A Arauco e a J&F Investimentos não conseguiram chegar a
um acordo ontem à noite para a venda da Eldorado Brasil Celulose ao grupo
chileno, apurou o Valor. O prazo do contrato de exclusividade expirava ontem.
Sem acordo, a partir de hoje a concorrência pela Eldorado está aberta a todos
os interessados. Segundo uma pessoa a par das negociações, a brasileira Fibria,
a indonésia April e a própria Arauco passam a disputar o ativo.
O Valor apurou que a Fibria está pronta para apresentar sua
proposta, mas com valor inferior aos quase R$ 14 bilhões que teriam sido
propostos pela Arauco para garantir a exclusividade nas negociações nos últimos
45 dias e tomados pela J&F como preço para o negócio. Para a produtora
controlada pela Votorantim e pela BNDESPar, segundo fonte próxima, o objetivo
seria garantir a conclusão das negociações até o fim de semana. A companhia já
teria uma estimativa de sinergias, na casa de bilhões de reais, e condições de
financiamento da aquisição. Procurada, a Fibria não comentou o assunto.
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A Arauco, segundo outra fonte, teria colocado uma série de
restrições após as diligências, que tiveram início na fábrica de Três Lagoas
(MS) e continuaram na sede da J&F, em São Paulo (SP), recuando da oferta
inicial de quase R$ 14 bilhões. Para um terceiro interlocutor, é improvável que
os indonésios entrem na disputa neste momento, mas essa possibilidade não está
integralmente descartada. No passado, houve ensaio de vinda da April ao país,
no segmento de papel, que acabou sendo frustrado pela diferença de culturas.
Mas produzir no país dá acesso a matéria-prima de baixo custo.
A Eldorado despertou o desejo da indústria. Embora a Arauco
tenha saído na frente, a Fibria também tem grande interesse e a Suzano Papel e
Celulose indicou que poderia apresentar uma proposta se outras companhias com
mais sinergias não o fizessem.
Em determinado momento, o controlador da Eldorado,
consciente de sua atratividade, teria emitido sinalização para que as demais
companhias não desmobilizassem suas equipes de fusão e aquisição enquanto não
houvesse um acordo definitivo com os chilenos. Para alguns dos interessados,
essa iniciativa foi vista como uma tentativa de fazer leilão do ativo.
Com a aquisição, a Arauco, segunda maior no ranking mundial
de celulose de mercado, se aproximaria da líder Fibria. Em vendas, porém, a
Arauco já é maior que as produtoras brasileiras de celulose e papel. No ano
passado, teve receita líquida de US$ 4,76 bilhões – ou pouco mais de R$ 15
bilhões ao câmbio atual -, frente a R$9,62 bilhões da Fibria e R$ 2,9 bilhões
da Eldorado.
Ao mesmo tempo, a Arauco daria os passos finais para
concretizar um plano antigo de produzir celulose em solo brasileiro. Há alguns
anos, a chilena começou a dar corpo a esse objetivo, com a aquisição de
florestas na região de Três Lagoas (MS), onde fica a fábrica da Eldorado, e
chegou a comprar um terreno para erguer uma unidade fabril. A proibição de
compra de terras por estrangeiros interrompeu momentaneamente o projeto. A
Eldorado produz cerca de 1,7 milhão de toneladas por ano de celulose de
eucalipto.
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