Especialistas preveem que produtores globais de minério de ferro terão dificuldades para suprir os cortes de produção no Brasil após o desastre em Brumadinho (MG), o que deve manter a pressão sobre os preços no mercado mundial.
Para a Vale, os cortes podem representar redução de até US$ 1,2 bilhão (cerca de R$ 4,4 bilhões) em sua geração de caixa, segundo estimativa do banco BTG.
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Até agora, a mineradora suspendeu operações que produziam 51 milhões de toneladas por ano, o equivalente a cerca de 10% da produção brasileira.
Analistas consideram a possibilidade de novos cortes a partir de medidas restritivas do governo sobre minas com a mesma tecnologia da de Brumadinho -cujo rompimento deixou, até o momento, 165 mortos e 160 desaparecidos.
Cícero Machado, analista principal para minério de ferro e aço da consultoria Wood Mackenzie, diz que o corte pode chegar a 70 milhões de toneladas, ou 14% da produção brasileira, considerando a suspensão das atividades em barragens da Vale que usam a técnica de alteamento a montante, a mesma adotada em Mariana e Brumadinho.
Ele vê ainda a possibilidade de a ANM (Agência Nacional de Mineração) banir as operações em empreendimentos do tipo –o maior corte de produção hoje é da mina de Brucutu, principal operação da Vale em Minas Gerais, que foi determinada pela Justiça.
“São 50 milhões de toneladas por ano de todo o portfólio da Vale que saem do mercado transoceânico”, diz Machado.
Se a ANM decidir banir barragens do tipo, outros produtores no país poderão ser parcialmente afetados, como CSN, Gerdau e Usiminas, estima o analista.
“Isso dá força para que os preços, atualmente na faixa de US$ 90 [R$ 334] por tonelada, subam para a faixa de US$ 100 [R$ 370] a US$ 105 [R$ 390] por tonelada”, avalia.
Na semana passada, os preços internacionais chegaram a testar a faixa dos US$ 100 pela primeira vez desde 2014.
De acordo com Machado, as principais rivais da mineradora brasileira, a anglo-australiana BHP Billiton e as australianas FMG e Rio Tinto, não têm capacidade para suprir a lacuna deixada pela mineradora brasileira ou de fornecer o minério com o mesmo teor de ferro da brasileira, com índice entre 65% e 70% e que tem alta demanda de siderúrgicas chinesas.
“Quanto mais perda de produção a Vale experimentar neste ano, mais difícil será para outros produtores conseguirem compensar a falta. E mais alto os preços do minério vão”, concorda Hui Shan, estrategista sênior de commodities do Goldman Sachs.
Shan estima que a Vale perderá 30 milhões de toneladas neste ano e que o preço do minério terá uma média de US$ 73 (R$ 271) por tonelada.
A empresa já informou que compensará parte das perdas com aumento da produção em outras minas, mas declarou força maior em contratos da mina de Brucutu, em um sinal de que vê dificuldades para substituir todo o volume.
“O impacto de mais longo prazo, em contratos de fornecimento e disponibilidade, ainda precisa ser visto, e os mercados estão tentando entender as mudanças esperadas em embarques e preços”, afirma Hector Foster, analista de metais e materiais brutos da S&P Global Platts.
Machado tem a avaliação de que a Vale poderia ampliar em até 15 milhões de toneladas por ano a produção na mina S11D, o mais novo projeto da companhia, no Pará. E que outros 5 milhões de toneladas poderiam vir do Sistema Sul Sudeste, que compreende as operações de Minas Gerais.
Mas a qualidade do minério que pode ser colocado no mercado é outra incógnita.
“A China tem buscado minério de ferro de mais alto teor, para aumentar a produtividade dentro do seu sistema. As australianas não têm o produto com qualidade superior como a Vale tem”, diz o analista da Wood Mackenzie.
Em entrevista nesta terça-feira (12), o diretor de Finanças e Relações com Investidores da Vale, Luciano Siani, evitou comentários sobre o corte na produção, alegando que a prioridade é a reparação dos danos e o conforto a famílias.
“Nós tomamos a decisão de paralisar as operações próximas a barragens com alteamento a montante”, disse ele.
A companhia questiona a decisão judicial de paralisar a barragem de Jangada, que levou à suspensão das operações de Brucutu, alegando que se trata de estrutura com método convencional.
Ainda de acordo com o BTG, caso os cortes de produção durem apenas três meses, a cifra cai para US$ 300 milhões (R$ 1,1 bilhão). A conta considera o minério de ferro a US$ 70 (R$ 260) por tonelada.
Mesmo que consiga ampliar a produção, a Vale o fará com minério menos competitivo e enfrentará aumento de custos, dizem analistas do UBS. Eles estimam alta entre US$ 2 (R$ 7,5) e US$ 3 (R$ 11,3) por tonelada.
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