Ex-presidente da CPTM é denunciado, e promotor vê desvio de R$ 538 mi

A CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos)
superfaturou em R$ 538 milhões seis contratos de manutenção e reforma de trens,
assinados entre 2012 e 2013, no governo de Geraldo Alckmin (PSDB), segundo
denúncia apresentada pelo promotor Marcelo Mendroni.

Ele acusa o ex-presidente da CPTM Mario Bandeira de ter coordenado
o cartel. A CPTM refuta a acusação.

O suposto superfaturamento ocorreu em contratos que somam
cerca de R$ 1,76 bilhão, em valores atualizados. O sobrepreço corresponde a
30,3% do montante global, segundo a denúncia apresentada à Justiça pelo promotor
na última sexta-feira (9), mas que só se tornou pública nesta segunda (12).

Mendroni disse à Folha que identificou um padrão no
superfaturamento dos seis contratos: “A CPTM colocava um preço de
referência muito exagerado para que as empresas pudessem oferecer propostas com
valores bem baixos. Depois esses preços eram reajustados por percentuais
altíssimos”.

O que parecia ser uma economia na contratação era um truque
para favorecer o cartel, já que não houve concorrência de fato, tudo segundo o
promotor.

O reajuste, feito depois que o contrato era assinado,
variava de 19,51% a 83,45% num prazo de sete meses. “Não conheço nenhum
investimento no mundo que renda esses percentuais em sete meses”, afirma
Mendroni.

O reajuste mais elevado, de 83,45%, ocorreu em contrato de
manutenção dos trens da chamada série S7500. Em agosto de 2012, a CPTM assinou
o contrato por R$ 52,7 milhões, em valores atualizados, de acordo com a
acusação. Sete meses depois, o negócio foi reajustado para R$ 92,7 milhões.

As empresas contratadas para fazer a reforma e a manutenção
dos trens já respondem a outras ações na Justiça por formação de cartel e
fraude em licitações ou fizeram acordo para se livrar dessas acusações. São
elas: Alstom, CAF, Bomardier, Iesa, MGE, MPE, Siemens, Trail, Temoinsa e
T´Trans.

A Promotoria, porém, só diz ter encontrado provas contra
CAF, MGE, Trail e Temoinsa, já que não conseguiu identificar quais foram os
funcionários das outras empresas que articularam o cartel e a fraude nas
licitações.

Dentro da CPTM são acusados o ex-presidente Mario Bandeira e
três diretores que continuam na companhia: José Luiz Lavorente (diretor de
operação e manutenção à época dos contratos), Milton Frasson (diretor
administrativo e financeiro) e Domingos Cassetari (gerente de contratações e
compras).

O promotor diz que uma das principais provas de atuação do
cartel foi um e-mail enviado por um ex-diretor da Trail Telmo Giolito Porto
para dois outros executivos do grupo Tejofran em 4 de julho de 2012: “1 –
Bandeira alarmado com manifestação da BB [Bombardier] e CAF; 2 – Decidiu
cancelar a coordenação”.

Para Milani, “coordenação” era o conluio entre as
empresas do cartel, já que o presidente da CPTM não tinha função nas
licitações.

 

OUTRO LADO

 

A CPTM diz que não houve superfaturamento e que os reajustes
seguiram índices previstos em contratos. “O Ministério Público comparou os
valores contratados (base ago/2012) com os efetivamente pagos, desconsiderando
o índice de reajuste fixado nos próprios contratos, concluindo equivocadamente
por superfaturamento”, diz nota.

A empresa nega que tenha havido fraude na licitação, já que
11 empresas disputaram os contratos e nenhuma das hipóteses previstas em
e-mails se concretizou.

A Tejofran afirma que confia nos executivos citados, mas diz
que eles não fazem mais parte de seus quadros.

A Folha não conseguiu localizar os advogados de defesa dos
demais citados.

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