Única ferrovia a realizar o transporte de cargas no Ceará, a Ferrovia Transnordestina Logística (FTL), que conecta a malha local a Piauí e Maranhão, foi considerada a mais lenta do País pelo relatório anual da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).
Segundo o documento, a velocidade média de percurso é de 12,55 quilômetros por hora (km/h), cerca de três vezes menos que a MRS Logística, que opera entre em Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, cuja velocidade média ultrapassa os 36 km/h.
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A FTL registrou ainda a redução no transporte de carga em quase 30% no período de 2008 a 2018, passando de 1,6 milhão de toneladas úteis para 1,1 milhão no ano passado. Além disso, especialistas do setor de logística apontam a falta de modernização e de investimentos os principais entraves para o desenvolvimento da ferrovia.
“A FTL precisa fazer investimentos que são necessários para a modernização desse ramal. Isso implicaria em melhoria do projeto geométrico que envolve trilhos, dormentes, raios de curva, rampas, etc, e sair de uma velocidade média de 12 km/h para chegar a 40km/h ou mais. E esses investimentos não foram feitos. É a principal briga da indústria cearense. Esse investimento deve ficar na casa de R$ 1 bilhão. E a concessionária não investiu nem 10% do que era necessário em 10 anos”, aponta Heitor Studart, presidente da Câmara Setorial de Logística (CSLog) e coordenador do Núcleo de Infraestrutura da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec).
Em nota, a FTL esclarece que os dados de toneladas úteis mostram que a companhia transportou 1,735 milhão de toneladas em 2008 e 2,632 milhões em 2018, o que representa aumento de 51% no volume transportado no período.
“O número de 2018 inclui o transporte regular de celulose, que não foi considerado pela ANTT em seu relatório. Por isso, a FTL vai solicitar à agência a revisão desta informação. O segmento de celulose foi responsável pela movimentação e transporte de 1,452 milhão de toneladas úteis em 2018”, informa a empresa
Sobre a velocidade dos trens, a FTL diz que está trabalhando para reverter a situação. “E, rapidamente, elevar a velocidade comercial da ferrovia para padrões compatíveis com o sistema ferroviário brasileiro. Recentemente, foi aprovado o plano de investimentos plurianual que possibilitará a realização de investimentos na via permanente. Desta forma, estimamos que a VMA (velocidade máxima autorizada) da ferrovia aumentará em diversos trechos”.
Reflexo nos preços
A falta de investimentos robustos na rede ferroviária cearense tem causado grandes perdas para a economia estadual. Segundo Studart, muitos produtos poderiam ser até quatro vezes mais baratos, caso o Ceará tivesse mais infraestrutura desse tipo. “Os investimentos precisam acontecer sob pena de a gente perder competitividade. Hoje, o frete ferroviário é quatro vezes mais barato que o transporte rodoviário e isso reflete nos preços de grãos, minérios, combustíveis, cimento para os consumidores do Estado”, explica.
Na opinião de Romulo Holanda, especialista em Gestão de Comércio Exterior, a queda da competitividade reflete também no preço final para os consumidores.
“Quanto mais investimentos a gente tiver em ferrovias, maior é a tendência de o produto ficar mais barato. A gente fica só no modal rodoviário e isso gera perda de competitividade para todos os setores”, acrescenta.
Segundo ele, é necessária a colaboração de todos os entes envolvidos. “O apoio do governo federal é importante e o governo do Estado deve captar recursos de grandes empresas. A ferrovia não é um modal tão utilizado por questão da estrutura existente hoje”
Produtos
Muitos insumos transportados pela FTL registraram queda na movimentação no período de 10 anos. É o caso, por exemplo, do minério de ferro, que passou de 13 toneladas para nenhuma tonelada no ano passado. “Isso foi por causa do Porto do Pecém, cujo preço do transporte marítimo é mais barato”, diz Studart.
Segundo a FTL, o Ceará era exportador do produto a partir da extração da mina de ferro no município de Quiterianópolis. “Em virtude dos baixos preços dessa commoditie no mercado internacional, o Estado deixou de exportar. Nossa expectativa é que em 2019 alguns segmentos iniciem recuperação e possam novamente ser objeto de interesse dos importadores internacionais”.
Já a produção agrícola também recuou de 66 toneladas (2008) para 13 toneladas (2018). “A partir de 2014, com a crise hídrica, muitas empresas deixaram o Estado e foram para outros locais onde há água para a produção”, observa Studart.
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