Sinal verde para a soja brasileira

Maior
exportador de soja do mundo, o Brasil encontra em problemas que afetam seus
dois principais concorrentes nesse mercado espaço para ampliar seu reinado
nesta safra 2017/18. Enquanto a tensão comercial entre Estados Unidos e China
ameaça reduzir as compras de soja americana pelo país asiático, a seca na
Argentina reduz a possibilidade de o vizinho abocanhar alguma demanda adicional
com o imbróglio, em uma combinação que torna natural, segundo analistas e
tradings, o avanço dos embarques brasileiros rumo a um novo recorde.

Brasil, EUA
e Argentina lideram as exportações de soja em grão do mundo desde o início deste
milênio. Puxado pelo Brasil, o trio respondeu por 87,7% dos embarques totais na
temporada 2016/17, de acordo com as mais recentes estimativas do Departamento
de Agricultura dos EUA (USDA), e tende a elevar a fatia para 88,6% em 2017/18.
Só que o pedaço do bolo destinado ao Brasil tende a crescer mais do que o dos
rivais.

Conforme
dados divulgados pelo USDA no início deste mês, as exportações mundiais da
matéria-prima deverão crescer 2,1% no ciclo atual em relação a 2016/17, para
150,6 milhões de toneladas, enquanto a participação do Brasil no total passará
de 42,8% para 46,8%. Já é mais do que o previsto em fevereiro (45,4%), e ainda
é possível que o quinhão seja um pouco maior, a depender dos rumos da disputa
entre EUA e China – o país asiático é responsável por quase 65% das importações
globais.

Em janeiro,
época de entressafra no Brasil, os americanos venderam mais aos chineses, mas
como a expectativa é que esse jogo vire, as cotações na bolsa de Chicago, que
refletem principalmente os movimentos do mercado americano, já estão sob
pressão e os prêmios nos portos brasileiros começaram a subir. Na sexta-feira,
o prêmio pago pela soja para entrega em maio no porto de Santos era de 97
centavos de dólar por bushel, ao preço de US$ 427,72 a tonelada, segundo a AgResource
Mercosul (ARC). No golfo do México, o valor do prêmio era de 70 centavos, com a
tonelada a US$ 416,60.

Segundo
Steve Cachia, analista da Cerealpar, depois que o governo de Donald Trump
decidiu elevar unilateralmente as tarifas incidentes sobre as importações de
aço e alumínio dos EUA, na semana passada, é de se esperar que uma das
primeiras reações da China seja reduzir as compras de soja americana. “A
postura da China é de olhar sempre para frente, não apenas para o imediato.
Então, os chineses já aumentaram as compras do Brasil desde 2017, mesmo sem uma
guerra comercial declarada”, afirmou.

No ano
passado, o Brasil foi a principal origem das importações chinesas de soja em
grão pela primeira vez. Segundo dados da alfândega do país asiático, o volume
alcançou 50,9 milhões de toneladas, 33% mais que em 2016, e a participação
brasileira chegou a 56,3% do total – que atingiu 95,5 milhões de toneladas,
13,8% mais que em 2016. As exportações dos EUA à China atingiram 32,9 milhões
de toneladas em 2017, ou 36,3% do total.

Como a seca
na Argentina tende a impedir quedas bruscas dos preços da soja no mercado
internacional, conforme realçou Ana Luiza Lodi, analista da INTL FCStone, os
benefícios ao Brasil podem ser maiores. Daí por que Rafael Ribeiro, da Scot
Consultoria, já acredita que as projeções para volume e receita das exportações
brasileiras da commodity sofram novas correções para cima. “Nessa equação
mundial, o Brasil será o mais beneficiado. Então, é bem possível que tenhamos
novo recorde”, disse.

Em relatório
divulgado na semana passada, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab)
previu os embarques nacionais do grão em 67,5 milhões de toneladas na safra
2017/18, ainda abaixo das 68,2 milhões de 2016/17. Mas o USDA já projeta 70,5
milhões de toneladas. A Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais
(Abiove), que representa tradings, trabalha com 68 milhões de toneladas no ano
civil 2018, pouco menos que em 2017 (68,2 milhões). Mas, com os preços
melhores, já prevê receita recorde de US$ 25,8 bilhões com as vendas, ante US%
25,7 bilhões no ano passado.

Para Ana
Luiza Lodi, não há espaço para expansões para muito além desses patamares de
volumes, já que a demanda doméstica para a produção de rações também é forte.
Uma conjuntura, portanto, que tende a sustentar os preços do grão no mercado
doméstico e colaborar para que a oleaginosa alcance um novo valor bruto da
produção (VBP) recorde este ano. Estimativas divulgadas ontem pelo Ministério
da Agricultura indicam que esse VBP (“da porteira para dentro”
chegará a R$ 120,4 bilhões em 2018, quase R$ 1 bilhão a mais que no ano
passado.

 

– Fonte: http://www.valor.com.br/agro/5383449/sinal-verde-para-soja-brasileira


 

Leia Mais: Incidente
paralisa escoamento do grão em porto de SC

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