Lava Jato dificulta emissão de dívida para projetos da Odebrecht

Duas operações de infraestrutura do grupo Odebrecht estão sendo afetadas pelo envolvimento de construtoras nas investigações da Operação Lava Jato, que apura esquema de propina e lavagem de dinheiro na Petrobrás. A apuração sobre os contratos da petroleira e de empreiteiras tem deixado o investidor ainda mais seletivo.


Conforme apurou o Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, a SuperVia – concessionária de trens metropolitanos do Rio de Janeiro controlada pela Odebrecht TransPort (braço de transporte do grupo) – deve enfrentar dificuldades para vender R$ 300 milhões em debêntures ( títulos da dívida). Segundo fontes do mercado, alguns investidores institucionais teriam manifestado restrições à operação.


Já a subsidiária da Odebrecht Ambiental, a Odebrecht Ambiental-Saneatins, de saneamento, teria postergado uma série de apresentações para investidores (nondeal roadshow) em que mostraria as propostas de investimento da empresa para futuramente dar andamento a uma emissão de debêntures de infraestrutura em saneamento.


Reuniões. A SuperVia realizou na semana passada o último encontro de uma série de três com investidores, que reuniram-se com o acionista Odebrecht Transport. Um profissional que esteve presente disse que havia esforço dos executivos da empresa e dos bancos coordenadores para identificar demanda e que o discurso era o de tranquilizar os participantes sobre os eventos recentes.


O BB Investimentos, o ItaúBBA e a XP Investimentos são os bancos coordenadores da operação, para a qual deram garantia firme. Se não houver demanda para o total ofertado, essas instituições terão de exercer a garantia ou renegociar seus termos.


O processo para coletar a intenção de compra e estabelecer o preço de venda do papel estaria marcado para próximo ao dia 18, de acordo com uma fonte. As debêntures da SuperVia têm série única e oferecem prêmio mínimo de 1,50% e máximo de 1,85% sobre a NTN-B 2024.
Os recursos são parte das fontes para a implementação do plano de investimentos da empresa, em conjunto com o financiamento de longo prazo obtido no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), no valor de R$ 1,636 bilhão.


Procurados, a SuperVia, o BB Investimentos, Itaú BBA e a XP não comentaram.


A Odebrecht Ambiental disse que a companhia estuda emissão de debêntures de infraestrutura e que a agenda de reunião com alguns bancos marcada para apresentação da proposta foi adiada “por conta do atual quadro do mercado de capitais no País”. A empresa diz ainda que a “proposta de emissão está sendo trabalhada de forma a torná-la mais atraente dentro do contexto corrente do crédito”.


Cautela. Fora dos dois casos, comenta-se que a apuração sobre contratos da Petrobrás e empreiteiras deixou o investidor ainda mais seletivo e exigindo maior prêmio nas cotações de preços que os originadores fazem com o mercado para novas colocações.


Mas os profissionais evitam ser taxativos sobre o que acontecerá efetivamente com o mercado de debêntures de infraestrutura em virtude dessas investigações e do fato de que a maior parte das emissões que está para sair é ou tem relação com tais empreiteiras.
A percepção geral é a de que o esclarecimento dos fatos envolvendo a Petrobrás e as construtoras levará tempo e que, mesmo assim, as operações de renda fixa não ficarão paralisadas.


Gestores ouvidos pelo Broadcast dizem que provavelmente os investidores vão separar o joio do trigo. “O investidor está comprando um projeto e não o risco da empresa em si. As debêntures de projetos menos alavancados, já operacionais e não dependentes de recursos da empresa investidora, não devem ser alvo de aversão por conta das investigações em andamento”, afirmou o gestor de renda fixa de um importante banco estrangeiro.


Há duas semanas, o assessor da presidência do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Ernesto Lozardo, previu atraso de até dois anos no cronograma de investimento de infraestrutura de 2014 a 2017 do banco de fomento. “Essas empresas que estão sendo investigadas por contratos estabelecidos com a Petrobrás terão restrições de bancos privados no financiamento de capital de giro e dos aportes nos projetos”, disse Lozardo.


O cronograma do BNDES prevê R$ 242 bilhões em investimento em infraestrutura em cinco anos.

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