Atropelamentos e colisões duplicam em Juiz de Fora

O número de acidentes envolvendo pedestres e carros com os trens que passam dentro de Juiz de Fora cresceu em 2013. De janeiro a outubro, 13 ocorrências já foram registradas, entre elas dois abalroamentos. Duas pessoas morreram decorrentes de atropelamento e suicídio. Isso representa um aumento de 62,5% em relação a 2012, quando houve oito atropelamentos. Os dados são da administradora da malha ferroviária do município, a MRS Logística. A empresa está investindo na instalação de novas passarelas para tentar conter o aumento dessa estatística, mas o G1 conversou com alguns pedestres que preferem passar pela linha férrea do que por essas estruturas.


Juiz de Fora tem 80 Passagens de Nível (PN), sendo 52 de pedestres e 28 rodoviárias. Segundo a concessionária, cerca de 85% das ocorrências concentram-se em seis passagens de nível da região central da cidade. Cenas de imprudência de pessoas se arriscando e correndo antes da travessia do trem são frequentes e registradas pelo circuito de vídeomonitoramento da empresa.


O auxiliar de viagem Carlos Augusto de Jesus foi testemunha de muitos desses momentos. “A gente vê muita imprudência do pedestre. Se não tomar cuidado, você morre. O trem já vem apitando, não tem como não ouvir. Não tem desculpa”, disse. Para a estudante Caroline Egídio, falta respeito e cuidado do pedestre e do motorista. “Quando percebem que o trem está vindo, ao invés de parar e aguardar, elas sempre acham que dá tempo e saem andando ou correndo”, afirmou.


Para conscientizar os cidadãos, a empresa que administra a linha férrea disse que já investiu em campanhas educativas, com blitzen e distribuição de panfletos com orientações de como proceder nas passagens de nível e os cuidados com os trens, além de irem as escolas e universidades e discutirem, junto às comunidades, assuntos relacionados à passagem da composição nas proximidades. Entretanto, a gerente geral de Saúde, Meio Ambiente e Segurança da MRS, Ane Menezes Castro Matheus, afirmou que, nos últimos anos, o investimento tem sido direcionado para a construção de passarelas principalmente na área urbana de Juiz de Fora.


Dos 43 quilômetros de malha ferroviária no município, 23,5 ficam na área urbana. Desses, dez quilômetros têm obras de proteção e segregação da linha. Sete passarelas foram entregues entre o fim de 2012 e início deste ano, sendo que ainda restam cinco para serem finalizadas. No entanto, pressa e medo são apontados com alguns dos motivos pelos quais os moradores trocam a passarela pela linha do trem.
Para a professora Francilaine dos Santos Miranda, as pessoas não passam na passarela por preguiça. “Mesmo estando sinalizado, as pessoas não respeitam e às vezes saem correndo na frente do trem”, complementou. Já a doméstica Cláudia Aparecida Rosário destacou a falta de segurança. “Eu teria medo de passar nessa passarela à noite. É muito longa e parece que não tem iluminação direito”, afirmou, referindo-se à estrutura inaugurada neste ano no Bairro Mariano Procópio.


No Centro da cidade, a professora aposentada Zenir Lima afirmou que prefere esperar o trem passar do que subir a passarela próxima da Praça da Estação, no Centro. “Não posso subir as escadas da passarela porque tenho prótese na perna. As pessoas têm pressa, mas tem que prestar atenção, alertou. Essa também é a opção da auxiliar de serviços gerais Inês Aparecida Soares. “Não subo porque não dou conta de subir os degraus”, explicou. O aposentado Tarcísio Silveira sugeriu a criação de uma passagem subterrânea. “O povo tem que ser consciente, mas é muito displicente. Tinha que fazer um mergulhão porque as pessoas não sobem as passarelas por preguiça. Assim, é menos para andar”. A diarista Matilde Braga também prefere esperar o trem porque a passarela ficou “muito longa”. “Mas é preciso ter paciência e tomar cuidado. É o modo brasileiro de não esperar”.


