Vale quer atrair novos investidores asiáticos e fundos de mineração

Com a ascensão da Vale ao mais alto nível de governança da
B3 e diante de novas medidas estratégicas para alavancar resultados, a
mineradora acredita ser possível ampliar a base de acionistas, atingindo novos
perfis, como asiáticos e fundos mineração e metais.

A inclusão da Vale no Novo Mercado, como parte de um amplo
plano de pulverização do bloco de controle atual da companhia, será um pontapé
decisivo para a empresa afugentar alguns riscos que hoje estão atrelados a ela,
disse o diretor-executivo de Finanças e de Relações com Investidores da
mineradora, Luciano Siani, ao Reuters Latin American Investment Summit.

“De modo geral, a expectativa é que com a melhoria da
governança você atraia mais investidores”, afirmou Siani, ao receber a
reportagem da Reuters para uma entrevista em um dos atuais escritórios da
empresa, no Rio de Janeiro.

O executivo frisou que a empresa, maior produtora global de
minério de ferro e de níquel, é destino certo para investidores de Brasil e
mercados emergentes, mas ainda não é garantida na carteira daqueles que
investem nos principais produtos da mineradora ou daqueles que atuam na Ásia,
onde estão seus maiores clientes.

“Quando você olha os chamados fundos de ‘mining and
metals’, nesses a gente tem um caminho para percorrer, porque existe um
reconhecimento da Vale, mas não é como nós gostaríamos”, declarou o
diretor.

A Vale, segundo Siani, chegou a ter cerca de 500 mil
acionistas, quando houve um boom de demanda da China, e hoje tem cerca de 200
mil. “Houve uma perda importante da base acionária que precisa ser
revertida”, ressaltou.

O perfil da mineradora também traz uma desvantagem em
relação aos seus concorrentes, que têm perfis mais balanceados de acionistas,
enquanto a Vale ainda é muito concentrada em América do Norte e Europa,
destacou o diretor.

O plano de reestruturação societária foi aprovado em junho e
agora passa por uma fase de conversão voluntária de ações preferencialistas em
ordinaristas, cujo prazo de adesão termina na sexta-feira.

A diretoria executiva, segundo Siani, está otimista em
relação ao resultado, confiante de que os acionistas entendem que o processo
ampliará governança e transparência, afastando a possibilidade de
interferências do governo –representados hoje no bloco de controle– e
agregando valor à companhia.

“Aqueles que se anteciparam tiveram belos retornos,
porque as ações da Vale triplicaram de valor nos últimos 18 meses”,
afirmou.

 

VELHOS RISCOS, NOVOS
DESAFIOS

 

Como parte de um grande plano para alavancar os resultados
da gigante do minério de ferro, Siani prevê apresentar novas estratégias no
tradicional Vale Day, em Nova York, realizado em todo ano em dezembro.

O evento, que normalmente atualiza o “guidance”
para os anos seguintes, deverá trazer também o resultado de uma análise
profunda de todos os negócios da empresa, a primeira promessa do presidente,
Fabio Schvartsman, que assumiu o cargo em maio.

O objetivo, segundo Siani, é buscar rentabilidade para todos
os negócios, além do minério de ferro, e reduzir fatores de risco atrelados à
Vale.

Com a alta exposição à variação dos preços do minério de
ferro, as ações da Vale são muito influenciadas por oscilações dos preços da
commodity.

A ideia, segundo Siani, é que com o fortalecimento dos
demais negócios e com a superação de alguns riscos, as ações possam oscilar
menos em patamares maiores.

Dentre os planos que devem ser apresentados, a empresa
deverá apontar para uma redução de dívida líquida mais profunda que a planejada
para 2017. A meta atual é reduzir o endividamento para entre 15 bilhões e 17
bilhões de dólares ao final deste ano, ante os cerca de 22 bilhões de dólares
registrados no fim do segundo trimestre.

Para isso, a empresa prevê permanecer trabalhando para gerar
caixa e com investimentos em queda, após a entrega do seu maior projeto de
minério de ferro, em Canaã dos Carajás, que iniciou a operação comercial no
início deste ano.

“Tendo em vista a imensa volatilidade das commodities,
estamos inclinados certamente a trabalhar com níveis de dívida ainda
inferiores, mas a companhia já pode dizer que é possível remunerar melhor os
nossos acionistas”, afirmou, evitando antecipar o patamar de desalavancagem
que deverá ser buscado.

Para contribuir com a queda da dívida e atingir a meta deste
ano, Siani citou a conclusão de desinvestimentos já anunciados e reiterou que
haverá uma venda adicional de quatro navios nos próximos meses. Além disso,
Siani declarou que novos movimentos de fusões e aquisições estão totalmente
descartados nos atuais planos.

“A Vale só vai pensar em M&A (sigla em inglês para
fusões e aquisições) o dia que concluir o seu dever de casa, a gente ainda tem
muito o que fazer na gestão de portfólio de ativos”, afirmou.

 

RESULTADOS E PLANOS
PARA O FUTURO

 

Com a conclusão e o sucesso dos planos para alavancar valor
às ações da Vale, Siani destacou que a empresa poderá avaliar retornar ao
mercado de fusões de aquisições de uma forma diferente.

“Um dia, se a Vale vier a fazer M&A, certamente
será usando as suas próprias ações como moeda, o que aliás é algo que essa
reestruturação permite”, afirmou, explicando que a medida, se aplicada
atualmente, poderia diluir o bloco controlador.

“Financiar M&A com dívida, usando seu próprio fluxo
de caixa, é algo que a gente não pretende fazer”, frisou.

Entretanto, para isso, Siani reiterou que as ações da Vale
precisam ter uma “valorização adequada, o que não é o caso ainda
hoje”.

Outra mudança, segundo Siani, é que a empresa não voltará a
investir nos chamados projetos “greenfield”, totalmente novos e que
carregam um maior volume de investimentos.

“O mundo não precisa mais de projetos greenfields na
maioria das commodities”, disse o diretor, destacando que expansões de
projetos já existentes são mais baratas, mas mesmo assim a empresa será muito
criteriosa daqui para frente.

Fonte: DCI

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