O Vale do Paraíba contabilizou três acidentes ferroviários em janeiro. O número de ocorrências envolvendo trens em 2014 já corresponde a quase um terço do registrado em todo o ano passado na ferrovia que corta a região. Os números colocam em alerta a concessionária que opera a linha férrea.
O último atropelamento na região aconteceu nesta quinta (30) – um jovem de 17 anos foi decapitado por um trem e a polícia investiga as circunstâncias do acidente. De acordo com balanço da MRS Logística, concessionária que administradora a ferrovia, desde 2012 foram registrados 19 acidentes em um trecho de cerca 260 quilômetros – entre Jacareí e Queluz. Em 2012 foram nove casos e pelos menos duas mortes. Em 2013 foram 10 ocorrências. Os números desconsideram os suicídios e são referentes apenas aos acidentes envolvendo trens de carga.
No ano passado, Pindamonhangaba e Guaratinguetá foram as cidades com maior número de acidentes – 3 em cada. As ocorrências, segundo a MRS, são semelhantes: pessoas que acessam a área dos trilhos, onde a permanência é proibida, e normalmente adotam um comportamento de risco, que envolve distração e até embriaguez.
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Entre as vítimas fatais deste ano estão uma criança de 7 anos que brincava nos trilhos em Aparecida e, além de estar em uma área proibida, não contava com a supervisão de um adulto. Em outro caso, um homem supostamente embriagado dormiu sobre os trilhos e não reagiu aos alertas sonoros da locomotiva. Nestes casos, a empresa informou que adotou todos os procedimentos de segurança.
Por conta do tamanho e peso das locomotivas, o trem precisa de uma distância mínimo de frenagem de 500 metros, ou seja, mesmo que o freio de emergência seja acionado para evitar uma colisão ou atropelamento, é preciso que a pessoa ou veículo seja avistado em distância superior a esse parâmetro.
Na tentativa de evitar novos casos, foram feitas no ano passado 119 blitzes de conscientização e dois fóruns sobre o assunto, que atingiram quase 3 mil moradores da região. Após os casos de janeiro, a empresa vai começar a veicular uma campanha de conscientização no rádio e na televisão.
A MRS mantém placas indicativas de proibição de acesso à área dos trilhos e isola trechos da ferrovia com grades e muros. Em 2014, a ferrovia pretende instalar câmeras nas locomotivas para cobrir toda a extensão dos trilhos.
Envolvimento
Para Paulo Henrique do Nascimento, presidente da ONG Movimento Nacional Amigos do Trem, apesar dos números na região não serem considerados altos, falta mais envolvimento do poder público na busca por ações que reduzam esses índices.
“Não adianta tirar a ferrovia do centro, porque daqui dez anos o problema volta, as cidades crescem em volta delas, elas trazem desenvolvimento. O que falta é investir em passarelas e acessos seguros para a população e principalmente em educação. O trem não sai da linha, são as pessoas que se expõe, que vão até ele”, disse o especialista ao G1. Ele informou que em cidades do EUA e Europa, por exemplo, mesmo sem muros e grades isolando as ferrovias, o número de acidentes é próximo de zero. “Isso é reflexo da educação”, completou.
A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), responsável por fiscalizar as ferrovias, informou que falhas e riscos dos trilhos em áreas urbanas são conhecidos. Na avaliação do órgão, as prefeituras também devem participar da solução do problema.
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