A MRS informou que as novas passarelas atendem normas de altura e acessibilidade, além de serem iluminadas, e que está prevista a manutenção de passarelas antigas. Quanto à construção de passagens subterrâneas, a empresa argumentou que isso não é uma alternativa viável, já que realizar uma escavação exige a interdição de uma área extensa por meses. Com relação à segurança, a empresa informou que não cabe a eles realizar o policiamento nas passarelas. O G1 entrou em contato com a assessoria de comunicação da Polícia Militar, mas as ligações não foram atendidas.


Investimento x Resultado


Apesar de ter investido aproximadamente R$ 13 milhões em obras, como passarelas e vedações na área ocupada pela linha férrea na cidade nos dois últimos anos, Juiz de Fora tem o pior índice de acidentes na linha férrea na área onde atua a MRS, disse a gerente. Segundo a empresa, mais de 10% de todo o investimento é na cidade. “As pessoas têm uma resistência à passarela porque tem que andar mais. São investimentos maciços, custam caro e, ao invés de essa curva de ocorrências cair, a gente vê ela subindo”, afirmou a gerente geral de Saúde, Meio Ambiente e Segurança, Ane Menezes Castro Matheus.


Segundo ela, a velocidade em que a composição passa dentro de Juiz de Fora é duas vezes menor do que a adotada normalmente. Ela ressaltou também que a empresa realiza estudos sobre a taxa de crescimento populacional, para onde a cidade está crescendo e sobre o que está sendo construído ao redor da linha, para evitar transtornos futuros.


Além disso, a implantação das câmeras nas passagens de nível auxilia nas investigações que a empresa realiza para entender a situação em que os acidentes ocorrem. “A imprudência do terceiro aparece como o principal problema. Nós reconhecemos os transtornos que causamos, a gente quer ajudar e quer ser ajudado. Sozinhos não vamos conseguir resolver esse problema”, declarou.


Em casos de emergência


De acordo com a administradora da malha ferroviária, além das passarelas – que é uma alternativa para evitar o contato com os trens – as passagens de nível têm cancelas, marcações no chão e placas, sendo que a empresa ainda utiliza avisos luminosos e sonoros para informar sobre a proximidade da locomotiva e dos 134 vagões vazios que trafegam em Juiz de Fora. “As pessoas ainda não perceberam que a linha férrea é igual a uma via rodoviária, porém com um trem, que tem mais dificuldade de frenagem do que um carro”.


A gerente garantiu que, em caso de emergência, o maquinista é orientado a agir de maneira preventiva, buzinando e tocando o apito, podendo utilizar dispositivos de emergência, como a frenagem automática, que aciona automaticamente o freio de toda a composição. “No entanto, ela não para imediatamente. Um trem vazio demanda cerca de 300 metros para frear completamente”, explicou.
O trem demora cerca de quatro minutos e 30 segundos em cada passagem de nível e,  em caso de parada, é necessário realizar uma inspeção geral antes de prosseguir, principalmente para verificar se há pedestres passando por entre os vagões. Essa averiguação demora em torno de uma hora para ocorrer, o que gera prejuízos ao trânsito na região central da cidade, além de bloquear várias passagens de nível de uma única vez, já que a composição possui 1,5 quilômetros de comprimento.


Com relação à formação do maquinista, a administradora relatou que ela própria realiza a capacitação dos profissionais. A MRS seleciona pessoas com segundo grau completo que são preparados por um período de 18 meses. Eles participam de um curso de operador ferroviário, passam por simuladores e conduções assistidas, operando apenas em trechos onde foi capacitado. A gerente informou que o setor de segurança verifica o cumprimento dos procedimentos operacionais, realiza testes de etilômetro e está implantando um teste de atenção concentrada na pré-jornada.
Contorno Ferroviário
Uma das reclamações dos cidadãos de Juiz de Fora é a presença da malha ferroviária dentro do município. Sobre isso, a  emp

Fonte: G1 Zona da Mata

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