China deve prometer a Temer mais investimento e acordos comerciais

O presidente Michel Temer fará visita oficial à China no dia
1º de setembro, na qual poderão ser fechados mais negócios entre os dois
grandes emergentes, num momento em que a relação ganha maior dinamismo e
integração estratégica.

A expectativa é que durante a visita, que antecede a cúpula
do grupo dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), sejam
“anunciados ou referendados” investimentos em portos e,
possivelmente, em refinaria, além de vários acordos na área comercial. A compra
de empresas de engenharia brasileiras por capital chinês pode crescer com a
evolução das discussões bilaterais.

No rastro do encontro de Temer com o presidente Xi Jinping,
em Pequim, espera-se que o governo chinês aprove a compra de cerca de 20 aviões
da Embraer por companhias locais. Isso num contexto em que os próprios chineses
tentam impulsionar seu primeiro jato regional no mercado. Hainan e Tanjin
Airlines estão entre as companhias aéreas com negócios com a Embraer.

Também é esperado que a China anuncie a habilitação de mais
frigoríficos brasileiros a exportar carnes para o mercado chinês. Atualmente há
cem pedidos, mas ninguém acredita realisticamente que todos sejam liberados de
uma vez.

Em Pequim, o embaixador brasileiro Marcos Caramuru considera
que a relação bilateral ganhou maior grau de amadurecimento e complementaridade
estratégica “em que os dois são ganhadores” e precisam do que o outro
tem a oferecer.

A relação não tem querelas políticas. E isso se combina com
o plano chinês de canalizar seu excesso de poupança em investimentos em várias
partes do mundo para equilibrar os riscos. “Novas formas de interação
entre o Brasil e a China são exploradas”, diz Caramuru. “‘Isso se dá
em grande medida porque poucos mercados emergentes têm a dimensão, potencial e
as oportunidades positivas do mercado brasileiro”.

O resultado é que a gigante elétrica chinesa State Grid tem
20% de seus ativos no exterior, dos quais metade no Brasil. A China Three
Gorges Corporation, estatal responsável pela construção da hidrelétrica de Três
Gargantas na China, escolheu o Brasil como um país prioritário em sua
estratégia de crescimento internacional. Tem 10% dos ativos no exterior, dos
quais 30% no Brasil.

Bancos chineses, que antes se estabeleciam comprando
patentes de bancos brasileiros ou sendo autorizados a operar pelo Banco
Central, agora buscam joint ventures. O grupo chinês Fosun, que comprou uma
participação na gestora Rio Bravo, busca áreas completamente novas, como
hospitais, imobiliário e entretenimento.

Bancos chineses, que antes se estabeleciam comprando
patentes de bancos brasileiros ou sendo autorizados a operar pelo Banco
Central, agora buscam joint ventures. O grupo chinês Fosun, que comprou uma
participação na gestora Rio Bravo, busca áreas completamente novas, como
hospitais, imobiliário e entretenimento.

A persistente crise política brasileira aparentemente não
provoca questionamentos na China. O país não mostra normalmente preocupação com
assuntos internos dos parceiros. Apesar de queixas sobre a complexidade do
sistema tributário, por exemplo, os chineses acham que podem operar
corretamente no ambiente de negócios brasileiro.

“O que encontro nos investidores chineses é uma imensa
disposição de investir no Brasil”, relata o embaixador brasileiro em
Pequim. “O que mais ouço aqui [na China] é detentores de capital e de
serviços mais sofisticados dizendo que estão atrás de projetos no Brasil.”

Caramuru destaca também a progressão da relação comercial.
As exportações brasileiras para a China cresceram 33% este ano ante alta de 18%
no mundo. As vendas para o mercado chinês alcançaram USS 30,7 bilhões entre
janeiro e julho (24,3% do total exportado), o dobro do que o país vendeu para
os EUA e o triplo do que foi para a Argentina.

Por sua vez, as importações procedentes da China aumentaram
11,5% ante alta de 7% do mundo inteiro. O Brasil comprou US$ 14,5 bilhões
(17,3% do total importado no período), pouco milhões a menos do que importou
dos EUA.

De um lado, o Brasil é um supridor essencial de alimentos
para a China. Cerca de 50% da soja importada pelos chineses vem do Brasil,
assim como 82% das importações de frango e 30% de carne bovina.

De outro lado, a constatação em Pequim é que, à medida que
os investimentos no Brasil voltem a ter sinalização positiva, a capacidade da
China de penetrar no mercado de bens e equipamentos no Brasil tende a ser maior
do que a de outros países.

Ou seja, o fato de o Brasil ter penetrado no mercado de
alimentos chinês criou vínculos sólidos. E quanto às importações brasileiras, a
China aparece com mais capacidade de abastecimento e competitividade que os
demais países, diz Caramuru. A visita de Temer, que tem boa relação pessoal com
Xi Jinping, é vista com potencial de aumentar a confiança de investidores
chineses.

Quanto a financiamentos chineses para o Brasil, o embaixador
diz que “são fluidos” e estão acontecendo normalmente, ilustrando o
incremento na relação bilateral.

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