A recepcionista Rita de Cássia de Souza, de 28 anos, costuma sair de casa com duas horas de antecedência para não se atrasar na chegada ao trabalho, no Centro do Rio. O motivo: não confia nos horários da SuperVia. Mesmo com a precaução, nesta terça-feira foi por pouco. Apesar de ter embarcado no trem em Gramacho às 6h, desembarcou na Central do Brasil somente às 8h30, com uma hora e meia de atraso. Em dias normais, sem nenhum transtorno, o que é uma raridade, a viagem termina por volta das 7h. Atrasos, superlotação, tiroteio e até chuva dentro do vagão são dramas diários de quem usa o transporte ferroviário no Rio.
– Cheguei na estação por volta das 6h e entrei no trem que deu partida às 6h15. Ele foi se arrastando e, em cada estação que chegava lotava ainda mais, além de ficar parado cerca de 10 minutos. Em Ramos demorou mais: foram 40 minutos. Infelizmente, um desconforto muito grande, por conta da aglomeração e também pelo atraso – reclamou a passageira.
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A irregularidade desta terça-feira foi provocada por um problema no sistema de sinalização nas imediações da estação Manguinhos e foi solucionado por volta das 9h40, por técnicos da SuperVia. Num informe divulgado no começo da manhã, a concessionária havia informado que o ramal de Belford Roxo, também tinha sido afetado.
Após acompanhar os comentários sobre a dificuldade enfrentada pelos amigos, num grupo de Whatsapp, Ana Paula do Nascimento Silva, de 38 anos, não pensou duas vezes: optou pelo ônibus para chegar no trabalho na Penha.
– Nem me arrisquei a pegar o trem. Vim de ônibus – disse.
A diarista Denise Fonseca, de 54 anos, pensa se mudar de Saracuruna, por conta dos problemas diários com transporte público. Ela contou que no sábado demorou quatro horas de viagem, em três conduções (trem e dois ônibus), entre o Maracanã e sua casa. Tudo, para fugir de um tiroteio na altura de Parada de Lucas que levou pavor aos passageiros de trem.
– Saí do trabalho às 6h e só consegui chegar em casa às 10h da noite. Estou doida para me mudar daqui. Trem só vive ruim. No domingo não funciona. É triste viver aqui e depender da SuperVia, sem contar que quase ninguém usa máscara nos vagões e pelo menos três vezees na semana dá problema nos trens – se queixou.
O tiroteio ao qual a pssageira se referiu foi na Avenida Brasil. A Polícia Militar informou, na ocasião, que tudo começou quando policiais do Batalhão de Policiamento em Vias Expressas (BPVE) foram acionados para verificar a informação de que um policial militar de folga teria entrado por engano em uma rua próxima à estação de Parada de Lucas e acabou dando de frente com bandidos armados. Imagens que circularam na internet mostraram passageiros achados dentro de vagões, para se proteger.
A semana acabou como começou para os usuários de trem. Na segunda-feira, um outros tiroteio ocorrido pela manhã interrompeu a circulação dos trens do ramal de Saracuruna por 15 minutos, entre 8h27 e 8h42. O confronto foi entre os bairros de Campos Elíseos e Gramacho, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, segundo informações da Polícia Militar.
Dados da SuperVia mostram qie desde o início do ano a operação do sistema de trens precisou ser alterada 22 vezes por conta de troca de tiros nas imediações da linha férrea. Desses casos, 17 ocorrências foram no ramal Saracuruna, três no ramal Belford Roxo e duas no de Santa Cruz.
– Todo dia é um problema diferente – lamentou Janete Monteiro, de 26 anos, que sofreu ontem para chegar ao trabalho. no Méier – O ramal Gramacho estava horrível esta manhã. Para variar atrasos e problemas de comunicação do maquinista com os passageiros. Parou várias vezes em algumas estações e demorava para sair – completou.
O gestor de logística Douglas Mendonça, de 32 anos contou que por conta dos atrasos viajou num trem lotado, que ficou parado 15 minutos na estação Gramacho.
A todos esses problemas se somou mais um: goteiras dentro de um vagão, num dia em que a chuva castigou a cidade. Uma foto postada na internet mostrava um homem se protegento com um guarda-chuva dos pingos de água que caiam dentro do trem. As imagens foram feitas em uma composição do ramal de Santa Cruz.
Sobre a goteira no vagão, a SuperVia informou que identificou a composição, que foi levada para oficina para os reparos necessários. A respeito da superlotação disse que tem monitorado a taxa de ocupação dos trens, que tem se mantido abaixo do percentual máximo de 60%, estabelecido pelo decreto estadual 47.228/20. Já com relação às interrupções por tiroteio, a concessionária lamentou esse tipo de ocorrência que coloca em risco passageiros e funcionários.
Veja a nota da SuperVia, na íntegra:
Divulgamos as informações sobre a irregularidade no ramal Saracuruna no informe de operação, que enviamos diariamente por volta das 6h. Foi uma ocorrência no sistema de sinalização, na imediações da estação Manguinhos. Os técnicos concluíram os reparos às 9h40 e, nesse momento, a circulação segue normal.
Sobre a goteira no trem do ramal Santa Cruz, a SuperVia identificou a composição e ela foi levada para a oficina para os reparos necessários. Além disso, a equipe de manutenção da concessionária está monitorando possíveis ocorrências de infiltração nas composições em função das chuvas que atingem pontos do estado do Rio de Janeiro, para inspeção e solução do problema no menor tempo possível.
A respeito da superlotação, a empresa tem monitorado com rigor a taxa de ocupação dos trens, que tem se mantido abaixo do percentual máximo de 60%, estabelecido pelo decreto estadual 47.228/20. A medição é baseada em critérios técnicos, definidos e fiscalizados pela Agetransp. Cabe lembrar que, por ser um transporte de alta capacidade, uma das principais características do trem é a maior quantidade de pessoas viajando em pé. Os assentos representam apenas cerca de 15% do total de lugares ofertados no trem, a depender do modelo da composição.
Quanto às interrupções por tiroteios, a SuperVia lamenta que esse tipo de ocorrência coloque em risco seus clientes e colaboradores e cause transtornos à circulação dos trens. Desde o início do ano, a operação já precisou ser alterada 22 vezes por conta de troca de tiros nas imediações da linha férrea. Desses casos, 17 ocorreram no ramal Saracuruna, 3 no ramal Belford Roxo e 2 no Santa Cruz.
A SuperVia lembra que trata-se de um problema de segurança pública e de competência do poder concedente. De acordo com o contrato de concessão, a segurança pública dentro do sistema ferroviário é de responsabilidade do Governo do Estado.
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