Nem a ameaça de quebra da safra de soja neste ciclo 2018/19 em Mato Grosso desanima os produtores do Estado que lidera a colheita do grão no país. Após um dos plantios mais rápidos da história, os primeiros resultados das lavouras não foram dos mais empolgantes: uma produtividade média nos talhões já colhidos a partir da semeadura de sementes precoces 10% menor que na temporada anterior, quando o volume total bateu recorde.
A falta de chuvas em dezembro e o excesso de calor, combinados com a escolha de sementes inadequadas prejudicaram o desenvolvimento dessas lavouras, afirmou Valmir Assarice, analistas da Agroconsult. A consultoria, contudo, espera queda de apenas 1% na produtividade média do Estado em relação a 2017/18. Mas isso se não faltar chuva para as lavouras de plantio mais tardio.
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Quem plantou muito no início em Sorriso, se prejudicou mais, diz Guilherme Zawadzki e Serra, produtor de Nova Mutum, no norte de Mato Grosso. Segundo o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), a colheita estadual chegará a 32,45 milhões de toneladas em 2018/19, mesmo nível de 2017/18. A projeção é de outubro e deverá ser revista, mas também não é muito diferente da divulgada pela Conab, que por enquanto estima 32,17 milhões de toneladas, quase 30% do total projetado para todo o país.
Mato Grosso responde por cerca de 30% da colheita nacional da oleaginosa
Ainda assim, o otimismo com o novo governo empolga agricultores. Estamos sob nova direção, brincou Silvésio de Oliveira, paranaense que planta soja e milho em Tapurah, também no norte mato-grossense, desde a década de 1980. O governo que está se instalando vai priorizar mais o agronegócio. Não tem como matar o que está dando certo, afirmou o presidente da Aprosoja de Mato Grosso, Antonio Galvan.
Boa parte do otimismo em relação às possiblidades que os produtores acreditam que se abrirão gira em torno de questões relacionadas à expansão da área agricultável. Uma das primeiras medidas da gestão Bolsonaro foi transferir ao Ministério da Agricultura a atribuição de identificar, delimitar e demarcar terras indígenas e quilombolas. Também passaram a ficar sob os cuidados da Pasta o Serviço Florestal Brasileiro (responsável pela recuperação da vegetação nativa e recomposição florestal), a proposição de planos de produção sustentável e o apoio a processos de concessão florestal.
Agora que vai começar o ambientalismo de verdade, afirmou Galvan. Índio quer dignidade para sobreviver. É mais que certo deixar produzir alimentos. Entre 14 e 20 de janeiro, o Valor participou da primeira equipe do Rally da Safra 2019 (expedição organizada pela Agroconsult), que percorreu um trecho de 8 mil quilômetros. No caminho, muitos produtores se revelaram animados a aumentar a área de soja nos próximos anos.
Tem muita área de pasto que dá para ser convertida. Mas vai ter uma hora que não tem mais o que comprar. Terá de comprar da Amazônia. Tem muita boca para alimentar, disse, em tom de brincadeira, Marcelo Ferrari, produtor de Nova Mutum. Possíveis flexibilizações envolvendo a demarcação de terras indígenas é um dos pontos que trazem maior expectativa.
Já tem mais de 10 mil hectares aqui em Campo Novo [do Parecis] de soja plantada pelos índios. Dá para fazer mais, disse Jesur Cassol, produtor e ex-prefeito do município. Para ele, há grandes possibilidades de produção em áreas de reserva indígena. Mas temos de rever as regras. Hoje, eles só podem plantar soja convencional. Bolsonaro até vem aqui discutir a questão, disse.
Galvan, da Aprosoja-MT, acredita que não haverá retaliação de países europeus em razão de mudanças nas regras para demarcação. Eu não vejo nada nessa questão. Eles vão comprar de quem? Compram da gente porque precisam. Estamos cansados de ser colônia, afirmou.
Acho que agora vamos ter maior flexibilidade para aprovação de projetos, afirmou um produtor de Sorriso. Dentre esses projetos estão os que envolvem a construção de novas ferrovias pelo país, como a Ferrogrão – entre Sinop (MT) e Miritituba (PA). Melhorias em rodovias também são esperadas. Mas o estado de calamidade financeira em Mato Grosso, requerido pelo governador Mauro Mendes (DEM) na semana passada, pode dificultar investimentos em infraestrutura.
Afora os percalços com investimentos em infraestrutura, o produtor de Mato Grosso poderá enfrentar outro problema: escassez de crédito subsidiado. A perspectiva de diminuição de recursos para o Plano Safra 2019/20 e o menor volume de crédito em cooperativas devem deixar o produtor de mau humor. Não será uma transição fácil. O produtor está acostumado a pagar 7% ao ano. Imagina pagar 12%? É uma realidade que ele terá de se acostumar, afirmou Gilvia Casarin, gerente de relacionamento do Santander.
Segundo ela, a diminuição da obrigatoriedade de depósito à vista destinado ao crédito rural, de 34% para 30%, reduzirá a disponibilidade de recursos para as cooperativas, que não terão condições de manter taxas tão competitivas como as atuais. Este ano, a gente fez troca de soja pelos insumos e diminuiu o recurso bancário, mas se arrependeu. Mas cada ano é um ano e sempre depende das taxas, disse Guilherme Zawadzki e Serra, de Nova Mutum. Para ele, tomar crédito ainda pode ser a melhor saída em 2019/20.
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