Temer avançará com medidas impopulares para reavivar economia

O presidente Michel Temer prometeu avançar com medidas
impopulares para reavivar uma economia conturbada, dizendo que sua falta de
ambição eleitoral lhe deixa a mão livre para agir.

Em uma entrevista na sede da Bloomberg em Nova York, Temer
disse que iria dedicar todo o seu capital político para reforçar as contas
públicas, expressando a confiança de que o Congresso vai aprovar suas propostas
para limitar os gastos, assim como a reforma da Previdência Social. Enquanto
ele sinalizou que seria mais difícil conceder novos aumentos para os
funcionários públicos, disse que podea encontrar espaço para fornecer ajuda aos
estados atingidos pela crise da dívida.

— Eu não tenho nenhuma ambição eleitoral para 2018,
portanto, vou estar à vontade para enfrentar problemas aparentemente
impopulares — disse Temer, na véspera de se dirigir à Assembleia Geral das
Nações Unidas. — Eu estou tomando uma posição mais dura na política e na
economia.

Aos 75 anos, Temer herdou este ano um país profundamente
dividido, abalado pela recessão e por um escândalo de corrupção de dois anos
que tem aumentado a desconfiança dos políticos brasileiros. A inflação está em
cerca de 9% e o desemprego está em seu nível mais alto desde 2004. Seguindo o
impeachment de sua antecessora Dilma Rousseff, em 31 de agosto, Temer tem
enfrentado pequenos mas persistentes protestos questionando sua legitimidade.

— Ainda estamos em uma situação muito difícil,
economicamente falando — disse ele. — Mesmo que melhore um pouco no próximo
ano, que seria um grande passo em frente.

AUMENTAR A CONFIANÇA

Para aumentar a confiança dos investidores, a agenda de
Temer visa reduzir o papel do governo na economia. Legisladores tentarão
reduzir os gastos públicos e os pagamentos de benefícios de aposentadoria até o
final de 2016, no máximo meados de 2017, disse ele.

Temer foi forçado a mudar o seu objetivo para o déficit
primário de 2016 para R$ 170,5 bilhões a partir dos R$ 96 bilhões que Dilma
tinha buscando. Ele enfrenta a pressão do Congresso, incluindo membros do PMDB
para aumentar a remuneração dos funcionários públicos que compõem uma parte
essencial do seu eleitorado.

DIFICULDADES DE TEMER

Uma das dificuldades de Temer é que ele não tem um mandato
popular para medidas controversas nem é particularmente bem visto. Apenas 14%
dos entrevistados em uma pesquisa de opinião de julho do Datafolha consideraram
a administração Temer boa, em comparação com 13% que tinham a mesma opinião em
relação ao governo de Dilma em abril.

Parte da desconfiança do governo de Temer veio do envolvimento
de seu partido em um escândalo de corrupção de dois anos que colocou líderes
empresariais na prisão e envolveu grandes políticos. Três dos ministros de
Temer renunciaram em meio a alegações de corrupção e o PMDB tem sido citado por
receber propinas de contratos com o governo.

Temer disse na segunda-feira que não haveria obstrução à
Lava-Jato, mesmo que isso aumente o foco em seu próprio partido. “A
Lava-Jato continuará até que ela atinja sua conclusão, e todos os crimes serão
descobertos”, disse ele.

O presidente foi acompanhado na entrevista por membros do
gabinete, incluindo o ministro das Relações Exteriores, José Serra, que tomou a
palavra em várias ocasiões para oferecer suas opiniões sobre o estado da
economia.

Além do orçamento federal, o presidente enfrenta outros
desafios para retomar o crescimento e confiança na maior nação da América
Latina. Vários estados enfrentam uma crise financeira potencialmente explosiva,
mesmo depois que eles chegaram a um acordo em junho que atrasou os pagamentos da
dívida por conta das restrições de gastos.

Na semana passada, 14 estados disseram que poderiam ser
forçados a declarar estado de emergência e ameaçaram usar seus representantes
no Congresso para adiar grandes votações, se eles não receberem ajuda adicional
de Temer.

Apesar do acordo de junho do governo federal com os estados,
o Ministério da Fazenda está estudando se há espaço no Orçamento para
“fazer alguma coisa” para ajudar, disse o presidente

OS INVESTIDORES CONVINCENTES

Durante a visita desta semana a Nova York, Temer vai se
reunir com investidores e anunciar seu plano para leiloar aeroportos,
ferrovias, serviços públicos e campos de petróleo. Esta é sua segunda grande
viagem desde que assumiu a presidência.

O sucesso de Temer, em grande parte dependerá de convencer
os céticos de que o pior da crise do Brasil está acabando. Ele terá de
enfrentar uma longa lista de obstáculos para fazer negócios.

Há sinais de que a economia pode ter atingido o fundo do
poço depois de contrair durante seis trimestres consecutivos. Analistas
consultados pelo Banco Central esperam um crescimento de 1,4% no próximo ano, o
que seria a maior expansão desde 2013.

— Meu único objetivo é colocar o Brasil no caminho certo —
disse Temer.

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