A parcela do investimento financiada por empréstimos do
BNDES encolheu ao menor nível desde pelo menos 2004 nos quatro trimestres
encerrados em junho, ao mesmo tempo em que aumentou a fatia bancada com
recursos de investidores estrangeiros. Nesse período, a formação bruta de
capital fixo (FBCF) ficou em 14% do PIB, dos quais apenas 0,8% do PIB, ou 5,5%
do total, foram financiados com dinheiro do banco de fomento, aponta
levantamento do Centro de Estudos do Mercado de Capitais (Cemec), do Instituto
Ibmec. Os números do Cemec não incluem o investimento das administrações
públicas e a variação de estoques.
Em 2014, o investimento com recursos do BNDES foi de 2,6% do
PIB, ou 15,2% do total da FBCF, medida do que se investe em máquinas e
equipamentos, construção civil e inovação. O pico da participação do banco foi
em 2009, quando o BNDES respondeu por 18% da FBCF.
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Diretor do Cemec, Carlos Antonio Rocca avalia que o tombo da
participação do BNDES se deve mais à queda na demanda por empréstimos do banco,
num cenário de grande ociosidade na economia. Além disso, houve também um recuo
na oferta de financiamentos a taxas muito subsidiadas, abaixo da inflação,
segundo ele. “Acabou o dinheiro do Tesouro”, diz Rocca, numa
referência aos repasses do governo ao banco de fomento realizados entre 2009 e
2014, nas gestões dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff.
Já o investimento direto estrangeiro no país, aquele voltado
para atividades produtivas, respondeu por 29,1% da formação bruta nos quatro
trimestres até junho. Em 2014, a fatia era de 23,3%; em 2009, ficou em apenas
11,3% do total.
Além disso, o financiamento internacional por meio da
emissão de notas e obtenção de empréstimos externos respondeu por 7,8% do
investimento de empresas e famílias. A maior parcela da FBCF é financiada com
recursos próprios, como os lucros retidos das empresas, respondendo por 43,5%
do total. Em 2014, essa fatia era de 37,4%. Para estimar a composição do
financiamento da FBCF, Rocca leva em conta apenas operações de longo prazo.
O economista ressalta que o investimento está num nível
baixíssimo, que “mal cobre a depreciação” do estoque de capital fixo.
“Não há crescimento sustentável com uma taxa de investimento dessas”,
afirma ele, também sócio da consultoria Rocca, Eliseu, Prandini &
Associados. Nas estimativas do economista, a correlação entre a variação anual
do Produto Interno Bruto (PIB) e a FBCF é enorme, chegando quase a 1 – fica em
0,97, mais exatamente, numa série que se inicia em 2004. Segundo ele, nenhum
outro componente da demanda tem uma correlação tão forte com o PIB.
Na visão de Rocca, a recuperação do investimento terá de vir
pela infraestrutura, o setor em que não há problemas de insuficiência de
demanda nem de excesso de oferta – pelo contrário. Para que isso se concretize,
ele diz que é fundamental que haja um ambiente regulatório e jurídico que dê
mais segurança ao investidor, além de projetos-executivos de qualidade, para
que as obras ocorram dentro do orçamento previsto e saiam no prazo planejado.
Segundo Rocca, a enorme capacidade ociosa das empresas
contribui para o tombo do investimento, assim como o fato de que em muitas
companhias as taxas de retorno ainda estão abaixo do custo de capital. Outro
ponto é que há incertezas em relação ao crescimento, o que afeta a decisão de
investir do setor privado.
Rocca observa que, no estudo, a parte da FBCF financiada
pelo investimento estrangeiro pode estar superestimada. O ponto é que não há
diferenciação entre o que é investido em projetos novos e o que é aquisição de
ativos já existentes, aqueles que não ampliam a capacidade produtiva. Com isso,
é possível que a parte bancada com recursos próprios, calculada por diferença,
seja maior do que a estimada no estudo. Ainda assim, a compra de um ativo
indica a disposição de investir mais à frente, dado o horizonte de longo prazo
das operações.
O economista reitera a importância da recuperação da
formação bruta de capital fixo para que haja uma melhora sustentável da
atividade econômica. “Uma retomada mais consistente do crescimento depende
do investimento”, frisa ele, notando que a virada da FBCF não virá do setor
público, dada a situação das contas públicas. O impulso terá que vir do setor
privado, e o caminho mais promissor é o da infraestrutura.
Nas contas nacionais, o investimento no segundo trimestre
recuou 0,7% em relação ao trimestre anterior, feito o ajuste sazonal. Foi a 14ª
queda em 15 trimestres. Para ter uma ideia do tamanho do tombo, a FBCF recuou
29,7% na comparação com o nível observado no terceiro trimestre de 2013.
Ao comentar a alta do consumo das famílias, que no segundo
trimestre cresceu 1,4% em relação aos três meses anteriores, Rocca apontou os
fatores que, para ele, sustentaram o movimento. O primeiro é a forte queda da
inflação, que abre espaço para ganhos reais de renda. O outro foi a injeção de
recursos na economia possibilitada pelos saques das contas inativas do Fundo de
Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), que totalizaram cerca de R$ 44 bilhões.
Além disso, há o efeito multiplicador da renda agrícola e
das exportações, que têm crescido com força. Para completar, os juros estão em
trajetória de baixa. Tudo isso deu impulso ao consumo. O crescimento
sustentável no longo prazo, contudo, precisa da recuperação do investimento,
diz Rocca.
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