A precariedade da infraestrutura nos países emergentes, entre os quais o Brasil, não compromete apenas o desenvolvimento futuro. Ela já limita o crescimento atual, adverte o Fundo Monetário Internacional (FMI) em documento que faz parte de seu relatório Perspectiva Econômica Global. Para as empresas brasileiras – sobretudo as industriais, que vêm perdendo mercados no País e no exterior -, os custos adicionais decorrentes das más condições de infraestrutura e de logística somam-se à burocracia excessiva, à carga tributária pesada demais e à baixa capacidade de inovação, para tornar o produto brasileiro ainda menos competitivo.
Pesquisa feita pela Fundação Dom Cabral com 111 empresas de 13 segmentos da indústria – que respondem por 17% do Produto Interno Bruto (PIB) – constatou que, em média, elas gastam o equivalente a 11% de seu faturamento com logística, mais do que as indústrias americanas (8,5%) e chinesas (10%), como mostrou reportagem publicada no Estado (29/9).
Utilizando outros dados, a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo estimou em 19% do PIB o custo de logística para a toda a economia brasileira. Essa estimativa consta do livro que a Faesp lançou durante o Fórum Estadão Brasil Competitivo com o tema “Rumo ao Futuro do Campo”, realizado na semana passada.
Embora por diferenças de metodologia e de abrangência seus números não coincidam, os dois trabalhos deixam claro o pouco que se avançou, nos últimos anos, na redução dos custos impostos ao setor produtivo para movimentar sua produção até os mercados ou portos. Para a indústria, o custo médio caiu um pouco (era de 12% do faturamento no ano passado), mas a queda não decorre de melhoria da rede de infraestrutura e de logística, e sim da desaceleração da economia, que fez cair a demanda por esses serviços.
POD NOS TRILHOS
- Investimentos, projetos e desafios da CCR na mobilidade urbana
- O projeto de renovação de 560 km de vias da MRS
- Da expansão da Malha Norte às obras na Malha Paulista: os projetos da Rumo no setor ferroviário
- TIC Trens: o sonho começa a virar realidade
Para alguns segmentos da indústria, o custo de logística corrói boa parte dos ganhos de eficiência alcançados na produção. No setor de celulose e papel, por exemplo, esse custo representa 28,33% do faturamento; na indústria de construção, 21,33%; e na mineração, 16%.
Dada a lentidão com que consegue melhorar a infraestrutura, o Brasil vem perdendo posições na classificação de competitividade feita pelo Institute for Management Development (IMD). No relatório deste ano, o Brasil caiu três posições em relação ao do ano passado, no item infraestrutura básica, e ficou na antepenúltima posição entre 60 países. A advertência do FMI faz todo o sentido.
A economia brasileira é fortemente dependente do transporte rodoviário. Das empresas industriais consultadas pela Fundação Dom Cabral, 82% usam predominantemente a malha rodoviária para transportar suas mercadorias – daí elas considerarem prioritária a recuperação das estradas. Também para a agropecuária as rodovias são essenciais, pois grande parte da produção é transportada por caminhões. As ferrovias e as hidrovias, que poderiam reduzir substancialmente os custos, não são alternativa viável para boa parte dos produtores, pela escassez desses serviços.
Este é o resumo das consequências, no setor de transportes, da lentidão com que o governo do PT, no poder desde 2003, reage às demandas da economia, dos obstáculos criados pela obstinação ideológica com que muitos de seus integrantes se opõem à participação do capital privado na infraestrutura e da falta de capacidade gerencial quando decide aceitar essa participação.
Mesmo com sua capacidade de investimento limitada pelo aumento dos gastos correntes, o governo petista relutou em transferir para a iniciativa privada a tarefa de modernização, ampliação e operação de importantes trechos rodoviários. O programa de recuperação da malha ferroviária, para permitir o escoamento de grãos e da produção industrial de importante centros para os portos, ainda não saiu do papel. A modernização dos portos, agora submetidos a um novo modelo regulatório, enfrenta dificuldades legais e administrativas. A situação começa a melhorar na área de aeroportos, mas com grande atraso. Quanto a hidrovias, nada se falou nem neste governo – nem se fala mais.
Seja o primeiro a comentar