A Linha 3 do VLT, a última do sistema que corta grande parte do Centro do Rio, está pronta, mas nenhum passageiro pode usar o trecho que vai da Central até a Candelária, passando pela Avenida Marechal Câmara. É que há um impasse entre a prefeitura e a concessionária que administra o transporte. A empresa afirma ter dívidas com seus fornecedores por causa de atrasos nos repasses do município, mas não divulga esses valores. Já o governo quer rever as regras da concessão.
O prefeito Marcelo Crivella deve se reunir na sexta-feira com representantes da concessionária VLT Carioca. Um dos pontos que a prefeitura quer mudar é aquele que estabelece que, quando o sistema opera com menos passageiros que os 250 mil por dia previstos no edital, cabe ao governo municipal indenizar a concessionária com o valor equivalente ao número de lugares ociosos.
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– A prefeitura não pode arcar com um sonho que não se realizou. Senão, o sonho vai virar pesadelo – afirmou Crivella.
A concessionária afirma que a Linha 3 está construída, testada e pronta para operar. Atualmente, as linhas 1 e 2 transportam cerca de 80 mil pessoas por dia útil. De acordo com o portal Rio Transparente, o valor total do contrato do VLT é de R$ 2,7 bilhões. Desse montante, a prefeitura tem um saldo a pagar de, aproximadamente, R$ 2 bilhões até 2025, quando termina a concessão. Em 2018, Crivella destinou R$ 70,3 milhões às obras do último trecho. Nem prefeitura nem a concessionária divulgaram na quarta-feira os valores que, de fato, faltam ser pagos.
Lojas fechadas
Enquanto isso, sofrem passageiros e os comerciantes da Avenida Marechal Floriano, por onde passa o trecho ainda fora de operação. De acordo com estimativas do Polo Região Portuária, que reúne lojistas da vizinhança, cerca de 40 dos 170 estabelecimentos da via fecharam no último ano, quando estavam sendo feitas as obras. Os donos de lojas alegam que, além da crise, interdições, poeira e barulho afastaram os clientes.
– Com a crise, o comércio na cidade como um todo encolheu. Mas o impacto aqui foi maior por causa da obra – disse Eduardo Franco, que fechou uma lanchonete na região no último ano.
Atualmente, a Marechal Floriano tem, pelo menos, quatro imóveis à venda e outros oito disponíveis para aluguel – fora aqueles que estão fechados, sem qualquer negociação aparente. Com 119 anos, a loja Mala Inglesa só continua aberta porque o dono conseguiu reduzir o valor do aluguel de R$ 6 mil para R$ 3,5 mil. Já o restaurante, que fica no número 165, não repôs os dois funcionários que pediram demissão no último ano e viu a quantidade de refeições servidas cair de 400 para 300 por dia.
– Mesmo com o custo dos alimentos aumentando, tive de baixar o preço dos produtos duas vezes no último ano, para manter os clientes – contou João Torres, dono do restaurante localizado no nº 104 da avenida.
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