O VLT, o Veículo Leve sobre Trilho, está em alta. O antigo bonde se modernizou e hoje é a solução silenciosa e não poluidora que 2300 cidades ao redor do mundo estão adotando para a circulação de pessoas.
O VLT da Baixada Santista e do Rio de Janeiro
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No Brasil, só há duas cidades com VLT totalmente elétricos, Santos/São Vicente (desde 2012) e Rio de Janeiro (desde 2016). Em ambas, a experiência do usuário é muito boa.
A primeira característica que salta aos olhos (aos ouvidos, no caso) é o silêncio. Tanto para quem está dentro como para quem está fora, a única coisa que se ouve é o barulho das rodas nos trilhos, muito mais suave do que qualquer motor de ônibus urbano. Até as conversas dentro do vagão são em voz mais baixa que o normal.
Outra característica é a inserção no ambiente urbano.
Na BaixadaSantista, o VLT anda num leito que já existia, quase como um trem, ligando Santos a São Vicente, com grama entre os trilhos.
No Rio de Janeiro, ao contrário, os trilhos circulam em meio ao burburinho da cidade, nas ruas, entre a Estação Rodoviária e o Aeroporto, passando pela avenida Rio Branco e até dentro da praça Mauá. Parece Zurique, na Suiça, onde o bonde urbano é parte da paisagem urbana há décadas. Mas é no Rio. E funciona bem.
Em alguns lugares, a estação é parecida com a de um terminal. Em outros, como na Rio Branco é apenas uma parada, inserindo-se sem alarde na paisagem.
O pagamento é feito através de um cartão, o RioCard Mais, que o usuário valida numa dessas maquininhas logo ao entrar no vagão. Pelo que vi, a concessionária está combatendo a sonegação, pois, em todas as viagens há fiscais, que se apressam a avisar os esquecidos para validar o bilhete. Em uma dessas viagens, um homem discutiu com o fiscal até reconhecer que não tinha nem bilhete e saiu do vagão, resignado.
Por um sistema de VLT em São Paulo
São Paulo poderia se inspirar nessas experiências. Afinal, já tivemos nossa enorme rede de trilhos de bondes, que chegou a 240 km na década de 1950 e que mantinha a cidade densa e conectada.
A rede de trilhos foi sendo tapada pelo asfalto até sua total extinção em 1967. Hoje, faria sentido pensar na volta do antigo bonde, repaginado como VLT, principalmente em lugares de alta densidade, onde as pessoas circulem a pé, com muitas paradas. Há pelo menos uma região em que o VLT seria a solução ideal: o Centro da Cidade, pelas seguintes razões:
1. Temos volume potencial de passageiros
Pelo centro, já circulam milhões de pessoas a pé por dia, nas calçadas e calçadões, girando entre as várias estações, escritórios e lojas. Além disso, há pessoas que chegam de carro e param nos estacionamentos do perímetro. Parte desse movimento poderia ser absorvido pelo VLT que tem essa característica de levar as pessoas para lugares próximos ser fácil de chegar e fácil de sair, numa velocidade compatível com o trânsito de pedestres e bicicletas.
2. Estamos discutindo o futuro do Centro de São Paulo
A cidade está discutindo agora o Projeto de Intervenção Urbana (PIU) Setor Central, um plano ambicioso de pensar alternativas para aumentar a atratividade do centro. Na audiência pública do dia 27 de novembro, o diretor da SP Urbanismo, Leonardo Castro comentou que um dos desafios do projeto são as barreiras existentes para a circulação de pessoas – os rios Tietê e Tamanduatéi, as vias expressass e os trilhos da CPTM. Para melhorar a mobilidade, estão previstas 13 novas transposições. O VLT pode ser um dos elementos para recosturar esses lugares, como a ligação entre a colina histórica e o Brás, ou entre os terminais de ônibus.
3. O VLT tem histórico de propostas
O VLT já tem sido mencionado em vários projetos, como parte das possíveis soluções para o centro. Dois anos atrás, quando a Prefeitura anunciou algumas ideias organizadas pelo urbanista Jaime Lerner, o VLT fazia parte do pacote.
As ideias não se transformaram em projetos mas estão sendo analisadas no contexto do PIU Centro. Existe até uma MIP (Manifestação de Interesse Privado) feita pela fabricante de equipamentos de transporte Alstom. O estudo mostra que há demanda suficiente para a viabilidade econômica do VLT (220 mil passageiros/dia).
4. Inserção na paisagem urbana
O VLT não emite poluentes, é silencioso e permite a convivência com outros meios de transporte e, principalmente, pedestres, com mais ou menos segregação aos trilhos. Desde o Plano de Avenidas, o Centro já é contornado por um círculo viário – a rótula e a contra-rótula. Parte desse percurso pode até ser usada para o tráfego dos VLTs.
A proposta da Alstom sugere um trajeto de aproximadamente 17 km, num formato que envolveria o centro e permitiria o acesso aos terminais do entorno. A vantagem é que esse é um transporte que não destrói a paisagem do entrono. Que tal descer a avenida São João e chegar até o Teatro Municipal num vagão agradável e silencioso?
Há dificuldades, claro.
O VLT não é considerado um transporte de alta capacidade, apesar de cada vagão, levar em tese até 400 passageiros contra 80 de um ônibus convencional. Além disso, não é barato. Uma rede de trilhos no Centro demandaria investimentos na ordem de R$ 1 bilhão de reais, segundo a MIP.
Conversei com o Secretário de Desenvolvimento Urbano de São Paulo, Fernando Chucre, sobre isso. Ele também valoriza o VLT como ideia, mas acredita que o custo possa vir a ser um impedimento. Segundo ele, o mais importante é substituir os ônibus poluentes do centro, até com ônibus elétricos, numa rota pré-estabelecida ao redor do centro – os VLP´s (Veículos Leves sobre Pneus), quem sabe até como parte da estrutura atual de ônibus da cidade.
Ainda é preciso pensar num sistema de pagamento, que seja integrado ao sistema do bilhete único, o que gera a necessidade de mais algumas contas, mas se há demanda e se há vontade política, certamente conseguiremos implantar.
Num momento em que a cidade discute o futuro do lugar mais importante e simbólico da cidade para as próximas décadas, faz sentido fomentar ideias um pouco mais ambiciosas e estudar soluções que possam realmente melhorar a urbanidade no centro.
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