Depois de fechar oficialmente, na noite de terça-feira, a operação de venda de ações da Suzano, na qual levantou R$ 6,91 bilhões, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) espera concluir outra grande oferta no começo do ano que vem. O BNDES contratou sindicato de bancos liderado pelo Bradesco para vender R$ 6 bilhões em debêntures da Vale detidas pela própria instituição de fomento e pela União. São títulos da época da privatização da mineradora, no fim dos anos 1990, e que pagam royalties associados a algumas minas que, na época, ainda não produziam.
A emissão das debêntures foi a forma encontrada na privatização da Vale para capturar valor e fazer com que a empresa, quando passasse a produzir nessas minas, pagasse royalties à União, disse ao Valor o diretor de privatizações do BNDES, Leonardo Cabral.
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Ele afirmou que o BNDES vem trabalhando com os bancos privados contratados para precificar as debêntures de Vale no começo de 2021. A ideia é fazer a venda conjunta das debêntures detidas pelo banco e pela União. Qualquer outra oferta de ações de empresas da carteira da BNDESPar, o braço de participações societárias do banco, vai depender das condições de mercado, disse Cabral. Ele insistiu que o banco não tem pressa na venda de ações de companhias participadas e que o horizonte final desse desinvestimento é 2022, ano em que termina o mandato de Jair Bolsonaro e em que haverá novas eleições presidenciais.
No que vai deste ano, porém, e apesar das dificuldades impostas pela pandemia, o BNDES vendeu R$ 42 bilhões em ações. A conta considera a venda de R$ 22 bilhões em ações ordinárias de Petrobras, em fevereiro; de R$ 8,1 bilhões de Vale, em agosto; e os R$ 6,9 bilhões de Suzano este mês. Além dessas transações, houve operações menores, como a venda da participação de 1,45% em ações preferenciais que a BNDESPar tinha em Gerdau, avaliada, em 30 de junho, em R$ 398 milhões.
Ainda assim, depois dessas operações, a carteira de participações societárias do BNDES totalizava, no fim de setembro, R$ 75 bilhões. O número inclui ações de empresas não coligadas, precificadas a valor justo; coligadas, que entram na conta por equivalência patrimonial; e otas de fundos de investimento. Para todo esse universo, possíveis vendas dependem das condições de mercado. Ao ser perguntado sobre prazos, Cabral repete frase, que se transformou em espécie de mantra: Não temos pressa de vender, se o mercado não está favorável, a gente segura e recua; o prazo final é 2022.
Essa lógica se aplicou à venda da posição que o banco tinha em Suzano. O BNDES vendeu 100% dos 11,04% que mantinha na companhia, o equivalente a 150.217.425 ações ordinárias. A operação incluiu 13.180.000 American Depositary Shares (ADS). A oferta global foi precificada a R$ 46 por ação, totalizando R$ 6.910.001.550,00.
Cabral disse que houve demanda superior a três vezes a oferta base. Na visão dele, foi uma oferta emblemática dadas as condições de mercado. Conseguimos todos – BNDES, sindicato de bancos e companhia – realizar uma oferta que teve bastante sucesso; conseguimos um preço interessante para o BNDES e um aumento da base de acionistas para a companhia.
Quem comprou foi, sobretudo, o investidor institucional e metade da transação foi colocada com investidores estrangeiros, seja via ADRs, na bolsa americana; como diretamente na B3. Grande parte da liquidez de Suzano está no Brasil, disse Cabral. A decisão de vender Suzano foi tomada em 15 de agosto, poucos semanas depois de o banco ter realizado a venda de ações de Vale na bolsa brasileira.
Depois de atingir o piso de R$ 30 por ação no início da crise derivada do coronavírus, a ação de Suzano, uma das referências no Brasil em termos de agenda ESG (políticas sociais, ambientais e de governança), tinha se recuperado chegando a negociar a R$ 45, R$ 50 por ação de forma constante, o que deu conforto ao banco para realizar a operação. No meio do caminho, no entanto, o mercado virou, diz Cabral. Mas o banco decidiu continuar com a operação.
Houve queda-de-braço com os investidores para chegar ao preço final da oferta. O BNDES disse aos bancos que não venderia a ação por R$ 44, preço indicado na formação do livro, e conseguiu-se chegar a R$ 46, o que era a meta do banco. A operação foi coordenada por um sindicato liderado pelo J.P. Morgan, teve ativa participação da administração da Suzano e foi concluída no prazo de 45 dias, disse Cabral. Ao todo houve conversas com cerca de 150 investidores.
A curto prazo, porém, os sinais são de cautela. A BNDESPar ainda detém cerca de 900 mil ações preferenciais de Petrobras as quais, somadas a um lote pequeno de ordinárias que o banco ainda possuía na companhia em 30 de junho, perfaziam 7,04% do capital da petroleira. A fatia era avaliada em R$ 19,7 bilhões no fim do primeiro semestre. Hoje não tem nenhum esforço de venda de Petrobras, seja em diretoria ou no conselho do BNDES, disse Cabral.
Na Vale, além das debêntures, o banco ainda possui 3,57% das ações da mineradora. Antes da venda do outro lote de ações da empresa, em agosto, a fatia em Vale chegava a 6,2%. Depois da operação, o BNDES se comprometeu com o Bank of America (Bofa), que realizou a transação, a não vender a posição remanescente em Vale por 90 dias. Esse prazo termina no começo de novembro, quando também expira o acordo de acionistas da mineradora, o que vai liberar os atuais controladores da empresa a venderem suas ações. Depois dessa data estaremos livres para vender quando acharmos adequado, disse Cabral. Ele reconheceu, porém, que nos atuais patamares de preço da ação de Vale (R$ 60,40 ontem) o banco não tem interesse de vender.
Outra ação em carteira para venda é JBS, cuja operação depois de começar no ano passado está no momento em compasso de espera. Na Klabin, na qual o BNDES tem 7,54% do capital, o banco não fará qualquer movimento enquanto não for definida a discussão com os controladores sobre o pagamento de royalties pelo uso da marca da companhia. Ações de Eletrobras, que também formam a carteira da BNDESPar, dependem da inclusão da companhia no Programa Nacional de Desestatização (PND) para serem vendidas.
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