O ministro e as ferrovias da Bahia

Foto: Elói Corrêa - Gov-BA

Em se tratando das ferrovias da Bahia, o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas, está fazendo festa com pouco presente. Na semana passada, por exemplo, levou o presidente Jair Bolsonaro ao oeste para anunciar a construção pelo Exército de 18 km da Fiol – Ferrovia Oeste-Leste, o que representa apenas 0,04% do trecho entre Barreiras e Caetité e 0,01% da ferrovia toda. Depois anunciou que, de um total de R$ 9 bilhões que a Vale vai pagar pela renovação da concessão de duas ferrovias, R$ 400 milhões, ou cerca de 4,5%, seriam aplicados na fase III da Fiol que sequer começou. Mas os problemas são muito maiores. Além da Fiol, a Bahia tem em seu território uma ferrovia importantíssima, com um trecho que liga a região metropolitana de Salvador a Paulínea, em São Paulo – que transporta produtos petroquímicos, insumos, motores e outros produtos -, e com outros ramais dentro da Bahia, todos operando mas sem investimentos há décadas. Trata-se da FCA – Ferrovia Centro-Atlântica, controlada pela VLI Logística, que tem a Vale como sócia. Pois bem, o Ministério da Infraestrutura negociou a renovação da concessão da FCA e em troca vai receber cerca de 4,5 bilhões em investimentos, mas desse total alocou apenas 7% para a Bahia, embora as ferrovias no estado estejam em estado crítico. O mais grave é que esse investimento minguado não foi alocado na recuperação das ferrovias da FCA, mas destinados para a fase III da Fiol, um trecho que nem sabe ainda que trajeto vai ter. Ora, recursos advindos da outorga da FCA devem ir para investimentos na malha da FCA e destinados à modernização da própria ferrovia, a construção do canal de tráfego ligando Camaçari ao Porto de Aratu, a modernização do ramal ferroviário Alagoinhas-Juazeiro, que está abandonado, e a solução do maior gargalo ferroviário do país: a ponte entre Cachoeira e São Félix. Aliás, alguém precisa dizer ao ministro e ao presidente que a única ligação ferroviária entre o Nordeste e Sudeste do Brasil foi construída pelo imperador D. Pedro II, e basta ver o trem passar para se voltar ao século XIX. E o descaso com a Bahia tem sido tão grande que o valor das multas impostas à FCA pelo abandono das ferrovias na Bahia foi usado para a construir o metrô de Belo Horizonte. Em resumo: é bom que o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas, garanta a construção de um pedacinho da Fiol, é bom que estimule o empresariado baiano a fazer pressão junto ao TCU pela liberação do processo que está impedindo a licitação do trecho entre Ilhéus e Caetité, mas, em se tratando do sistema ferroviário da Bahia, isso é quase nada.

Ferrovias e o governo do estado

O secretário de Infraestrutura da Bahia, Marcus Cavalcanti, vem lutando pela implantação da Fiol, mas, segundo ele, os recursos da renovação da concessão da FCA não deveriam ser destinados a outras obras. É preciso estabelecer uma agenda de investimentos obrigatórios na malha da própria FCA na Bahia, que há décadas não tem investimentos. Além disso, na divisão do valor arrecadado com a renovação da concessão,  a Bahia não pode ficar com apenas 10% do total de recursos, afirmou. Cavalcanti lembra ainda que o governo federal precisa discutir o melhor trajeto do trecho III da Fiol, pois estudos mostram que Figueirópolis não é o destino ideal sob o ponto de vista econômico.

De Posto Ipiranga a Rolando Lero

O ministro da Economia, Paulo Guedes, antes conhecido como Posto Ipiranga, agora está sendo chamado no meio empresarial de Rolando Lero, por conta dos projetos liberais que defende e nunca concretiza. Guedes, que prometeu o maior programa de privatização da história, não privatizou uma estatal sequer e vai entrar nos compêndios de economia como o  único liberal cuja ideia fixa é o aumento de impostos. E agora  jogaram uma pá de cal no liberalismo guediano, com o Ministério da Justiça exigindo planilhas aos supermercados por conta do preço do arroz e o presidente Bolsonaro proibindo a equipe econômica de pensar em qualquer redução em projetos sociais. É ocaso do homem de Chicago.

Fonte: http://atarde.uol.com.br/coluna/armandoavena/2138989-o-ministro-e-as-ferrovias-da-bahia-premium

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