Parcela de empréstimo para construir o VLT na Grande Cuiabá é de R$ 12,2 milhões ao mês; trem deveria estar rodando desde 2014

A obra do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) em Cuiabá e Várzea Grande, região metropolitana da capital, já custou mais de R$ 1 bilhão aos cofres públicos e continua onerando. Todo mês, o governo paga R$ 12,2 milhões referente à parcela do empréstimo feito para a construção do metrô d e superfície, que já deveria ter começado a rodar na Copa do Mundo de 2014.

A parte construída em Várzea Grande é a que está mais avançada. Seis quilômetros, entre o Aeroporto Marechal Rondon e Cuiabá, já tem trilhos, postes, e até as estruturas das estações quase prontas. No entanto, falta finalizar o pavimento, criar muretas para evitar que os carros avancem para dentro da pista e ligar o sistema de energia dos trens.

O membro do movimento pró-VLT, Vicente Vuolo, defende a conclusão das obras para que os trens comecem a rodar e o prejuízo não continue crescendo. Para ele, o VLT precisa começar a operar, mesmo que seja em etapas.

“Com pouco investimento, pode terminar o trecho do aeroporto até o Porto e, em seguida, complementar até o centro de Cuiabá, CPA e Coxipó”, avaliou.

O engenheiro e representante do governo na primeira etapa da construção do VLT, José Piccolli Neto, também defende a conclusão das obras para que os investimentos até agora não sejam perdidos.

“Temos trens, trilhos, equipamentos para montar as subestações, cabos, postes e vários computadores, então é preciso concluir. O que vamos fazer com esses equipamentos depois?”, questionou.

O engenheiro de transportes e professor doutor da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Luiz Miguel de Miranda, acredita que o modelo de transporte teria que ser alterado para Buss Rapid Transit (BRT), para que as obras possam ser concluídas.

O BRT utiliza veículos articulados que rodam em pistas exclusivas. Em vez de pontos comuns, os passageiros embarcam em estações.

“Se insistirmos no VLT, vamos pagar uma conta enorme, porque o governo vai ter que subsidiar a tarifa. Com o que já foi construído, dá para investir no BRT, pois o governo faz a licitação e chama as empresas para virem operar por risco e conta delas”, ressaltou.

O governador Mauro Mendes (DEM) prometeu anunciar o que vai ser feito ainda este mês. As declarações que ele deu desde o início do mandato indicam que a principal preocupação é com a falta de dinheiro para retomar as obras. A assessoria do governo informou que ele aguarda estudos técnicos que vão indicar o melhor caminho.

Rompimento de contrato

O Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT) decidiu que o governo pode romper o contrato com o consórcio que trabalhou na obra até agora, devido às suspeitas de corrupção.

Em delação premiada, o ex-governador Silval Barbosa disse que as obras foram superfaturadas e admitiu ter recebido propina. Os responsáveis pelo consórcio afirmaram que vão recorrer às instâncias superiores para continuar trabalhando na obra.

“O consórcio está trabalhando no recurso. A decisão foi publicada no dia 14 deste mês e, nos próximos dias, devemos recorrer a essa decisão”, disse o advogado William Romero.

Caso o rompimento do contrato seja mantido, será necessário realizar uma nova concorrência pública e contratar outra empreiteira. Outra possibilidade é fazer uma Parceria Público-Privada (PPP). Nesse modelo, a empresa vencedora se responsabiliza pelas obras e depois explora o serviço por um longo prazo para recuperar o investimento.

VLT ou BRT?

Segundo Luiz Miguel, em termos de estrutura, tanto um modelo, quanto o outro, depende de poucas modificações. Os viadutos foram fabricados para atender os dois tipos de transporte.

“Estimamos que o custo total do BRT fique em R$ 300 milhões. No caso do VLT o valor vai de R$ 500 a R$ 600 milhões. Porque tem uma estrutura para colocar o trilho, tem o próprio trilho que tem que colocar e toda a ferragem. Já no BRT, é só pavimento de concreto, não é esse pavimento flexível que a gente tem”, explicou.

Por outro lado, o engenheiro Vicente acredita que essa alternativa não é a melhor, justamente porque envolve ônibus.

“O BRT precisa de pneu, asfalto, gasta petróleo, combustível fóssil e polui, o que as principais cidades do mundo estão tentando eliminar. Já o VLT é moderno, elétrico, não polui, e é o transporte do futuro “, pontuou.

Para os passageiros, o custo da tarifa vai ser igual para os dois tipos de transporte.

José Píccolli foi o responsável pela construção e implantação do VLT no Rio de Janeiro. Pela experiência, ele diz que o custo inicial é mais alto e pode ser compensado pela maior durabilidade dos trens do VLT. Já a duração dos ônibus é mais curta e logo precisam ser trocados por novos.

“A vida útil de um VLT é de 30 anos. Já do BRT é de cinco anos. Os trens podem ser reformados ao longo dos anos e seguir rodando, desde que os sistemas de informática sejam sempre atualizados”, explicou.

Fonte: https://g1.globo.com/mt/mato-grosso/noticia/2019/06/27/parcela-de-emprestimo-para-construir-o-vlt-na-grande-cuiaba-e-de-r-122-milhoes-ao-mes-trem-deveria-estar-rodando-desde-2014.ghtml

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