Recordes negativos na economia

Com enormes perdas em vendas, produção e geração de lucros, o setor industrial enfrentou o pior mês de março em dez anos, segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI). O coronavírus tem causado estragos bem maiores que os da recessão de 2015-2016, segundo os dados conhecidos até agora. Além disso, os primeiros trancos da crise derrubaram, além dos negócios, a expectativa dos empresários em relação aos próximos meses. Não só na indústria, mas também no comércio, nos serviços e na construção, despencaram os índices de confiança, de acordo com sondagens da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Esses primeiros balanços confirmam o forte impacto da pandemia na maior parte das atividades. Só a agropecuária parece ter sido poupada, ou afetada menos severamente, pelas limitações decorrentes da pandemia. No começo de maio sairão os dados oficiais, coletados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, sobre os níveis de atividade nos setores urbanos em março, quando a economia foi atingida pela covid-19. Mas o quadro geral já é claro.

Com um tombo de 14,3 pontos em relação ao nível de um ano antes, o índice de evolução do produto industrial chegou a 33,3 pontos em março, segundo a CNI. Ficou bem abaixo, portanto, da linha de 50 pontos, fronteira entre os territórios positivo e negativo. Na série iniciada em 2010, o pior mês de março havia sido o de 2016, na fase mais feia da recessão, com índice de 47,2. O uso da capacidade instalada caiu para 58%, o menor nível de todos os meses nos últimos dez anos.

O emprego caiu bem menos que a produção. A queda foi de 48,5 pontos para 44,6 entre março de 2019 e março deste ano. As empresas, lembra a CNI, puderam recorrer a ajustes temporários, como redução da jornada, suspensão de contratos e férias coletivas. Foi um efeito das primeiras medidas do Executivo para frear o desemprego. Mas o resultado dessas medidas, já restrito, vai depender da duração e da intensidade das limitações econômicas.

Além disso, se os negócios forem reativados de forma precipitada, o rebote da epidemia e da crise econômica poderá ser muito grave. O presidente da República, outros políticos, muitos empresários e até trabalhadores parecem desconhecer ou desprezar esse risco, apontado por epidemiologistas e levado em conta por analistas econômicos de respeito.

Cabe, por enquanto, avaliar os danos já causados e planejar a retomada. Um quadro amplo dos estragos é proporcionado pelos indicadores de confiança produzidos pela FGV. Segundo a sondagem de abril, o Índice de Confiança da Indústria (ICI) caiu 39,3 pontos em um mês e chegou a 58,2 pontos, com desconto dos efeitos sazonais. Os dados indicam a maior queda mensal e o menor nível da série iniciada em 2001.

O recuo foi registrado nos 19 segmentos industriais cobertos pela pesquisa e foi puxado pelo Índice de Expectativas, com perda de 46,6 pontos, para o nível de 49,6. O Índice de Situação Atual caiu 31,4 pontos e chegou a 67,4. Todos esses níveis são os mais baixos da série. Nessa pesquisa, o número 100 divide os territórios positivo e negativo. O uso da capacidade instalada, medido em porcentagem (57,3%), também foi o mais baixo desde 2001. Também a sondagem da FGV mostra, por enquanto, danos maiores que os da recessão no último governo petista.

Duros abalos no varejo e nos serviços são também mostrados. No caso do comércio, a pesquisa ressalta as informações acumuladas de março e de abril. Em março, parte do varejo ainda cresceu, antes do isolamento social. No acumulado, só há um dado levemente positivo para hiper e supermercados, com ganho de 0,1 ponto. No conjunto do comércio houve baixa de 31,7 pontos. Na construção, o índice de confiança caiu 25,8 pontos em abril, queda recorde, e bateu em 65, nível mais baixo da série. Também nos serviços foi atingido o menor nível, de 51,1 pontos, da pesquisa iniciada em junho de 2008. Sobra um dado positivo: nos setores urbanos a ampla capacidade ociosa poderá facilitar a recuperação, se nenhuma grande imprudência for cometida.

Fonte: https://opiniao.estadao.com.br/noticias/notas-e-informacoes,recordes-negativos-na-economia,70003287825

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