Caminhos em construção

As construtoras que prestam serviços para o setor ferroviário têm a esperança de que novos projetos vinguem em 2020. Na avaliação das empresas, o leilão da Ferrovia Norte-Sul, em março, no qual a Rumo Logística saiu vencedora, foi o primeiro passo para uma possível retomada de projetos que ainda estão no papel. Entram nessa lista, além da renovação antecipada dos contratos, a Ferrovia de Integração Centro-Oeste (Fico), a Ferrogrão e a EF-118 (Rio de Janeiro-Vitória) – todas qualificadas no Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) do governo federal. Para Juarez Barcellos Filho, diretor comercial da Tiisa, contratada da Valec para obras no Tramo Centro-Sul da Ferrovia Norte-Sul, mas que agora espera decisão da Rumo quanto às empresas que vão finalizar os trabalhos, o leilão foi um grande passo, mas ainda é um fato isolado.

“Precisamos de muitos investimentos para chamar de retomada. Entendemos que um projeto é pouco para atender as necessidades logísticas de um país com dimensões continentais como o Brasil. Para o início de 2020 esperamos os leilões da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol) e licitações para a implementação da Fico e Ferrogrão”.
Além dos dois lotes da Norte-Sul, a empresa também executa/executou serviços de engenharia no Lote 7 da Fiol (161 km), na Bahia; na Ferrovia Transnordestina (98 km), entre o Ceará e Pernambuco; na ponte ferroviária São João (450 metros), na Bahia; na ponte ferroviária Ayrosa Galvão, em São Paulo; na implantação do ramal ferroviário da Klabin (23,5 km), no Paraná; e em obras nas linhas 5-Lilás, 15-Prata e 17-Ouro, do Metrô de São Paulo; e linhas 9-Esmeralda e 13-Jade da CPTM.

A Camargo Corrêa Infra já sente os reflexos positivos da movimentação do mercado. A última grande obra ferroviária da empresa foi concluída em 2016. Hoje, a Camargo Corrêa integra projetos da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), da CPTM, da Minerações Brasileiras Reunidas (MBR) e da Vale que juntas somam 59,5 km de vias.

“Estamos otimistas. Esse plano de retomada do mercado ferroviário é acompanhado de perto pela empresa. Identificamos e mapeamos diversas oportunidades que estão alinhadas ao nosso planejamento estratégico”, avalia Robson Campos, diretor executivo comercial. A empresa buscou aliar inovação e novas tecnologias para melhorar os processos de construção e otimizar tempo e recursos.

Tecnologias como Building Information Modelling (BIM, ou Digitalização da Construção), Internet das Coisas (IoT), assim como drones e impressoras 3D passaram a fazer parte do desenvolvimento e implementação de obras ferroviárias. A companhia também investiu em um sistema para transmissão online 24 horas de imagens das obras em andamento.

Na Pelicano Construções, o segmento ferroviário representa, em média, 70% do faturamento da empresa, que tem mais de 40 anos em obras de implantação, renovação e manutenção de ferrovias. Acreditamos no aumento da demanda, porém como as obras ferroviárias dependem de grandes investimentos, existe uma necessidade natural de maturação dos estudos de viabilidade. Por isso acho que após 2020 será muito mais promissor”, diz Fernando Ribeiro, diretor geral da Pelicano, que participou da duplicação da

Estrada de Ferro Carajás-EFC (já finalizada) e hoje trabalha em um lote de 160 km da Fiol. A companhia também investe na mecanização. “A automação de alguns equipamentos ferroviários facilita a entrada de dados, leituras dinâmicas das vias em manutenção, entre outros”, destaca Ribeiro.

Diretor da Somafel, Gilberto Costa enxerga nas renovações antecipadas boas oportunidades de negócios para os diversos players do setor. A empresa é especializada na construção de superestrutura ferroviária, metroviária e de VLT, e eletrificação de redes ferroviárias. Entre os recentes projetos no setor, está a duplicação da EFC.

“Com a conclusão deste projeto, o mercado ferroviário de obras pesadas não apresenta grandes opções de imediato. Quando olhamos para obras de transporte de passageiros as opções têm sido também limitadas.Mesmo com a concretização, este ano, de renovações antecipadas de concessões e de novas concessões, os serviços prestados pela Somafel, de construção de superestrutura ferroviária, só deverão ter início em 2020, 2021”, detalha Costa. Atenta à possível aceleração do mercado, a empresa comprou equipamentos de grande porte, de nivelamento e regularização da via, e de execução de solda elétrica de trilhos, em plataforma ou estaleiro fixo. Pés no chão A Prumo Engenharia vê o momento com “bastante otimismo, mas com os pés no chão”, ressalta o presidente da empresa, Fernando Vaz.

“Nosso plano em 2019 é não reduzir os trabalhos em relação aos anos anteriores. As perspectivas de futuro são favoráveis. No entanto, ainda é preciso esperar que os projetos saiam dos discursos e do papel. Estamos preparados para um forte crescimento nos próximos anos, com uma equipe técnica competente, um parque de equipamentos de grande porte novo e parcerias estratégicas com grandes empresas de infraestrutura”, conta Vaz.

Com média de 15 a 20 contratos fechados anualmente, hoje a Prumo participa de obras de manutenção de ferrovias e de projetos de implantação e adequação de pátios. A empresa liderou o consórcio do Pátio de Santa Helena, da Ferrovia Norte-Sul, que está em fase final. Em Santos, integra o projeto da Ponta da Praia, com a Rumo, entre outros. Nos últimos anos a empresa tem investido em mecanização, com a aquisição de equipamentos de grande porte para socaria de linha e carregadeiras rodoferroviárias. Os aplicativos para smartphones e a tecnologia móvel também têm sido grandes aliados da Prumo na otimização de processos e rotinas, revela Vaz.

A CivilFer foi criada para atender especificamente as demandas do setor ferroviário. A empresa fornece mão de obra especializada, equipamentos para montagem e manutenção de via, incluindo solda aluminotérmica. Sócio gerente da empresa, Ruy Garcia vê a movimentação do setor como uma oportunidade para que empresas de pequeno porte ganhem visibilidade no mercado. “Atualmente estamos em um projeto de renovação do lastro ferroviário do MetrôRio em parceria com a JQueiroz, em que somos responsáveis técnicos pelo contrato.

Em 2020, esperamos crescimento de 50%”, calcula Garcia. Com a perspectiva positiva para o setor ferroviário, Diego Justo, diretor executivo da DR Construtora, observa que houve também aumento da quantidade de empresas concorrentes, que migraram do setor rodoviário para o metroferroviário. “Inegavelmente, o futuro será promissor, pois haverá investimentos no setor”, projeta. A companhia espera crescimento de 15% do faturamento líquido até 2024. O mercado ferroviário representa 87% do faturamento total da empresa.

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