Em maio
deste ano, uma greve organizada pelos caminhoneiros impactou o país em
proporções que, até então, eram difíceis de mensurar. Responsável pela maior
parte do transporte de cargas no Brasil, o setor caminhoneiro trouxe à tona uma
questão que já vem sendo discutida há alguns anos: a falta de diferentes modais
que possam escoar a produção interna. Os modais, na verdade, existem. Como
exemplo, as ferrovias e os portos que atendem várias regiões brasileiras. Mas
todos, em algum momento, dependem do transporte rodoviário, já que ainda não
suprem toda a demanda logística da nossa cadeia produtiva.
A solução
para desafogar as estradas e evitar cenários caóticos como o que aconteceu em
maio passa por diferentes alternativas. É preciso repensar o transporte sob
vários aspectos: o combustível, os impactos ambientais, os custos para quem
produz e a competitividade para quem transporta. Um trabalho já em andamento e
que contribui para avançar quando o tema é infraestrutura é o PELT 2035 (Plano
Estadual de Logística em Transportes), coordenado pelo Sistema Fiep em parceria
com 20 entidades do Paraná.
POD NOS TRILHOS
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O principal
objetivo do plano é identificar, planejar e propor a implantação de obras
necessárias para reduzir o custo logístico da indústria e distribuir o
transporte em outros modais. “Hoje há mais de 200 obras em execução, fruto do
PELT 2035”, explica o presidente do Sistema Fiep, Edson Campagnolo. “Elas estão
nas áreas portuária, ferroviária, rodoviária e aeroportuária. Com o plano, foi
montado um banco de projetos que visa desenvolver a logística do Estado”,
completa.
Modal
ferroviário: vantagens para o setor
Cruzando os
continentes, há diversos países que utilizam as ferrovias para escoamento de
produção. É o caso da Rússia, onde 80% da carga é transportada por trilhos. No
Brasil alguns elementos dificultam a ampliação do uso da malha ferroviária –
como o monopólio e as infraestruturas, que são muito antigas. Desde 2013, o
Sistema Fiep trabalha com a esfera pública para ampliar a capacidade
ferroviária do Paraná, com propostas para construção de novos trajetos e
modernização do que já existe. Uma delas é a nova Ferroeste, que vai aumentar
significativamente o transporte de cargas nas regiões Norte e Oeste do Estado,
criando um novo corredor logístico. “Os produtos da agroindústria paranaense
têm perfil para serem transportados pelas ferrovias”, detalha João Arthur Mohr,
especialista em infraestrutura e gerente dos Conselhos Temáticos e Setoriais do
Sistema Fiep.
O
especialista ainda destaca que o modal traz vantagens competitivas para
diversos setores socioeconômicos, são elas:
– Economia
com custos de transporte. O frete ferroviário é de 20 a 30% mais barato;
– Benefícios
ambientais. O nível de emissão de carbono por tonelada é de 4 a 5 vezes menor
do que no transporte por caminhões;
– Mais
segurança nas estradas. Para a população, estradas com menos caminhões são mais
seguras. Há menor risco de acidentes.
João Arthur
Mohr destaca, ainda, efeitos secundários da ampliação do transporte ferroviário
no Estado: “há um impacto turístico, por exemplo. Passeios como a descida da
Serra do Mar por trem podem ser realizados todos os dias da semana. Hoje isso
só é possível em finais de semana, já que nos demais dias as ferrovias estão
completamente movimentadas por cargas”.
Projeção de
crescimento estimula agilidade no planejamento de modais
A produção
agroindustrial do Paraná tem crescido e as projeções são otimistas. Até 2025,
deve passar dos 55 milhões de toneladas atuais para 70 milhões de toneladas. A
estimativa é que a ferrovia já nasceria transportando, pelo menos, 49 desses 70
milhões. “É um grande potencial para toda a cadeia produtiva”, compara o
presidente do Sistema Fiep, Edson Campagnolo.
A ferrovia é
boa do ponto de vista econômico, ambiental e social. Por isso, o Sistema Fiep
defende os projetos na área e tem trabalhado fortemente para viabilizá-los.
“Será um salto competitivo para o Estado e para o país”, conclui Campagnolo.
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