WASHINGTON –
O investimento em setores de infraestrutura e indústria no Brasil deve crescer
1,9% ao ano no período de 2018 a 2021, segundo estudo do Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A perspectiva do banco é que os
investimentos cheguem a R$ 1,03 trilhão no período, o que corresponde a uma
média de R$ 257,5 bilhões por ano. Em 2017, os investimentos realizados
atingiram R$ 245,7 bilhões. No estudo, o BNDES compara as perspectivas para
2018 a 2021 com os valores dos quatro anos anteriores.
O estudo é
realizado anualmente pelo Comitê de Assuntos Setorias do BNDES e foi divulgado
nesta quinta-feira, 6, em Washington pelo presidente do banco, Dyogo Oliveira.
O estudo mais recente até o de hoje, feito no segundo semestre de 2017, previa
queda nos investimentos de 3,7% ao ano em média entre 2017 e 2020. Segundo a
instituição, o levantamento atual mostra uma “mudança na trajetória e um sinal
de retomada do investimento”, que poderá ser potencializada na medida em
que haja redução das incertezas relacionadas à economia e ao calendário
político.
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Apesar da
perspectiva de aumento nos investimentos, o nível ainda é insuficiente para
manter o crescimento do País de maneira sustentável, avalia Dyogo, que
participa, em Washington, de conferência organizada pelo Banco de
Desenvolvimento da América Latina (CAF), pela Organização dos Estados
Americanos (OEA) e pelo instituto The Inter-American Dialogue.
“Desde 2014
nós não tínhamos uma perspectiva tão grande de investimentos como teremos esse
ano”, disse. Apesar disso, o valor total fica abaixo de períodos medidos como o
que vai de 2014 a 2017, quando o BNDES previa um total de investimentos para o
quadriênio de R$ 1,48 trilhão e o realizado chegou a R$ 1,08 trilhão.
“O nível de
investimento no Brasil hoje é insuficiente para repor a depreciação do estoque
de capital. É evidente que uma economia que teve uma taxa de investimento de
16% do PIB não está tendo investimento suficiente para crescer de maneira
sustentável”, afirmou.
O presidente
do BNDES considera que a perspectiva de investimento é factível nos próximos
anos. A vantagem momentânea, segundo ele, é o fato de que a utilização da
capacidade instalada brasileira está baixa. “Teremos até 2023 um espaço para
crescer sem a necessidade de investimentos mais fortes.”
A conclusão
do estudo aponta que a aceleração do crescimento dos investimentos depende de
um crescimento estável do País nos próximos anos e do aumento da capacidade
produtiva dos setores. Além disso, o BNDES destaca a necessidade de diminuir as
incertezas institucional e jurídica na infraestrutura.
Dificuldade
para atrair investimentos
Dyogo
afirmou que é preciso melhorar os marcos regulatórios, como modelo de concessão
em infraestrutura. “Particularmente em saneamento, é um setor que tem uma
dificuldade muito grande de atração de investimentos”, afirmou. “O investimento
é federal, as empresas são estaduais e a regulação é municipal. O resultado é
que a coleta de esgoto é 50% do que é coletado, 25% não é tratado. É um nível
muito ruim de cobertura e qualidade dos serviços.”
Segundo ele,
na área de rodovias, por exemplo, é preciso agilizar os processos de concessão.
“Não faltam recursos financeiros para financiar os projetos de infraestrutura
no Brasil. Hoje, o desenvolvimento da infraestrutura não está limitado pela
falta de recursos, mas pela nossa capacidade de desenvolver projetos, ter marco
regulatório eficiente e levar os projetos à leilão.”
O presidente
do BNDES minimizou a capacidade de o cenário eleitoral interferir nos
investimentos no País. “As incertezas serão resolvidas em 30 dias, isso não vai
afetar as decisões. O que afeta decisão é a situação da economia”, disse. “O
resultado da eleição pode direcionar a economia para um lado ou para outro, mas
a incerteza eleitoral sera resolvida.”
As
perspectivas do banco incluem previsão de crescimento de 5,9% ao ano do
investimento na indústria para uma média anual de R$ 135 bilhões. Em 2017, o
investimento realizado no setor foi de R$ 116,8 bilhões. O crescimento no
período até 2021 deve ser puxado pelo setor de petróleo e gás (+ 9,4% ao ano).
Na
infraestrutura, a perspectiva é de queda anual de 2,0% nos investimentos, para
um total de investimento médio de R$ 122,5 bilhões ao ano. Em 2017, o
investimento realizado foi de R$ 128,8 bilhões. A queda, segundo o banco, será
puxada pelo setor de energia elétrica (previsão de queda de 16,2% ao ano até
2021). Segundo o BNDES, é necessário ter um período de recuperação econômica
mais prolongado para voltar a ver crescimento nos investimentos em energia.
Do outro
lado, ainda dentro do setor de infraestrutura, quatro dos cinco segmentos de
logística analisados devem ter aumento nos investimentos até 2021: rodovias,
ferrovias, portos e aeroportos. Só mobilidade urbana fica de fora. Segundo o
BNDES, depois de um período robusto de investimentos em mobilidade, com a Copa
do Mundo e as Olimpíadas, há agora uma queda no nível de investimento, agravada
pelo “cenário de recessão e crise fiscal”.
Em
Washington, Dyogo vai assinar um memorando de entendimento com o Banco Mundial
para criar bases de atuação conjunta entre as duas instituições no
financiamento de projetos de infraestrutura.
Leilão de
distribuidora da Eletrobrás
Dyogo
afirmou que até o fim desta semana haverá uma decisão oficial sobre a
possibilidade de postergar o leilão da Amazonas Energia, subsidiária da
Eletrobrás. Inicialmente, o leilão estava marcado para 26 de setembro, mas o
projeto de lei que dá base para a privatização não deve ser votado até 9 de
outubro.
O presidente
do BNDES afirmou que “não é vialvel” fazer o leilão sem a aprovação do projeto
de lei. “Como temos notícia de que não será possivel aprovar até o dia 26,
teremos que decidir se mantemos ou não”, afirmou.
O projeto de
lei que trata dos sistemas isolados de energia e que dá base para o leilão foi
aprovado nas comissões de Assuntos Econômicos (CAE) e de Infraestrutura (CI) do
Senado, mas só deve ser votada em plenário no dia 9 de outubro.
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