Crise provoca mais pressão sobre os serviços públicos

Pesquisa realizada pela Confederação Nacional da Indústria
(CNI) mostra rápida mudança nos hábitos de consumo das famílias em consequência
do acirramento da crise econômica. O desemprego crescente, a queda da renda e a
inflação alta obrigaram os brasileiros a cortar todo tipo de gastos e a vender
bens para pagar as contas e dívidas. Uma das consequências foi o maior uso dos
serviços públicos, com resultados geralmente insatisfatórios.

Realizada no fim de junho, junto a 2.002 pessoas em 141
municípios, a pesquisa revelou que 57% dos entrevistados apontaram que alguém
da família ficou sem emprego, percentual superior aos 44% do levantamento
anterior, feito um ano antes. Nada menos que 67% disseram se preocupar muito em
perder o emprego, ficar sem trabalho ou ter de fechar o negócio nos próximos 12
meses. Quase a metade dos entrevistados (48%) buscam trabalho extra para
complementar a renda, quase o dobro de dois anos antes (25%).

Os achados da pesquisa têm eco nos números do mercado de
trabalho. A Pnad Contínua do IBGE apurou que a taxa de desemprego atingiu 11,3%
no segundo trimestre, acima dos 10,9% do primeiro e bem superior aos 8,3% de
igual período de 2015. O número de desempregados chegou a 11,6 milhões,
aumentando em 3,23 milhões de pessoas em um ano. Estima-se que ele pode atingir
14 milhões no fim do ano.

A população economicamente ativa foi acrescida de 1,8 milhão
de pessoas, chegando a 102,38 milhões, confirmando que mesmo quem não
trabalhava saiu em busca de ocupação para trazer recursos para a família, nem
sempre com sucesso. Além disso, a renda não para de cair. Segundo a Pnad
Contínua, o valor médio recebido em todos os trabalhos está em R$ 1.972, 4,2%
menor do que o do mesmo período de 2015, quando era de R$ 2.058. A massa de
rendimento real habitualmente recebido em todos os trabalhos pelas pessoas
ocupadas foi estimada em R$ 174,647 bilhões, com queda de 4,9%.

Nesse quadro, as pessoas relatam crescente dificuldades para
pagar suas contas e dívidas, o que aflige 67% dos entrevistados em comparação
com 60% um ano antes. Um terço não consegue pagar o aluguel ou a prestação de
imóvel adquirido. Em consequência, chegam a vender bens (24%) e a mudar de residência
(19%). Mas outras providências indicativas de uma redução do padrão de vida são
tomadas para cortar os gastos: quase a metade dos entrevistados (48%) passa a
usar mais transporte público, 34% deixaram de ter plano de saúde e 14% mudaram
seus filhos da escola privada para a pública. Mais disseminadas são medidas
simples como buscar estabelecimentos com produtos mais baratos (80%), preferir
similares mais em conta (78%) e pesquisar mais antes de adquirir bens e
serviços (93%).

O aumento da dependência de serviços públicos causada tanto
porque o plano particular foi cortado como medida de economia quanto pela perda
da cobertura garantida pela empresa no caso das demissões explica porque
pesquisa realizada em 19 capitais pelo Ibope concluiu que saúde é o tema que
mais preocupa os eleitores, à frente até de segurança pública. É o caso de 54%
do eleitorado de São Paulo e Rio. A ascensão da classe média havia causado o
aumento das adesões aos planos de saúde particulares. Entre 2006 e 2014, o
setor de saúde suplementar aumentou o número de participantes em 35%, chegando
a 50 milhões de pessoas. No último ano, 1,8 milhão de beneficiários se
desligaram.

As incursões ao ensino público defrontaram-se com conhecidos
problemas: desde a falta de creches até o deficitário ensino fundamental e
médio. Ao ter que recorrer ao transporte público, os problemas também são
frequentes. Na Grande São Paulo, região mais desenvolvida do país, o transporte
público é cada vez pior, segundo avaliação dos usuários feita em pesquisa da
Associação Nacional de Transportes Públicos. A avaliação do metrô foi a que
piorou mais, com as qualificações de excelentes e bom caindo de 93% em 2006
para 64% em 2014.

Apesar de 49% dos entrevistados pela CNI afirmarem que a
situação econômica é péssima, em comparação com 44% um ano antes, 73% acreditam
que chegamos ao fundo do poço e 51%, que o pior já passou. O tom mais confiante
não evita, porém, duros embates pela frente diante das discussões sobre o
impacto do teto dos gastos e da crise fiscal especialmente sobre as despesas em
saúde e educação.

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