresa. A geração de caixa proporcionada por esse preço não vai se repetir, afirmou. Um dos argumentos para mantê-lo no cargo, passados dois anos desde que foi escolhido, é que com ele a Vale vai priorizar ativos de classe mundial, com grande potencial de geração de caixa no longo prazo.
Analistas de bancos que acompanham a mineradora veem com otimismo a validação do mandato de Ferreira. Marcelo Aguiar, do Goldman Sachs, destaca que a Vale está inserida hoje em um cenário global muito diferente da época de Agnelli e por causa dessa mudança de ambiente econômico tem que alterar o modus operandi na companhia. Além disso, pontua ele, o executivo e sua equipe estão encontrando também incertezas regulatórias no Brasil, as quais o governo está demorando muito a solucionar. Este mar em que o Murilo e seus diretores estão navegando é um mar muito mais revolto do que o anterior e no qual os investidores não gostam de navegar.
O momento de incertezas que se viu a partir de 2011, afirma, não tem afetado apenas a Vale, mas todas as mineradoras. Por conta dessa situação, a empresa precisa de um gestor com seu modelo de comando: foco no corte de custos e de despesas e direcionado em um portfólio menor de projetos. A agenda dele para este mar revolto é perfeita, diz.
Os acionistas, conforme apurou o Valor, estão satisfeitos com a gestão voltada para os negócios principais da companhia. Aço não é ‘core business’ da Vale, afirmam, lembrando que a companhia não vai concorrer com seus clientes. Uma crítica a Agnelli diz respeito à suposta arrogância dele em lidar com os órgãos reguladores. A nova gestão mudou a postura, o que tem ajudado a Vale.
As ações da companhia, no entanto, têm sido bastante penalizadas, o que levou a Vale a perder a posição de segunda maior mineradora em valor de mercado para a concorrente Rio Tinto.
Com a renovação do mandato de Ferreira, a postura da Vale no mundo dos negócios continuará a ser de cautela. Ele é a pessoa certa para os atuais tempos de vacas magras, que devem se alongar ainda alguns anos, assim como o Agnelli tinha o perfil agressivo, adequado para os tempos de exuberância chinesa. Ele levou a Vale a uma grande expansão internacional, com aquisições, disse uma fonte do mercado.
Para um conselheiro da Vale, hoje todas as companhias buscam CEOs mais cautelosos e um bom exemplo de disciplina na aplicação de capital da empresa foi a decisão de suspender o projeto Rio Colorado, de produção de potássio, na Argentina
Ivano Westin, do banco Credit Suisse, avalia que a Vale precisa hoje de um CEO menos agressivo e expansionista. Precisa de um gestor com foco mais no retorno de capital, que possa avançar em alguns pontos em que a empresa estava atrasada, como a licença ambiental do projeto de minério de ferro Serra Sul, em Carajás, controle de custos, desinvestimentos de ativos fora do seu foco principal e maior retorno aos acionistas.
A Vale estava com os pedidos de licença ambiental paralisados, reclama um acionista. Apenas no ano passado, diz, obteve dezenas de licenças, muito mais do que nos cinco anos anteriores. Um exemplo é o S11D (Serra Sul). Mas a licença obtida ainda é prévia. Com boa parte de obras já encaminhadas, precisa da licença de instalação, permitindo dar partida ao megaprojeto de produção de 90 milhões de toneladas por ano. Quando essa mina começar a produzir, a Vale vai vender um minério de melhor qualidade que o de Carajás, afirmou. Não temos dúvida de que as boas notícias voltarão.
No novo cenário mundial e especificamente no Brasil no que tange a questões regulatórias, o modelo adotado por Ferreira desde a saída de seu antecessor, em maio de 2011, está no rumo certo, avalia Aguiar. A seu ver, não há como traçar um plano estratégico arrojado para a companhia nesse momento. Ele afirma que até 2015 o maior desafio será entregar Serra Sul, que demandará quase US$ 10 bilhões de investimentos. Devido aos atrasos de licenciamento ambiental, deverá entrar em operação por volta de 2017, momento em que o ciclo de preços do produto não será mais tão favorável.
A vantagem, explica, é que terá um custo menor que o do minério australiano, entre US$ 40 e US$ 45 a tonelada posto na China, para um valor na faixa de US$ 85 a US$ 88 a tonelada. Além disso, espera-se melhora da geração de caixa do negócio de níquel, com preços cada vez menores nos próximos anos. Atualmente, o volume de produção e o custo de produção da Vale estão muito ruins. A expectativa é de que o executivo faça uma reorganização desse negócio, retomando o projeto Onça Puma (já pronto, mas parado por problemas operacionais) e Nova Caledônia (Goro). Se entregar isso, vai ser um dos pontos que o mercado mais vai se lembrar dele.
Um ponto ressaltado na sua gestão é a disciplina na alocação de capital. No caso de Agnelli, como a empresa tinha muito caixa, ele se dava ao luxo de se aventurar. Hoje, não pode mais, lembra um acionista. Desde o início de 2012, Ferreira está revisitando todos os projetos da Vale, colocando vários à venda, como ferro-ligas, petróleo e gás. A meta da empresa, agora, é elevar sua capacidade de produção, que está um pouco estagnada.
Os analistas não atribuem ao executivo a forte queda nas ações da empresa. Há espaço com uma busca maior de rentabilidade. Vemos muitas incertezas no ar, principalmente em relação às questões tributárias e do novo marco regulatório, que influencia no preço das ações. Para os investidores é esperar para ver se a política de corte de custos, e de foco em minério, carvão, níquel e cobre e fertilizantes vai trazer os resultados esperados.
Be the first to comment