Projetos de ferrovia disputam a safra do Centro-Oeste

Investidores nacionais e estrangeiros estão se mobilizando
para tirar do papel projetos ferroviários para o escoamento da soja do
Centro-Oeste. Anunciada como uma alternativa para levar a soja pela região
Norte do País, a Ferrogrão, projeto idealizado pelas tradings
(comercializadoras agrícolas) e que está em busca de sócios para sair do papel,
ganhou um competidor. A Rumo ALL, do grupo Cosan, avalia fazer uma extensão de
600 km de sua malha em Mato Grosso – de Rondonópolis a Sorriso –, apurou o
Estado.

O Brasil é um dos principais produtores globais de grãos,
mas apresenta uma enorme carência de infraestrutura para escoar sua produção
até os portos. A BR-163, que liga o Centro-Oeste ao Norte do País, é um poço de
problemas. Em um trecho de quase 200 km sem asfalto, caminhões atolam durante o
pico da safra, causando atrasos e prejuízos milionários.

Idealizada pelas tradings ADM, Bunge, Cargill, Louis Dreyfus
e AMaggi, com a empresa nacional EDLP, a Ferrogrão é um projeto de R$ 12,6
bilhões apontado como a única alternativa eficiente para escoar a safra pelo
Norte. A ferrovia, cuja consulta pública deverá ser feita entre agosto e
setembro, deverá ser construída ao lado da BR-163, com a promessa de reduzir o
custo do transporte dos grãos do cerrado pela metade.

“A Ferrogrão só depende de seus acionistas para dar certo”,
diz Tarcísio Freitas, secretário de coordenação de projetos da Secretaria do
Programa de Parcerias de Investimentos (PPI).

Freitas afirma que o governo criou uma linha de
financiamento exclusiva do BNDES para a Ferrogrão, além da vantagem de o início
da concessão passar a valer a partir da aprovação das licenças ambientais.

Para Paulo Sousa, diretor de commodities da Cargill, é
preciso que o edital esteja pronto antes de as tradings decidirem se vão ser
sócias ou apenas usuárias da Ferrogrão. Fundos de investimento, como o
Brasil-China, e grupos estrangeiros estão sendo consultados para participar do
projeto.

“Por ser uma concessão e exigir alto valor de investimentos,
essa não é uma malha ferroviária típica”, diz Luciene Machado, superintendente
da área de saneamento e transportes do BNDES. “Temos feito exercícios para
equacionamento dos riscos de construção, da prestação de garantias e da carga
potencial que vai se valer da ferrovia, entre outros.”

Com a manutenção dos prazos estabelecidos para o andamento
das PPIs, apesar das crises política e econômica, o projeto tem boas
perspectivas, diz ela. “A ferrovia tem méritos pela vantagem competitiva
brasileira no agronegócio”, afirma. Ter uma segunda alternativa, como a
extensão da Rumo ALL, por outro lado, não inviabilizaria a Ferrogrão. Batizada
de Solução Sorriso, ela ainda não foi formalizada com o governo. Procurada, a
Rumo ALL não se manifestou.

Plano B. O Estado apurou que o projeto Sorriso está orçado
em R$ 7,6 bilhões e é uma extensão da malha da Rumo ALL, que escoa o grão do
Centro-Oeste a Santos. Segundo Freitas, se efetivado, esse projeto não teria
linhas exclusivas de financiamento. Antes de colocar o projeto em prática, a
Rumo ALL ainda depende da renovação de suas concessões. A principal delas, a
Malha Paulista, está prevista para sair até outubro, diz Freitas.

Procuradas, outras tradings não comentaram. O Fundo
Brasil-China disse que é cedo para falar sobre investimentos.

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