José Vicente Faria Lima, brigadeiro do ar, o mais paulista dos cariocas. O protagonista do último episódio desta temporada de Política que Marca governou São Paulo entre 1965 e 1969, deixando um legado essencial para o futuro da cidade.
Responsável pela criação do Metrô, pelo término das Marginais do Tietê e do Pinheiros e ainda pelo projeto da avenida que hoje leva o seu nome, Faria Lima, como prefeito da cidade, também acompanhou os últimos acabamentos de um dos marcos arquitetônicos da cidade: o Edifício Copan.
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Nascido em Vila Isabel, no Rio, o mais velho de cinco irmãos fez carreira na Força Aérea Brasileira (FAB) antes de entrar para a política. Com fama de bom administrador, virou presidente da Vasp, aliado de Jânio Quadros e candidato a suceder a nada menos do que Francisco Prestes Maia.
A vitória veio logo na primeira tentativa. Assumiu o cargo de prefeito em 8 de abril de 1965. No ano seguinte criaria a Companhia do Metropolitano de São Paulo, o Metrô, desafiando o monopólio do modelo rodoviarista que imperava na cidade desde os anos de 1930.
Mas, segundo o arquiteto, urbanista e professor Cândido Malta, o prefeito exagerou no otimismo. O plano original previa 360 km de linhas e mais de 50 anos depois não alcançamos nem um terço disso.
Diante do rápido crescimento da capital – em 1968 o número de habitantes estava em 5,8 milhões -, Faria Lima também deu início aos estudos do primeiro plano urbanístico de São Paulo e definiu a criação das administrações regionais, atualmente chamadas de subprefeituras.
Além das estações de metrô e da reorganização administrativa, Faria Lima também investiu em vias para carros. E não foram poucas. Fez a atual Avenida Brigadeiro Faria Lima e a ligação entre as Avenidas 23 de Maio e Rubem Berta, facilitando o acesso ao Aeroporto de Congonhas. Duplicou as Avenidas Rebouças, Rio Branco, Sumaré e Pacaembu, por exemplo. Isso sem falar na Radial Leste, que finalmente saiu do papel.
E foi na gestão dele que um dos marcos da arquitetura de Oscar Niemeyer na capital mudou a cara do centro. Com a abertura do Edifício Copan, o modelo imobiliário de São Paulo ganhou novas tipologias e usos, como narra o sétimo podcast de Política que Marca.
O que poucos sabem é que o prédio quase foi erguido com um desenho, pode-se dizer, tradicional. O primeiro projeto previa uma obra de linhas retas, com tijolinhos aparentes. Quem revela como se deu a mudança é o colega de Niemeyer, o arquiteto responsável pela obra, Carlos Lemos.
Hoje são cerca de 5 mil moradores em apartamentos dos mais variados tipos. Há 19 tipos de plantas para os interessados em morar no prédio da grife Niemeyer.
Gente como a publicitária Polliana Mattos que, desde criança, sonhava em se mudar pra lá.
Eu olhava o tamanho do prédio e falava, imagina a quantidade de gente que mora aí, é aí que eu tenho que morar. E eu ainda continuo apaixonada pelo prédio, acho que muito por isso assim, pela quantidade de histórias e pessoas que o prédio carrega, diz.
No minidocumentário produzido pela TV Estadão sobre o Copan, os moradores destacam a praticidade de se ter tudo à mão, já que o térreo funciona como uma galeria com padaria, salão de beleza, café, lojas e restaurantes.
O mais famoso deles, o Bar da Dona Onça, ajudou a recuperar a autoestima do prédio, que hoje carece de uma reforma na fachada.
O marido da dona, Jefferson Rueda, que também é chef como Janaína Rueda, conta que o casal gosta tanto do prédio que já morou lá e fala da necessidade de se valorizar a história do centro.
Bem antes de o Copan ficar pronto, ainda no lançamento, em 1952, as páginas do Estadão já publicaram os anúncios do conjunto, chamado naquela época de o Rockefeller Center de São Paulo, em alusão ao Rockefeller Plaza, de Nova York.
Estudioso da obra de Niemeyer, o arquiteto Rodrigo Cristiano Queiroz, professor da USP, lembra que o Copan demorou 16 anos para ficar pronto, mas segue atual.
Eu acho que, quase 70 anos depois do projeto original do Copan, é interessante notar como determinadas virtudes desta construção, deste projeto se dá não só pela sua originalidade formal, mas principalmente pela maneira de como ele se relaciona com a cidade. Acaba se tornando um paradigma para essa vida contemporânea.
Pouco depois da inauguração do Copan, em 1966, outros dois marcos de São Paulo ficaram prontos: a Praça da Sé e a Catedral Metropolitana de São Paulo. O pároco da catedral, padre Luiz Eduardo Pinheiro Baronto fala da importância de ambos:
A Praça da Sé é o marco zero da cidade, é onde praticamente a partir deste ponto a cidade toda se desenvolve. A Catedral em si é um marco referencial para a cidade, está muito ligada a grandes importantes movimentos políticos da cidade, do País.
Inaugurada na fase de maior repressão da ditadura, após o Ato Institucional número 5 (AI-5), a catedral recebeu os primeiros movimentos da campanha pelas Diretas-Já!, anos depois, em 1984.
Faria Lima talvez pudesse ter evitado todo esse longo processo pela retomada pela democracia se não tivesse morrido de infarto no início de 1969. Apontado como um nome para assumir a Presidência durante a ditadura – por ser militar -, o ex-prefeito de São Paulo não era um radical, apesar de apoiar o regime.
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