Em dia de crise com o Supremo Tribunal Federal (STF), o presidente Jair Bolsonaro deixou para os ministros da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, e das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, o anúncio de que a monarquia da Arábia Saudita deverá investir até US$ 10 bilhões no Brasil. Segundo eles, o dinheiro será gerido por um fundo a ser criado pelo governo brasileiro e não haverá contrapartida. Os recursos são do fundo soberano saudita.
O anúncio foi feito após encontro de trabalho entre Bolsonaro e o príncipe herdeiro, Mohammad bin Salman. “Os setores serão decididos em comum acordo. Feito da relação que estamos construindo com o mundo árabe”, disse Araújo. A nota conjunta diz que “os dois lados expressaram seu apoio à concordância” do fundo saudita “em explorar potenciais oportunidades de investimentos mutuamente benéficos em até US$ 10 bilhões”.
Após chegar de jantar com oito líderes que participarão do Future Investment Initiative, Bolsonaro falou sobre o assunto. Segundo ele, foi confirmado o investimento de até US$ 10 bilhões no Brasil, anunciado mais cedo por Lorenzoni e Araújo. “Propus ao príncipe herdeiro investimentos na baía de Angra [RJ] para transformá-la em uma Cancún [México]. Depois de uma explanação, ele disse que está pronto para investir na baía de Angra, mas isso passa por um projeto para revogar um decreto ambiental”, afirmou o presidente.
De acordo com Bolsonaro, tem muita gente que quer vir ao Brasil, mas, quando vê dificuldades, burocracias e o tempo que demora com conexões, acaba desistindo. “Criou-se uma amizade [com o príncipe] que não é de agora, que nos faz ficar mais abertos a esse tipo de negócio. Eles abriram para a gente. Uma saída para o Pacífico seria muito importante. E US$ 10 bilhões é muito dinheiro.”
O ministro da Casa Civil lembrou que o fundo soberano já investiu em cinco países – EUA, França, Japão, África do Sul e Rússia. O Brasil deverá ser o sexto. “Vamos organizar um conselho de cooperação entre os dois governos, com a iniciativa privada dos dois países, para definir em que áreas e em quanto tempo esses recursos chegarão ao Brasil.” Em ” “duas ou três semanas”, segundo ele, o conselho deverá estar funcionando.
O ministro citou o Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) e os leilões de óleo e gás, rodovias e ferrovias. Onyx mencionou a Ferrogrão (do Mato Grosso ao Pará) como exemplo de interesse para aplicação do dinheiro. “Temos economias complementares. É uma notíciaextraordinária.” Ele disse ainda que, nos últimos dez anos, não houve nada maior do que isso. A expectativa do governo é que, depois desse, vários outros fundos tenham interesse no Brasil, já que a proposta é incomparável em termos de retorno.Perguntado sobre a dura política de direitos humanos na Arábia Saudita, Araújo afirmou que o país é uma “monarquia estável”, importante em sua região. “O príncipe tem feito um trabalho de abertura e de liberalização. Vão ser a próxima cúpula do G-20.”
O ministro da Casa Civil afirmou ainda que a expectativa é que o país receba mais R$ 110 bilhões na cessão onerosa. Onyx reafirmou que não houve exigência de contrapartida. Ressaltou ainda que os sauditas pretendem acessar a América Latina por meio do Brasil e confirmou a exportação de frango ao país. Em relação a uma eventual contrapartida brasileira no que diz respeito à questão nuclear no Irã, Araújo foi taxativo: “Não foi contrapartida nossa. Ouvimos que é uma preocupação o Irã, que gera instabilidade na região. Mas não temos posicionamento sobre este ou aquele país”.
Outra medida anunciada pelos ministros, também sem a presença de Bolsonaro, foi a desburocratização recíproca da concessão de visto entre os dois países. O valor do visto passa a US$ 80 e poderá dar acesso a múltiplas entradas. A validade de visto de trabalho, que hoje é de um ano, passará a cinco. Araújo chegou a dizer que os vistos seriam isentos nos dois países, mas depois a assessoria do Itamaraty detalhou as mudanças.
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