Foi o primeiro investimento após um intervalo de nove anos e o fim desse hiato precisa ser considerado. Mas além de ser pouco – muito pouco para a dimensão dos problemas antigos e cada dia maiores -, os R$ 22,8 milhões que o Metrô do Recife vai receber do governo federal deveria estar sendo utilizado de outra forma. Em soluções mais emergenciais para a operação diária, extremamente comprometida pela falta de investimentos. Essa é a percepção de alguns metroviários. Há, inclusive, leituras de que o sistema segue sendo utilizado politicamente.
A destinação de 60% dos recursos (14,1 milhões) para a construção da segunda ponte ferroviária da Linha Diesel, operada pelo VLT, no Cabo de Santo Agostinho, foi o alerta. Na visão de quem faz o metrô rodar todo dia, é um equívoco estar usando esse dinheiro no projeto. Funcionários ouvidos em reserva pela reportagem e o Sindicato dos Metroviários (SindMetro) defendem que o dinheiro deveria ser aplicado, por exemplo, na compra de equipamentos imprescindíveis a uma operação segura. É o caso dos veículos de manutenção de via permanente, alinhamento de trilho, socagem de brita, e da rede aérea, que estariam quebrados há algum tempo. Segundo esses mesmos profissionais, com aproximadamente R$ 10 milhões de reais seria possível substituí-los.
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Já a ponte sobre o Rio Pirapama vai levar um ano para ser construída. Mas, segundo o atual superintendente da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) no Recife, Carlos Fernando Ferreira, ela reduzirá em mais da metade o intervalo do VLT entre Cajueiro Seco (Jaboatão dos Guararapes) e o Cabo de Santo Agostinho, cidades da Região Metropolitana do Recife. Esse é o principal argumento da atual gestão do sistema. São nove anos sem investimentos e entendemos que, com a construção da segunda ponte, estaremos cumprindo o papel de vetor da Região Metropolitana do Recife, que é papel do transporte público, especialmente o sobre trilhos. Hoje, o intervalo da Linha Diesel é de quase uma hora. Com a nova ligação, cairá para 20 minutos. O sistema será mais atrativo para o passageiro. Além disso, esses recursos estão sendo liberados num momento difícil como o que estamos vivendo, pontua o superintendente do metrô. Uma primeira ponte, também de ferro, está quase pronta. Deverá ser finalizada em no máximo um mês. Juntas, totalizam R$ 25 milhões.
A Linha Diesel, no entanto, transporta 5 mil passageiros por dia. Enquanto as Linhas Centro – com seus dois ramais para Camaragibe e Jaboatão dos Guararapes – e Sul transportam 350 mil pessoas diariamente. E estão repletas de problemas resultantes dos mesmos nove anos sem receber dinheiro para investimentos. A colisão de dois trens em fevereiro de 2020, que deixou 60 feridos e, por sorte, não provocou mortes, é um dos exemplos citados pelos defensores da melhor utilização dos recursos. Embora as primeiras investigações tenham apontado que houve distração da maquinista, as falhas no sistema de sinalização do metrô também foram identificadas, algo denunciado oficialmente pelos maquinistas e que é resultado da ausência de manutenção.
A ponte é importante, não vamos negar, mas no momento há outras prioridades. Precisamos garantir a segurança da operação do sistema para nossos passageiros, melhorar esse funcionamento. Por isso a compra dos novos veículos é tão importante. A passagem aumentou e o nosso usuário não vê nenhuma melhoria. Ao contrário. Destinar esse recurso, agora, na atual situação, para a construção da ponte é um exemplo de decisão política, sem qualquer embasamento técnico. Sabemos que manutenção não dá visibilidade. O contrário de obras físicas, argumenta um metroviário.
De fato, temos problemas mais urgentes do que a reestruturação da rede do metrô. Recuperando esses carros de manutenção conseguimos uma ajuda enorme na infraestrutura da via permanente. E isso é muito mais importante porque oferece segurança à operação. Também é preciso Investir na estrutura das estações. Por isso tudo é difícil não fazer associação política, argumenta Adalberto Ferreira, presidente do SindMetro.
Os R$ 8,7 milhões restantes serão utilizados para a troca da cobertura de seis estações e do Centro de Manutenção da Linha Centro (R$ 8,2 milhões) – isso aprovado pelos metroviários – e R$ 551,6 mil na acessibilidade das estações do Cabo de Santo Agostinho. As estações da Linha Centro que terão a cobertura recuperada são: Engenho Velho, Alto do Céu, Barro, Werneck, Santa Luzia e Afogados.
A CBTU Recife transporta, em média, 338 mil passageiros por dia e atende, além da capital pernambucana, os municípios de Jaboatão dos Guararapes, Camaragibe e Cabo de Santo Agostinho. O sistema conta com 71,4 quilômetros de linhas férreas, 36 estações e 15 terminais de integração.
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