Sem o governo federal assegurar uma
política de aumento de demanda e do valor do frete para a ferrovia que corta
Mato Grosso do Sul, a Rumo Malha Oeste S/A – que opera 1.973 quilômetros de ferrovia
em solo sul-mato-grossense e paulista – registrou prejuízo superior a meio
bilhão de reais nos últimos três anos, de acordo com relatório da empresa
apresentado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
Em 2015, foram R$ 141,7 milhões de
saldo negativo, prejuízo que subiu para R$ 183,8 milhões em 2016 e chegou a R$
187,1 milhões no ano passado, totalizando R$ 512,6 milhões.
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Sem retorno econômico nesta malha, a
holding Rumo – a qual a Malha Oeste é subordinada – foca seus investimentos em
outro ramal, a Malha Norte, que começa em Mato Grosso, cruza a Região Norte e
Nordeste de Mato Grosso do Sul e segue por São Paulo até o Porto de Santos. A
empresa tenta obter junto à CVM autorização para emitir debêntures que vão
garantir os investimentos superiores a R$ 4,7 bilhões a esta ferrovia.
O problema é que a Malha Oeste é
paralela a esta Malha Norte, o que obriga a criação de demanda de produtos para
viabilizar investimentos na ferrovia que corta Mato Grosso do Sul até Corumbá.
Para tanto, o governo do Estado pretende transformá-la na Ferrovia
TransAmericana – que vai ligar o porto da cidade de Ilo, no Peru, ao Porto de
Santos (SP), passando por Mato Grosso do Sul. Desta maneira, ela poderá ter
retorno financeiro e receber investimentos da iniciativa privada.
Em março deste ano, Jaime Verruck,
secretário de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Econômico de Mato
Grosso do Sul, explicou que o governo já fez um estudo de viabilidade
econômica, apurando que a ferrovia vai ter condições de transportar 40 milhões
de toneladas de carga por ano.
“São combustíveis, grãos, soja,
celulose e ureia proveniente da Bolívia”, destacou explicando que esta
recuperação “precisa de um investimento muito alto. Um exemplo: hoje, 60% dos
dormentes têm de ser jogados fora.
Vamos trocar toda a estrutura da
ferrovia de dormente e trilho. Mas, mesmo com esta demanda, a ferrovia tem sua
importância. Podemos aproveitar o leito que não vai ser modificado e, desta
forma, não precisamos de nova licença ambiental [obras de duplicação da BR-163
chegaram a ficar paradas dois anos por falta desta licença]”.
Sem estes investimentos, ano após ano,
a Malha Oeste só tem prejuízos, que já chegam a R$ 512,6 milhões em três anos.
Até março de 2018, as perdas estavam em R$ 38,1 milhões, 35,1% inferior ao
primeiro trimestre de 2017, quando o prejuízo foi de R$ 58,7 milhões, em consequência
“do aumento da tarifa média de transporte e do crescimento na demanda de
transportes de produtos agrícolas e industriais”, segundo relatório
administrativo da empresa.
Porém, os relatórios não apresentam
uma mudança de cenário de perdas em curto espaço de tempo. De acordo com
parecer apresentado pela Rumo à CVM, os resultados das operações vão continuar
a ser influenciados por “demanda por serviços logísticos, sazonalidade,
ambiente macroeconômico brasileiro, volatilidade dos preços internacionais de
petróleo, crescimento do Produto Interno Bruto no setor do agronegócio
brasileiro e políticas tarifárias adotadas pelo governo brasileiro e pelos
estados nos quais a companhia opera e, consequentemente, suas obrigações
tributárias”.
PERFIL LOGÍSTICO
Anunciada pelo governo federal ainda
para este ano, a expansão das concessões de ferrovias é considerada fundamental
para atrair investimentos na malha ferroviária que corta Mato Grosso do Sul e
mudar o perfil logístico do Estado, avalia o governador Reinaldo Azambuja. A
fragilidade desse modal ficou exposta durante os 10 dias de greve dos
caminhoneiros, quando o próprio governo do Estado viu-se obrigado a decretar
situação de emergência em decorrência do desabastecimento e dos impactos sobre
a cadeia produtiva.
“Eu entendo que a gente precisa mudar
o nosso perfil logístico. Do que está dependendo para ter investimento na malha
ferroviária? A expansão da concessão, para os investimentos possam vir”,
afirmou, em referência ao planejamento divulgado pelo Ministério dos
Transportes. Ao todo, cinco contratos de concessões de ferrovia, numa extensão
de 12 mil quilômetros, incluindo 1,6 mil km da malha de Corumbá a Santos (SP),
estão sob análise do governo federal para prorrogação.
“Já existe um hub ferroviário, porque
o que nós vamos ter aqui não é uma ferrovia só de Mato Grosso do Sul, nós vamos
ter uma Ferrovia TransAmericana, que vai ligar o porto de Santos aos portos do
Oceano Pacífico. Então, acho extremamente fundamental e competitivo ao Estado.
Nós não dependeríamos das rodovias. Se a ANTT [Agência Nacional de Transportes
Terrestres] fizer a expansão das concessões, nós podemos já ter um modal
ferroviário competitivo, que é a ferrovia que já corta MS”.
De acordo com o governo estadual, o custo
da TransAmericana está estimado em R$ 2 bilhões. O investimento inicial será
feito em modernização da malha ferroviária, que foi construída na década de 60
e está sucateada em quase toda extensão.
A Ferroeste, que sai de Dourados e vai
até Paranaguá (PR), “é outro ramal de competitividade”. Orçado em R$ 10
bilhões, o projeto de construção é capitaneado pela companhia paranaense,
Ferroeste.
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