Dentro de um
galpão de armazenamento de grãos em Cristalina (GO), a 120 quilômetros de
Brasília, cerca de 370 mil sacas de soja aguardam, sem previsão, a chegada dos
700 caminhões que levarão a produção até os portos do Sudeste. A espera se
repete nas dezenas de silos que se espalham pelo município, onde a sensação é
de que a greve dos caminhoneiros não acabou. As carretas estão à disposição,
mas não há quem se disponha a contratar o serviço, nem data para que isso
ocorra.
O acordo que
o governo firmou com os caminhoneiros para acabar com paralisação de 11 dias
que provocou uma crise de abastecimento no País pode ter minimizado parte da
crise, mas alimentou outra. Entre os produtores rurais, o clima é de
indignação. Ninguém quer pagar pelo tabelamento do preço mínimo do frete.
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As tradings
de grãos, que compram a produção das fazendas e transportam a produção até os
portos, já compraram tudo o que está nos estoques, mas com base nos valores
antigos do frete. Agora, com a indefinição dos preços, essas empresas se negam
a retirar a produção para não terem prejuízos. Sob pressão, o governo já editou
duas versões da tabela. A primeira atendeu aos caminhoneiros, mas revoltou o
agronegócio, que fala em aumentos de até 150% nos preços. A segunda procurou
aliviar o custo dos produtores, mas contrariou os caminhoneiros. O governo a
revogou. Uma terceira versão está em discussão desde o fim da semana passada.
“Elas
preferem pagar o produtor para estender o tempo de estoque da produção nos
galpões do que bancar o que os caminhoneiros estão pedindo”, diz o produtor
rural Alécio Maróstica. “O resultado é que todo o setor está parado, com
galpões abarrotados e sem previsão de retirada dessa produção. Viramos reféns
de uma situação absurda.”
Nas fazendas
e centros de produção, cada dia é uma agonia. O que agora tira o sono dos
produtores é o início da safrinha de milho, que começa daqui a uma semana, no
dia 20 de junho. “Estamos sem saber o que fazer. Daqui a uma semana começa a
chegar a safrinha do milho. Se essa produção de hoje não sair, não teremos onde
por mais nada. Vai travar tudo de uma vez”, afirma Emilton Kennedy.
Nos dias de
paralisações dos caminhoneiros, o produtor rural Luiz Carlos Figueiredo entrou
em desespero, depois de perder 30 mil litros de leite por dia. Hoje, vive o
drama de não ter onde colocar a safrinha do milho. “Tivemos que jogar todo o
leite na terra. Irrigamos a plantação com o leite perdido. Perdemos ainda 20
caminhões com milhares de caixas de ovos. Foi R$ 1 milhão de prejuízo”, diz
ele. “Agora, estou com 70% da produção de soja trancada no armazém, porque
ninguém consegue fechar o preço do frete.”
Perecíveis.
O drama logístico não afeta só a colheita de soja e milho. Em Cristalina, boa
parte da produção de 2,5 milhões de toneladas por ano está atrelada ao plantio
de batata, cenoura, alho, cebola e tomate, uma cesta de 50 tipos de produtos.
Nessa lista
de perecíveis, a maioria não pode ficar sequer uma semana em estoque. Depois de
sair da terra, é um dia para ser beneficiada e ir direto para o caminhão e seu
destino final.
“Além de
sentir esse preço do frete, que não se define, meu produto está desvalorizado
agora, porque ficamos 20 dias sem entregar e agora há muita oferta no mercado”,
diz João Gruber, que produz batatas em uma área de 680 hectares de Cristalina.
“Depois de o nosso preço explodir nos dias da greve, agora caiu absurdamente. É
uma situação insustentável, porque meu produto não pode esperar. Ele tem que
sair, mesmo se for com prejuízo.”
-Fonte: https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,sem-caminhoes-soja-lota-galpoes-em-goias,70002349676
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