Disputa entre EUA e China se intensifica e castiga soja e algodão nas bolsas

O recrudescimento da guerra comercial
entre EUA e China gerou mais um dia de mau humor e aversão a riscos ontem nos
mercados e derrubou as cotações dos grãos na bolsa de Chicago e do algodão em
Nova York.

A nova ameaça do presidente dos EUA,
Donald Trump, de impor uma taxa adicional e 10% sobre um leque ainda mais vasto
de produtos chineses, no valor de US$ 200 bilhões, fez com que a China também
endurecesse o discurso. Pequim prometeu tomar “medidas quantitativas e
qualitativas” contra o que qualifica como “uma pressão extrema”
e “chantagem” do governo dos EUA.

O mercado reagiu ao acirramento da
tensão, e os contratos mais negociados de soja, com vencimento em julho,
chegaram a cair 67 centavos de dólar em Chicago no pregão de ontem. Ao longo do
dia, as perdas diminuíram e a soja fechou com queda de 19,5 centavos, a US$
8,89 por bushel.

As cotações de milho também reagiram à
disputa comercial, e os contratos com vencimento em julho caíram 2,25 centavos
de dólar, a US$ 3,5375 o bushel. O cereal chegou a registrar queda de 17,25
centavos durante o pregão.

A disputa comercial entre o EUA e China
fez os prêmios da soja brasileira no porto de Paranaguá voltarem a subir. Na
segunda-feira, o prêmio pago sobre o valor do bushel da soja para entrega em
julho já havia chegado a US$ 1,50, depois de os chineses terem anunciado, na
sexta-feira, uma tarifa de até 25% sobre a soja dos EUA.

“Já faz duas semanas que vemos os
prêmios voltando a subir”, disse Luiz Fernando Gutierrez Roque, da Safras
& Mercado. Segundo ele, os prêmios estavam se estabilizando perto das US$
0,50 por bushel, após terem atingido o pico de US$ 2 no começo de abril, dias
após o primeiro anúncio de sobretaxação de produtos dos EUA pela China.

Embora o Brasil não tenha condições de
atender uma eventual demanda adicional chinesa por soja, é o único capaz de
aumentar as vendas do grão à China, observou Roque. Para ele, as exportações de
soja brasileira podem alcançar 74 milhões de toneladas neste ano. No ano
passado, as exportações totais somaram 68,1 milhões de toneladas.

A China é o maior importador de soja do
mundo. Em 2017, comprou 95,5 milhões de toneladas do grão, a maior parte do
Brasil, EUA e Argentina. Quase dois terços da soja produzida em território
americano vai para os chineses.

A queda excessiva do preço de referência
em Chicago pode afetar a lucratividade do produtor. Steve Cachia, da Cerealpar,
lembrou que o mercado sempre se ajusta. “Com a sobretaxa de até 25% na
importação de soja americana pelos chineses, os traders saem de posições
compradas em Chicago até que as cotações caíam na mesma proporção”.

Para o ministro da Agricultura Blairo
Maggi, a disputa entre EUA e China é prejudicial ao agronegócio brasileiro,
sobretudo porque uma alta da soja elevará os custos das empresas de aves e
suínos.

O algodão também sofre com a guerra
comercial. Ontem os contratos com vencimento em dezembro caíram 395 pontos em
Nova York e fecharam a 83,82 centavos de dólar por libra-peso. Os EUA são o
maior exportador mundial de algodão, e a China, o maior importador. Assim, uma
taxação atinge em cheio o mercado. “Cerca de 45% de todo o algodão que a
China compra vem dos EUA. O país ainda é chave para o abastecimento da China,
mas pode perder bastante participação”, disse Vitor Andrioli, analista da
FCStone.

 

– Fonte: http://www.valor.com.br/agro/5606927/disputa-entre-eua-e-china-se-intensifica-e-castiga-soja-e-algodao-nas-bolsas


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