A Latache Capital, que investe em empresas em dificuldades, apresentou uma proposta de compra por toda a Invepar, apurou o Valor com fontes próximas ao processo. A oferta teria sido feita dias antes da conclusão do acordo de reestruturação, anunciado em 28 de setembro.
De acordo com fontes, a oferta da Latache não está condicionada a um desfecho favorável à Invepar em relação à Linha Amarela S.A. (Lamsa), via expressa que liga a zona norte do Rio à Barra da Tijuca, na zona oeste da capital fluminense. Em meados de setembro, o prefeito do Rio, Marcelo Crivella, em decisão garantida pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), determinou a encampação da Lamsa. A empresa recorreu da decisão.
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Conforme o acordo de reestruturação, a Invepar vai entregar dois de seus principais ativos, a Lamsa e o Metrô do Rio, aos credores, que são os fundos de pensão Previ, Petros e Funcef, além dos investidores Farallon e Mubadala. Eles são donos de debêntures da companhia. Mas Mas esse negócio está condicionado à devolução da Lamsa para a Invepar.
Segundo fontes, o acordo firmado com os credores contém uma cláusula chamada go shop, que dá direito à Invepar de procurar, por um período de 90 dias, uma proposta que seja mais vantajosa para ela. Os credores avaliaram o Metrô do Rio e a Lamsa em R$ 2,1 bilhões. Se, por exemplo, a Invepar encontrar algum interessado em pagar mais pelos ativos, poderá vendê-los, pagar os credores com dinheiro e ainda conseguir recursos para o caixa.
A proposta da Latache também está na mesa, mas foi considerada por acionistas e credores como ultrajante, nas palavras de uma fonte. Os acionistas da Invepar são os mesmos fundos de pensão credores mais o Fundo de Investimento em Participações (FIP) Yosemite, que reúne os antigos credores da OAS.
O Valor apurou que a Latache considerou a Invepar com um valor negativo de R$ 3 bilhões. A partir dessa premissa, avisou aos acionistas que, para eles, não há dinheiro nenhum. O único ganho poderia ver para os debenturistas, mas no futuro. A Latache compraria esses títulos de dívida, com deságio, e entregaria uma opção de compra (warrant) de ações da companhia. Ou seja, os negócios dando certo, numa retomada mais à frente, eles poderiam conseguir alguma valorização.
No acordo já divulgado, apesar de entregar dois grandes ativos, a Invepar mantém outros, como por exemplo o Aeroporto de Guarulhos. Além disso, os acionistas mantém uma pequena participação, próxima a 5% no Metrô do Rio e em Lamsa, e ficam com uma empresa com R$ 230 milhões em caixa. Na visão dos acionistas, apurou o Valor, essa companhia não pode jamais ser avaliada a zero. Por isso, consideraram a proposta da Latache como muito ruim. O maior prejudicado seria o FIP Yosemite, que não tem debêntures da Invepar e sairia sem nada nessa transação.
As dificuldades da Invepar se agravaram em maio do ano passado, quando a OAS, então sua acionista de referência, teve de entregar sua participação aos credores. A Invepar ficou acéfala e viu seus ativos, ligados à mobilidade urbana, serem duramente atingidos pela pandemia. Não restou outra opção, até o momento, além de entregar ativos e desalavancar a holding, para poder focar no Aeroporto de Guarulhos.
A Latache é um fundo de investimentos que procura oportunidades em empresas em dificuldades – normalmente oferece pouco pelo ativo e pretende recuperá-lo para vender depois. Em meados do ano, ela ficou no controle da Rodovias do Tietê, em recuperação judicial.
Procurados pelo Valor, Invepar, Latache, Yosemite e os fundos de pensão não deram entrevista.
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